(Foto: Orlando Brito)
Por Bajonas Teixeira de Brito Junior, colunista de política do Cafezinho
Repetidas denúncias insinuam que a face de bom moço de Aécio Neves, sempre sorridente, esconde por trás um outro Aécio que, embora pressentido por muita gente, só agora está vazando ao público. Se para seus eleitores, em todos esses anos, ele tem sido um exemplo de político honesto e novo estilo de fazer política, no universo paralelo, que o submundo da política vem revelando, a imagem que se reflete é muito diferente.
Mas por que tudo isso ficou oculto até agora? E por que continua semi-oculto ainda agora, já que por mais que se multipliquem, as denúncias não conseguem criar contra Aécio aquele clima social de escândalo e indignação que, como vimos repetidas vezes, foi fabricado contra Dilma e Luta. Toda vezes que o acusado é Aécio, as denúncias esbarram em um filtro que as amortece e desvitaliza. Qual é a explicação?
Pode ser que o ex-governador mineiro tenha as costas quentes. Aliás, a julgar pelo número e pela gravidade das denúncias, se forem verdadeiras, Aécio tem costas muito quentes, tão quentes que podem gerar energia suficiente para abastecer uma cidade brasileira de médio porte o ano inteiro. Ou iluminar durante a noite um aeroporto que consumiu milhões em recursos públicos para servir à meia dúzia de grandes fazendeiros. E tem mais: Aécio também tem pé quente, porque largando lá atrás nas pesquisas em 2014, por um golpe de sorte estranho, quase terminou eleito presidente. De onde vem esse calor?
O calor de Aécio vem da mídia.
A mídia trata Aécio com um carinho especial. Considerando o período de 2014 para cá, o tratamento amoroso envolveu muitas estratégias para anular o impacto de denúncias dirigidas ao presidente do PSDB. É verdade, sejamos justos, que a imprensa estampou as más notícias, ninguém escondeu nada. O problema é que hoje, na época do hipertexto, há formas de noticiar muito originais. É possível, por exemplo, postar uma manchete em letras garrafais que, contudo, mal o leitor pisque, já terá sumido do Portal.
Outras vezes, se adota o método contrário, colocando a chamada fixa mas em fonte tão pequena que, por mais que pisque, o leitor não consegue ler e desiste. Acontece também de uma denuncia em que dois personagens são arrolados, por exemplo, Aécio e Eduardo Cunha, venha apenas com o nome do segundo, com essa:
Outra forma de desfazer o feito e desinflar a realidade, quando o assunto é denúncia, é pôr no dia seguinte o indigitado Aécio exercendo o papel de político-chefe, comandante da oposição, impávido colosso da política brasileira. No dia 15 de junho, por exemplo, o UOL destacou um “flerte” entre Temer e Aécio. Isso não seria nada demais se, três dias antes, no dia 12, ele não tivesse sido objeto de denúncias muito graves. Ao invés de se enfatizar as denúncias, fez-se a opção de mostra-lo como agente político de primeiro plano discutindo uma “agenda de emergência para o Brasil”.
Quem faça o inventário das denúncias contra Aécio nos últimos anos, verá que são inseparáveis das estratégias da mídia para desviar o foco, amenizar os impactos, desconversar como se nada tivesse acontecido, ou fazer a cobertura com a ‘isenção’ e o ‘distanciamento’ com que cobriria um plesbiscito na Malásia. Por esse ‘distanciamento’, ela chega até a mais completa dissimulação, que é o que corre hoje diante do sumiço de Aécio.
A mídia resguarda esse sumiço à sete chaves, não o menciona, não dá qualquer indício dele, deixa Aécio ficar em paz na sua reclusão, como se tivesse tirado férias com a família. Não importa a responsabilidade social e política dele como principal ator da oposição, não existe a sua deserção diante de um eleitorado que espera por explicações, sequer existem motivos para explicações. Tudo se passa como se nada tivesse acontecido. Até como se Aécio nunca tivesse existido.
E isso aumenta a urgência da pergunta: Aonde está Aécio?
A resposta mais sensata parece ser que, se Aécio anda sumido, se ninguém recebe notícias dele, é porque a mídia o pôs em seu limbo e o mantém resguardado lá, evitando assim que, pela força das denúncias, ele passe direto às labaredas do inferno, isto é, à execração pública. Este lugar mais tórrido, como todo mundo sabe, está hoje reservado ao PT e aos políticos petistas.
É porque serve a reforçar as estratégias do golpe que, podemos dizer, o sumiço de Aécio é o fato político mais importante hoje no Brasil.
Bajonas Teixeira de Brito Júnior – doutor em filosofia, UFRJ, autor dos livros Lógica do disparate, Método e delírio e Lógica dos fantasmas, e professor do departamento de comunicação social da UFES.