Já passou da hora de o PT entender que não é mais o gigante da esquerda que foi um dia

Brasília - Entrevista com o Deputado Marcelo Castro, que fala sobre a sua candidatura a Presidência da Câmara dos Deputados (Antonio Cruz/Agência Brasil)

Entrevista com o Deputado Marcelo Castro, sobre a sua candidatura a Presidência da Câmara dos Deputados (Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil)

por Carlos Eduardo, editor do Cafezinho

O crítico de cinema e fundador do portal Cinema em Cena, Pablo Villaça, publicou nesta terça-feira (12) um artigo sobre a polêmica do PT e PCdoB não fecharem com o Psol e outros partidos de esquerda, como PDT e PSB, uma candidatura única pela presidência da Câmara. Uma candidatura genuinamente de esquerda.

Villaça toca em alguns temas interessantes que ficaram de fora da minha análise no artigo Opinião: PT, PCdoB e Psol deveriam se unir em torno de uma única candidatura de esquerda.

De fato o Psol é um partido de difícil trato. A política é a arte da negociação e o Psol faz aquele gênero de esquerda “cabeça dura”, digamos assim, que se recusa a negociar com outros partidos de centro e centro-direita, tudo para manter sua posição. O problema é que na maioria das vezes o partido se comporta “do jeito que a direita ama”. Aquela esquerda que nunca chega a lugar nenhum.

A meu ver um pouco de pragmatismo não faz mal a ninguém.

No entanto, o ponto defendido por muitos na esquerda — incluídos este humilde editor e Pablo Villaça — é que apoiar um candidato do PMDB depois de tudo o que aconteceu é um atestado de ignorância dos petistas. O que garante que Marcelo Castro será um presidente melhor do que Cunha foi para a Dilma, caso esta retorne ao poder após a decisão do Senado? Nada!

Além do mais, suponhamos que Dilma retorne à presidência e Castro seja eleito para presidir a Câmara. Alguma coisa irá mudar no Congresso? Alguém acredita que a oposição não fará de tudo para prejudicar os trabalhos da casa como já vinha fazendo antes do golpe? Dilma pode simplesmente governar os próximos dois anos por meio de medidas provisórias e danem-se o deputados — como fez, por exemplo, FHC, campeão em governar à margem do Congresso Nacional, com intermináveis decretos e MPs.

O ponto central é que este seria o momento propício para essa esquerda diluída e espalhada por PT, PCdoB, Psol, PDT, PSB e, até mesmo a Rede, mostrar que é capaz de se unir em prol de uma mesma candidatura com força suficiente para ir ao segundo turno e vencer a oposição golpista.

Como diz Villaça, uma candidatura forte de esquerda forçaria os golpistas a escancarar ainda mais sua face golpista. Infelizmente, não foi desta vez.

Segue abaixo artigo de Pablo Villaça.

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por Pablo Villaça, no Facebook

Aguardando para fazer uma tomografia retiniana, leio a notícia de que o PT havia decidido lançar Maria do Rosário como candidata à presidência da Câmara, enquanto o PCdoB fizera o mesmo com Orlando Silva. Isto dois dias depois de o PSOL confirmar que Erundina concorreria.

Acho que quem precisa de avaliar a visão não sou eu, mas a esquerda. Aliás, os líderes dos partidos poderiam aproveitar para fazer uma tomografia no cérebro também.

Será que não aprenderam NADA? Mesmo depois do colapso completo que testemunhamos nos últimos meses?

Só há um motivo para a direita não ter conseguido destruir a esquerda completamente no Brasil: falta de liderança. Eles não têm um nome sequer capaz de cimentar a posição do grupo e servir como foco estratégico. O que a direita tem é um “cada um por si e Cunha por todos” – e não é à toa que Temer, o Pequeno, vem manobrando para salvar o mandato do amigo (lembrem-se do que Jucá, BRAÇO DIREITO de Temer, o Pequeno, disse; “Temer é Cunha e Cunha é Temer”). A estratégia, agora, é adiar ao máximo a votação da cassação de Cunha no plenário e de eleger alguém apoiado por ele para a presidência da Câmara: Rogério Rosso.

Mas como a direita é o que é, em vez de apoiarem Rosso, os deputados acabaram conseguindo a proeza de lançar mais QUINZE candidaturas.

E o que a esquerda faz para aproveitar a pulverização dos votos do outro lado?

Exatamente: decide pulverizá-los também do lado de cá.

Erundina é um nome histórico da esquerda. Uma mulher que SEMPRE manteve coerência absoluta em suas posições, criticando os próprios partidos aos quais pertencia quando estes abandonavam seus princípios. Fez isso com o PT e com o PSB quando este decidiu apoiar Aécio. Foi Erundina (ao lado de Moema Gramacho, do PT) quem ocupou a cadeira de Cunha num protesto belíssimo quando este se encontrava no auge do poder.

Apoiá-la não deveria exigir nem um segundo de discussão.

Mas, claro, o PT não aprende. Primeiro, um grupo dentro do partido defendeu apoiar RODRIGO FUCKING MAIA – um cara que lutou ardorosamente pelo impeachment. Agora, derrotados (e com a candidatura de Rosário retirada), estes deputados apoiam Marcelo Castro. Tudo bem, Castro foi ministro de Dilma e votou contra o impeachment.

MAS É DO PMDB E DISSE, ONTEM, QUE O GOVERNO TEMER NÃO PRECISA SE PREOCUPAR COM ELE.

Será que a esquerda QUER ser relegada ao esquecimento?

Eu tenho mil ressalvas ao PSOL. Acho Luciana Genro uma líder absolutamente desastrosa (e cheguei a esta conclusão mesmo depois de ter considerado votar nela em 2014, como falei aqui na época). Genro não tem visão estratégica e já demonstrou que não se importaria em ver a esquerda toda se ferrando caso isso aumentasse sua influência e a do PSOL.

Mas não há como negar que quadros gigantes do PSOL sempre correram para defender a esquerda quando esta precisou: Jean Wyllys, Erundina, Chico Alencar, Ivan Valente, Freixo. A fidelidade do PSOL à luta contra o golpe é mais exemplar do que a de MUITOS quadros do PT.

Além do mais, Erundina é Erundina.

Ela teria chance de vencer? Provavelmente não. Mas se apoiada em bloco pela esquerda poderia no mínimo obrigar Temer, o Pequeno, a escancarar mais ainda seu apoio a Rosso. Além do mais, foi o pragmatismo, esse pensamento de “ah, mas não teríamos chance”, que nos trouxe até aqui.

Já passou da hora de o PT entender que já não é o gigante da esquerda que foi um dia e que precisa desesperadamente de fechar questão com os outros partidos do lado de cá.

Ou faz isso ou afundará com todos eles.

Pablo Villaça é um crítico cinematográfico brasileiro e editor do site Cinema em Cena, que criou em 1997, o mais antigo site de cinema no Brasil.

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