Carga rápida no crescimento. Por André Araújo

Foto: Rafael Neddermeyer / Fotos Públicas Carteira de Trabalho

por André Araújo, no Jornal GGN

Os dados sobre a queda no setor de serviços em maio são assustadores. Transportes caíram mais de 9% em relação a maio de 2015, cabeleireiros, lanchonetes, lavanderias… todos os setores de serviços caíram entre 6 e 9%, uma tragédia porque são setores que empregam muita gente.

Hoje estive em uma fábrica de móveis para escritório. Marca nobre. O faturamento necessário e que conseguiam até meados de 2014 era de R$ 3 milhões mensais. Este ano têm faturado em média R$ 300 mil por mês. Têm 200 empregados. Vão demitir todos e fechar. Essa é uma realidade entre firmas médias. Como disse o dono, quem vai comprar móveis de escritório se estão fechando andares inteiros de escritórios? Um terço dos clientes está na Lava Jato, estão se desintegrando, estão vendendo tudo, até mesas e cadeiras, não têm mercado para móveis novos.

O Brasil esta afundando numa recessão brutal nunca vista antes e persiste nos fatores que causaram essa recessão.

1. Política monetária restritiva, não só juros absurdos mas também pouco dinheiro em circulação. Ontem havia no Brasil R$ 208,8 bilhões de meio circulante físico em Reais para um PIB, em 2015, de R$5,9 trilhões, o que dá 3,53% do PIB. Nos EUA existe US$1,46 trilhões em circulação para um PIB de US$17,9 trilhões, o que dá 8,13%,. Portanto os EUA tem um meio circulante duas vezes e meia maior que o do Brasil. A pergunta é PORQUE o Brasil tem tão pouco dinheiro em circulação? Pior ainda, nível parado: em 2013 era de R$199,6 bilhões, um crescimento de 5% em três anos, muito abaixo da inflação. A falta de liquidez na economia é impressionante, irracional.

Falta de liquidez, falta de crédito, economia travada pela política monetária e só vai ficar pior com a política econômica minimalista, medíocre, de “trazer a inflação para o centro da meta”, enquanto o problema real da economia não é a inflação, é a recessão. Pouca moeda em circulação, Real valorizado muito além da lógica, moeda forte e economia em ruínas. Como se pode, diante da realidade à vista de todos, propor tal política monetária insana?

2. Falta de um programa agressivo de estímulos ao investimento em infraestrutura, mais de 1.500 obras paralisadas, imensas carências em saneamento, moradia, ferrovias, prédios escolares em péssimo estado pelo Brasil todo.

Um Banco de Obras S.A. com R$1,6 trilhão de capital terminando obras e jogando pesado na infraestrutura, o desembolso é espaçado, a base produtiva tem enorme capacidade ociosa, enquanto há desemprego não haverá inflação na mão de obra, estímulo à economia produtiva (e não ao consumo) puxa a saída da recessão.

3. A Lava jato precisa encerrar seus trabalhos para permitir o início de uma nova fase de crescimento, que necessita de um clima de otimismo fundamental para uma retomada. Prisões anunciadas como troféus e desmantelamento de empresas grandes e tradicionais, não há processo de crescimento nesse clima.

Todo ciclo de crescimento exige ousadia. JK fez o Brasil crescer com audácia e correndo riscos. Amanuenses da austeridade, contadores de feijões, gente que conhece economia só pela tela do computador e que nunca pisou em um chão de fábrica ou em um pátio de transportadora não tem o faro fino, a sensibilidade para dar saltos na economia.

Presidente algum vai puxar o crescimento com planilheiros que não entusiasmam nem seu motorista, e que jamais irão transmitir aquela faísca essencial para criar um “clima” de entusiasmo para os empresários ousarem.

Crescimento não é obra do acaso, exige elementos psicológicos definidos, liderança, disponibilidade de moeda, crédito em abudância, pouca burocracia, apoio da máquina toda voltada para o desenvolvimento, como foram os 30 grupos de trabalho de JK, ambiente pró-negócios, campanhas no exterior para trazer investidores.

Sem uma concentração de vários fatores o Brasil não sai da crise.

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