Deputado do DEM foi eleito com apoio da antiga oposição a Dilma Rousseff; aliado de Temer, Maia indica que não será hostil a Cunha
A vitória de Rodrigo Maia (DEM-RJ) para a presidência da Câmara dos Deputados representa o triunfo da antiga oposição à presidenta afastada Dilma Rousseff. Eleito com o apoio do PSDB, do PPS, do PSB e, obviamente, do DEM – além de setores do PT –, Maia coloca partidos tradicionais no centro do poder e garante sobrevida à própria sigla.
O primeiro compromisso do novo presidente da Câmara foi uma visita ao presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves (MG), na manhã desta quinta-feira 14. Após o encontro, Maia disse que o tucano foi fundamental para sua vitória.
“Eu não podia deixar de, assim que saísse de casa, visitar quem construiu comigo na base essa vitória. E essa vitória eu devo, claro, a todos, mas na origem ao senador Aécio Neves, que foi quem, por ter sido presidente da Câmara e por conhecer o processo legislativo, me ajudou a compreender e costurar as alianças”, disse Maia.
Aécio retribuiu a gentileza e disse que a eleição do deputado do DEM “oxigena a política brasileira”. Nos bastidores é dito que o apoio do PSDB foi condicionado ao apoio do DEM para uma candidatura tucana em fevereiro de 2017, quando o novo presidente da Câmara será eleito para um mandato de dois anos.
Embora não fosse o favorito de Michel Temer (PMDB), a eleição de Maia também agrada o presidente interino. O Planalto temia uma vitória do peemedebista Marcelo Castro (PI), que foi ministro da Saúde de Dilma e estava alinhado com o PT. Oficialmente, Temer afirma que não interferiu no processo, mas o governo agiu para levar Maia e Rogério Rosso (PSD-DF) para o segundo turno – e conseguiu.
Nesta quinta-feira, Maia afirmou que vai trabalhar pela união da base de Temer. “Hoje nós temos uma base do governo, com 400 deputados. Não vamos separar mais a base entre a antiga oposição e o chamado ‘centrão’. Isso gerava divisões desnecessárias e atrapalhava o Brasil. Vamos trabalhar em conjunto com os líderes para que o governo tenha uma base unida. Ninguém é do bloco A ou do bloco B. Temos um projeto de governo e a base precisa trabalhar junta”, disse.
Entre as prioridades da pauta na Câmara o presidente da Casa citou a agenda econômica e temas da reforma política, esta última um pedido de Aécio, que entregou a Maia uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que prevê, por exemplo, o fim das coligações proporcionais.
Rodrigo Maia votou a favor do impeachment, mas isso não impediu que ele tivesse o apoio de petistas. O PT chegou a prometer votos ao deputado do DEM no primeiro turno, mas acabou apoiando a candidaturas de Marcelo Castro, que votou a favor de Dilma. Em um de seus discursos, Maia disse que “sem a esquerda não venceríamos esta eleição”.
Em sua página no Facebook, o senador petista Lindbergh Farias (RJ) criticou o apoio de setores progressistas ao candidato do DEM. “Eu não consigo entender como alguém de esquerda fica feliz com a vitória de Rodrigo Maia”, disse. “Rodrigo Maia é do DEM. Vai votar pela retirada de direitos dos trabalhadores”, continuou Farias.
Eduardo Cunha
Bloco criado para dar suporte ao ex-presidente Eduardo Cunha (PMDB-RJ), hoje afastado do mandato pelo Supremo Tribunal Federal, o “centrão” sai enfraquecido da disputa na Câmara. Formado por 13 partidos (PP, PR, PSD, PTB, PRB, PSC, PHS, Pros, PSL, PTN, PEN, PTdoB e Solidariedade) que somam quase 220 deputados, o grupo lançou Rogério Rosso (PSD-DF) à presidência da Casa, mas a constatação de que este seria o homem de Cunha prejudicou a candidatura do “centrão”.
Um dia depois de ver seu candidato derrotado, Cunha sofreu mais um baque. Nesta quinta, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara rejeitou todos os recursos do peemedebista, abrindo o caminho para que seu processo de cassação seja julgado no plenário.
A derrota de Cunha na CCJ foi acachapante. O relatório do deputado Ronaldo Fonseca (Pros-DF), que recomendava a devolução do processo ao Conselho de Ética, foi derrubado por 48 votos contra 12.
A ação segue agora para o plenário e, como a votação é aberta e Cunha é réu em dois processos diferentes STF por corrupção, dificilmente ele vai conseguir um número suficiente de deputados para votar por sua absolvição.
Logo após a vitória, Rodrigo Maia disse que pautará o pedido de cassação no dia em que o plenário estiver com “quorum adequado”. Embora já tenha sido aliado de Cunha, Maia rompeu com o então presidente da Casa quando este decidiu apoiar André Moura (PSC-SE), candidato do “centrão”, para a liderança do governo Temer na Casa, posto almejado pelo deputado do DEM.
Apesar da desavença, Maia já deu indícios de que não será hostil a Cunha e disse que ele foi “talvez o melhor presidente” da Casa. “Eu ajudei a eleger presidente da Câmara o Eduardo Cunha contra um candidato do PT. O presidente Eduardo Cunha no plenário foi talvez o melhor presidente que nós tivemos, colocava para pautar a Câmara, mas acho que talvez tenha sido poder demais”, afirmou Maia.