Por Luis Edmundo Araujo, editor de esporte do Cafezinho
Em meio aos protestos por todo o País contra o golpe, que incluem o percurso da tocha olímpica, o Comitê Olímpico Internacional (COI) pediu informalmente a Michel Temer, segundo o CEO do Comitê Rio 2016, Sidney Levy, e o Congresso resolveu atender, já que não cabe ao presidente interino, golpista, esse tipo de decisão. Para não desviar a atenção da população brasileira da primeira Olimpíada a ser disputada não só no País, mas em toda a América do Sul, a votação final do processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff só deve ocorrer após a cerimônia de encerramento dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, marcada para o dia 21 de agosto.
Passada informalmente por assessores do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), o ministro Ricardo Lewandowski, a informação de que, sim, os nobres parlamentares cederão ao desejo do COI foi confirmada nesta quarta-feira pelo presidente do Senado, Renan Calheiros. Ele anunciou que o julgamento final do processo de impeachment de Dilma irá ocorrer “em torno do dia 20 de agosto”. Como esta data cai num sábado, e o encerramento da Olimpíada é no domingo, tudo leva a crer que o circo final seja armado na segunda-feira, 22 de agosto.
Poderia ser, digamos, um retorno à chamada trégua sagrada, ou paz olímpica, dos tempos da Grécia Antiga, quando os Jogos também eram disputados de quatro em quatro anos no santuário de Olímpia, em honra a Zeus. No ano em que a Olimpíada seria disputada, arautos eram enviados por toda a Grécia anunciando a data das competições, que geralmente duravam cinco dias. Os arautos anunciavam ainda a trégua sagrada, para garantir a integridade física dos competidores durante a viagem até o santuário de Olímpia, a estadia por lá e a volta pra casa.
Realizados, segundo os historiadores, dos anos 776 A.C a 393 D.C, quando o então imperador romano Teodósio I decidiu encerrar a festa sob o argumento de que a Olimpíada era um ritual de paganismo, os Jogos não tiveram essa trégua sagrada quebrada nem pelos espartanos, que, banidos das competições por conta da Guerra do Peloponeso, contra Atenas, ameaçaram invadir Olímpia em 424 A.C., mas não o fizeram, ainda que somente a ameaça tenha sido suficiente para abalar o conceito da decantada paz olímpica, já que neste ano os Jogos Olímpicos tiveram de ser realizados sob proteção de tropas militares, alertas contra a invasão que não ocorreu.
No caso brasileiro, resta saber se a estratégia de deixar a votação no Senado para o dia seguinte ao fim da Olimpíada, com as competições ainda quentes na memória do brasileiro, trará ao País a trégua sonhada pelos arautos do golpe, ou se a população continuará, mesmo durante os Jogos, a clamar pelo respeito à democracia, tão cara aos antigos gregos de Atenas.
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