O abandono de Eduardo Cunha

Por Pedro Breier, correspondente policial do Cafezinho

Eduardo Cunha parece finalmente ter entrado em uma inexorável trajetória descendente. Na madrugada de quinta-feira o candidato do centrão e da ala do PMDB aliada a Cunha, Rogério Rosso (PSD), perdeu a eleição para a presidência da Câmara. Rodrigo Maia (DEM) ganhou com folga no segundo turno. O líder do PTB, Jovair Arantes, apoiador de Rosso, disse que o governo interino estava atuando pela vitória de Maia. Certamente não foi o que Cunha e Temer combinaram na reunião privada que tiveram em um recente domingo à noite.

Nessa reunião foi acertada a renúncia de Cunha à presidência da Câmara, como parte da estratégia para tentar salvá-lo. Após a renúncia veio a contrapartida acertada com Temer: o relator do recurso de Cunha na Comissão de Constituição e Justiça, Ronaldo Fonseca (PROS), apresentou parecer defendendo a anulação da votação favorável à cassação de Cunha no Conselho de Ética, logo após o governo golpista nomear um aliado de Fonseca, José Ricardo Marques, para a presidência do Arquivo Nacional.

Mas na votação do parecer do relator, na CCJ, não teve jeito. O relatório favorável a Cunha foi rejeitado por 48 votos a 12. Novo parecer, desta vez rejeitando os recursos do ex-presidente da Câmara, foi aprovado por 40 votos a 11, fazendo com que o processo de cassação não volte para o Conselho de Ética e seja encaminhado ao plenário, onde os prognósticos são sombrios para o marido de Cláudia Cruz.

O que chama a atenção na votação na CCJ é que Cunha foi abandonado inclusive por alguns dos seus mais fieis aliados. Paulinho da Força (SD) e André Moura (PSC) nem compareceram à sessão. Dos seis deputados do PMDB que participaram da votação apenas dois votaram a favor de Cunha. As bravatas de E.C. durante a sessão na CCJ – “A covardia que podemos ter hoje pode ser o precedente que vai condenar amanhã muitos” – não surtiram efeito.

Com o cerco a Eduardo Cunha se fechando aumenta a expectativa sobre uma eventual delação premiada. Seria “a maior delação premiada da história da humanidade”, nas palavras do deputado Silvio Costa (PT do B). De fato, não é nada desprezível a hipótese de um homem acuado, vendo a mulher e filha investisgadas e abandonado pelos antigos aliados resolver delatar para diminuir os danos a si e sua família. O problema é que Cunha conhece o jogo da república de Curitiba. O especialista em negociatas provavelmente passaria a atuar no mercado das delações, vendendo as informações desejadas pelo MPF e talvez o seu silêncio para alguns ex-comparsas, por que não? Pessoas como Cunha levam a sério aquelas frases de autoajuda no estilo “transforme as crises em oportunidades”.

 

Pedro Breier: Pedro Breier nasceu no Rio Grande do Sul e hoje vive em São Paulo. É formado em direito e escreve sobre política n'O Cafezinho desde 2016.
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