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II FIME — Festival Internacional de Música Experimental — reitera a vocação brasileira para a exploração sonora

Por Bernardo Oliveira*, editor de música do Cafezinho. Na foto: o experimentador sueco Dror Feiler. O Brasil tem na canção uma espécie de patrimônio nacional capaz de mobilizar uma ampla diversidade de opiniões e orientar ideologias. Raramente a música instrumental adquire o mesmo reconhecimento que a palavra entoada por nossas sacrossantas vozes cancionais, desde a Era […]

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Por Bernardo Oliveira*, editor de música do Cafezinho.

Na foto: o experimentador sueco Dror Feiler.

O Brasil tem na canção uma espécie de patrimônio nacional capaz de mobilizar uma ampla diversidade de opiniões e orientar ideologias. Raramente a música instrumental adquire o mesmo reconhecimento que a palavra entoada por nossas sacrossantas vozes cancionais, desde a Era do Rádio até os dias de hoje. Contudo, impõe-se uma realidade: torna-se a cada dia mais evidente que gêneros e inflexões sonoras não-cancionais, consideradas difíceis e impopulares como o improviso livre, o drone e a “música de ruídos” (noise) ganham novos adeptos. Artistas, festivais, casas de show e até mesmo editais públicos e privados apostam na rubrica do “experimental” para indicar que se trata de uma arte mais propícia à reflexão do que à fruição imediata.

Faço esse preâmbulo para abordar um dos eventos que mais evidenciam este contexto. Trata-se do II FIME — Festival Internacional de Música Experimental — que acontecerá entre os dias 16 e 30 de julho em São Paulo, tomando espaços como o SESC Consolação, a Biblioteca Mario de Andrade, a Praça das Artes, a Galeria Olido e o CCSP. Ingressando em seu segundo ano de existência, o FIME já pode ser considerado, junto ao Novas Frequências, como o maior festival de música experimental do Brasil — e talvez até mesmo da América Latina, devido à sua programação diversa e consistente. O FIME foi idealizado e realizado pelo Ibrasotope, coletivo que desde 2007 se dedica à produção e difusão de música experimental, e já trouxe ao Brasil o trabalho de artistas como Tetsuo Furudate, Tetuzi Akiyama, Zbigniew Karkowski. Do ponto de vista institucional, sua realização conta com apoio do Governo do Estado de São Paulo, da Secretaria de Cultura, e de parcerias com o SESC-SP.

Segundo os organizadores, o FIME destina-se a “testar os limites da música em São Paulo”, apresentando artistas nacionais e internacionais que trabalham com a experimentação sonora, como o Full Blast de Peter Brötzmann (leia aqui a entrevista exclusiva para O Cafezinho), o trompetista norte-americano Peter Evans, o pioneiro pernambucano Hrönir, a música de ruídos altamente politizada de Dror Feiler, a flautista Ine Vanoeveren tocando a obra integral para flauta do compositor inglês Brian Ferneyhough, o argentino Javier Bustos com seu inusitado instrumento Aerodrone, construído com bexigas amplificadas e foles, Henrique Iwao, BIU, Matthias Koole, Thomas Rohrer, Bella, Luísa Puterman, Philip Sommnervel, entre muitos outros artistas, oriundos de diversas searas da experimentação sonora.

Serão quinze dias de festival, com com cerca de 30 apresentações de artistas de mais de 10 países, 5 oficinas práticas relacionadas a aspectos da música experimental, sessões de conversa e um espaço livre para interações entre artistas, participantes e interessados. Segundo os organizadores, “a maior parte da programação foi fruto de uma chamada de propostas, que obteve grande repercussão: foram recebidas cerca de 340 propostas de artistas e grupos provenientes de 39 países.” Fernanda Navarro, uma das curadoras, faz um breve balanço do processo de triagem: “fui exposta aos trabalhos de mulheres extremamente criativas, junto ao trabalho de vários artistas com personalidades e estéticas diferentes, o que me fez perceber como a produção de música experimental no Brasil e na América Latina é extremamente criativa e diversificada”.

A seguir, a reprodução de um breve papo com Mário Del Nunzio e Natacha Maurer, ambos produtores do Ibrasotope e do FIME, no qual eles falam sobre esta edição e o futuro do projeto.

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O FIME cresceu bastante da primeira edição para esta. Quais os elementos que você considera primordiais no fortalecimento e no crescimento do Festival?
Existem alguns fatores objetivos e práticos — por exemplo, um pouco mais de verba, uma parceria mais consolidada com o SESC — mas provavelmente o que mais pesou foi uma coisa pessoal, de querer um festival grande, abrangente, representativo; e, para isso, esse ano estamos com esse formato: 2 semanas ininterruptas de atividades — todos os dias, muitas vezes durante todo o dia, incluindo oficinas, conversas, um espaço livre para encontros, trocas e experiências entre participantes do festival e pessoal de São Paulo, e as apresentações noturnas.

A maior parte da programação foi feita, novamente, com chamada de propostas; e neste ano recebemos cerca de 340 propostas. Mesmo com esse aumento do festival, tem dezenas de coisas propostas ótimas que não puderam entrar. Tem muita coisa sendo feita, e, pensamos, quanto mais pudermos viabilizar a inserção no festival, melhor.

Como você percebe os caminhos do “experimental” na música brasileira contemporânea? Em que sentido ainda faz sentido falar em arte/música “experimental”?
A princípio, lidamos com essa questão pragmaticamente: “experimental” é um termo útil, que permite que coloquemos vários tipos de práticas num mesmo contexto, favorecendo o diálogo entre elas, e mostrando uma grande diversidade de modos de atuação musicais/artísticos. É claro que poderíamos eventualmente entrar numa conversa bem mais complicada, sobre o que significaria de fato “música experimental” — e talvez isso viesse a demonstrar que o termo pode se mostrar de certa forma preciso (em suas diferentes acepções) se pensarmos, por exemplo, no que tem de empírico em boa parte do que se faz nesse meio, ou no que tem de experiencial, etc.

Então, sim, não por de fato significar algo musicalmente (características, procedimentos, modelos compartilhados), mas por estimular o convívio e a interação com a diferença, nos parece que ainda faz sentido.

Lá fora, expressões artísticas mais complexas e consideradas “difíceis” recebem apoio estatal. Como você analisaria essa questão no Brasil?
Existe um problema na questão: muito do que se faz dentro disso que a gente está chamando de “música experimental” não pressupõe especialização e lida com questões como, por exemplo, o questionamento da hierarquia entre profissionais e amadores ou entre músicos e público/música e vida. Então a ideia de que isso seria mais “difícil” tem que ser bastante relativizada.

Mas, sobre o que entendemos da pergunta: não existe como essa música se manter no mercado. É simplesmente inviável. Então, evidentemente, se se pretende que práticas musicais desse tipo sejam as atividades principais de determinadas pessoas, e supondo-se que essas pessoas dependam de renda regular para se manter, não parece haver outra solução que não a subvenção estatal.

A alternativa é o que temos em larga escala por aqui: pessoas têm alguma profissão outra (que pode ser, inclusive, a de professor universitário de música) e fazem música no tempo livre.

(Agora, há algumas semanas nem Ministério da Cultura o país tinha; fica difícil nesse tipo de conjuntura pensar em políticas públicas para artes a médio/longo prazo, que levem em consideração necessidades tão específicas e tenham esse ideário de pesquisa/invenção/criação).

Por fim, como você avalia as possibilidades futuras do festival? (espaços, atrações, circuitos e até mesmo produtos)
Esse é o segundo ano do festival. Estamos testando esse formato de duas semanas de trabalhos intensivos. E é extremamente difícil falar de possibilidades futuras nesse momento que estamos prestes a iniciar essa edição. Algumas coisas que esperamos que aconteçam: um público maior, que não tem acesso ao circuito regular de música experimental da cidade, que normalmente se dá em locais pequenos, sem muita visibilidade, talvez possa vir a se interessar e a acompanhar o que se faz ao longo do ano; músicos daqui e de outros locais tenham a possibilidade de se conhecer, interagir, trabalhar juntos; e que as pessoas que acompanhem a programação do festival gostem da possibilidade de entrar em contato com muita coisa diferente, e isso possa servir de estímulo ao que quer que seja (reflexões, trabalhos, críticas, etc).

Mais informações sobre o II FIME – Festival Internacional de Música Experimental no site: http://www.fime.art.br/

FIME – Festival Internacional de Música Experimental: vídeo-resumo

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*Professor da Faculdade de Educação/UFRJ, autor de “Tom Zé — Estudando o Samba” (Editora Cobogó, 2014).

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Bernardo Oliveira

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Emnf Matsuri

14/07/2016 - 17h13

O Brasil é campeão em exploração anal também. Além do povo ter tomado fundo nos ultimos 14 anos agora o teatro também ensina que tomar lá é uma coisa bacana, supimpa e joinha (usei gírias antigas pra combinar com o anacronismo do socialismo)


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