Por Pedro Breier, correspondente policial do Cafezinho
Os Estados Unidos vivem mais uma vez um drama decorrente da morte de negros pela polícia. No último dia 5 dois policiais dispararam contra Alton Sterling e o mataram, enquanto tentavam detê-lo em Louisiana. No dia 6, um policial atirou contra Philando Castile e matou-o. Ele havia sido parado em uma blitz e estava com a namorada e sua filha pequena no carro. O governador de Minnesota afirmou sobre a morte de Castile: “Isso teria acontecido se passageiro ou motorista fossem brancos? Não creio”.
As duas mortes foram filmadas (esta última pela própria namorada da vítima, que transmitiu ao vivo o vídeo) e geraram uma onda de protestos. No dia 7, durante protesto em Dallas, cinco policiais que faziam a escolta foram mortos por Micah X. Johnson. Na madrugada do dia 8 o atirador foi morto em confronto com policiais.
A diferença de tratamento da polícia a negros e brancos é evidente. Em um levantamento realizado pelo Pew Research Center, nos Estados Unidos, 71% dos negros entrevistados disseram que já sofreram discriminação. 85% dos negros entrevistados afirmaram que o país tem de mudar na questão da discriminação racial, enquanto 55% dos brancos disseram o mesmo. Em 2015, três em cada dez pessoas mortas pela polícia nos Estados Unidos eram negras, enquanto a população negra no país é de 13%.
A tragédia americana deveria servir de exemplo para o Brasil. A polícia atua de uma maneira em bairros ricos/brancos e de outra em bairros pobres/negros. A perversa e inútil guerra às drogas é empreendida na favela, e não em condomínios de luxo. O delegado da polícia civil do Rio de Janeiro Olando Zaccone demonstra, em seu livro Acionistas do nada: Quem são os traficantes de drogas, a seletividade social e consequentemente racial na aplicação das penas: bandidos pobres são presos e estigmatizados, enquanto os bandidos de classe média ou ricos são autuados como consumidores e não ficam detidos.
Virou quase rotina vermos notícias de adultos, jovens e até crianças negras inocentes mortos pela polícia. Mesmo que tenham cometido algum crime, qualquer morte que não se enquadre nas hipóteses legais de legítima defesa é absurda. Não há, ao menos por enquanto, previsão legal de pena de morte no Brasil.
Com duas das maiores populações carcerárias do mundo – ambas com uma porcentagem de negros maior que a da população em geral -, Brasil e Estados Unidos têm muito em comum na questão do racismo. O verdadeiro racismo de Estado propiciado pelos sistemas penais dos dois países só prospera porque encontra respaldo em uma sociedade ainda racista, em pleno 2016. Na semana passada o estudante David Castro relatou ter sido vítima de racismo em uma lanchonete de Fortaleza. “Lembrei de todas as vezes em que abri minha boca pra dizer que o racismo não existia e sei agora o quanto eu estava enganado”, ele escreveu. Casos como esse são comuns no Brasil, e para que a situação não chegue ao extremo de violência que acontece nos EUA, a ação deve ser imediata, a começar por uma mudança radical no tratamento que a polícia dá à população negra.