Foto: Reprodução/ CBS
por Carlos Eduardo, editor do Cafezinho
Não me entendam mal, por favor.
Não possuo nenhum complexo de vira-latas, muito menos participei daqueles movimentos em 2014 que torciam para tudo dar errado na Copa do Mundo, na expectativa de que um vexame internacional pudesse prejudicar a imagem da presidenta Dilma Rousseff.
A escolha do Rio de Janeiro como sede dos Jogos Olímpicos de 2016 foi uma vitória, não apenas de Lula, mas de todos os brasileiros que acreditam na capacidade do país de realizar grandes eventos internacionais.
No entanto, lá atrás, em 2009, ninguém podia prever um golpe de estado.
Imagino o que deve estar passando pela cabeça do prefeito do Rio, Eduardo Paes, ao ver seus colegas Michel Temer e Eduardo Cunha, levando o país ao caos às vésperas dos Jogos Olímpicos, justo quando todas as atenções do mundo estarão voltadas para nós.
Na cabeça de Paes, sem dúvida alguma, a realização dos jogos seria a sua consagração como um dos melhores prefeitos do Rio nas últimas décadas — ao menos no imaginário popular. O homem que transformou a cidade maravilhosa e sediou a primeira Olimpíada da América do Sul. Feito que possivelmente tornaria-o num presidenciável, não em 2018, mas quem sabe em 2022.
Mas tudo indica que o tiro saiu pela culatra.
Dias após aquele show de horrores na Câmara, quando deputados aprovaram o impeachment da presidenta Dilma em defesa de ‘Deus, da família e dos netinhos’, o New York Times publicava matéria com o título: ‘Partido que criou bagunça no Rio, agora governa o Brasil’.
O golpe bananeiro e o modo peemedebista de governar tornaram o Rio de Janeiro e as Olimpíadas motivo de chacota para comediantes como Stephen Colbert.
Para aqueles que não ligam o nome a pessoa, ele é considerado hoje o melhor e mais brilhante comediante norte-americano em atividade.
Colbert ganhou notoriedade como correspondente do programa de Fake News, The Daily Show with Jon Stewart, com o quadro Even Stephen, onde Stephen Colbert e Steve Carell – sim, antes de virar um astro em Hollywood ele foi coadjuvante no Comedy Central – debatiam temas polêmicos como religião, drogas e aborto, com muito humor e nonsense.
Acredito que um dos quadros mais engraçados já produzidos na TV americana seja este, em que Colbert e Carell discutem qual das duas maiores religiões do mundo está correta: islã ou cristianismo?
Ele fez tanto sucesso que em 2005 ganhou o próprio programa: Colbert Report, onde interpretava um republicano ultraconservador e narcisista, que se orgulhava de não pensar com o cérebro, mas sim com os instintos (a palavra exata era gut, que em inglês também é sinônimo para intestino, ou vísceras, o que dá margem para outras interpretações).
Após dez anos a frente do Colbert Report, Stephen foi convidado pela CBS para substituir ninguém mais ninguém menos que David Letterman, como anfitrião do Talk Show mais respeitado dos Estados Unidos: o Late Show.
Por tudo isso Stephen Colbert é considerado hoje o maior comediante da TV norte-americana e, não tenham dúvidas, seu mais recente quadro sobre o possível fracasso dos Jogos Olímpicos de 2016 será um viral ao redor do mundo, para o lamento de nós brasileiros.
O mais preocupante de toda essa história é que os roteiristas de Stephen Colbert não escreveram nenhuma mentira.
Ele começa o quadro citando o atual governador em exercício, Francisco Dornelles, que recentemente disse: “Os Jogos Olímpicos podem ser um grande fracasso”. Colbert faz chacota com a declaração do governador e diz que isto é um bom sinal já que até pouco tempo atrás as Olimpíadas no Rio “pareciam uma enorme catástrofe”.
Em seguida dá uma alfinetada na crise de segurança pública e faz outra referência ao governador Francisco Dornelles, que em entrevista ao jornal O Globo, concedida no início desta semana, afirmou que a segurança do estado do Rio de Janeiro está sob ameaça, pois não há sequer dinheiro para pagar a gasolina dos veículos da polícia militar.
Colbert cita ainda o jornalista Michael Smith, correspondente da Bloomberg e Business Week no Brasil, que divulgou ao mundo uma manifestação de policiais e bombeiros militares no Aeroporto Internacional Tom Jobim, com uma faixa escrita: “bem vindo ao inferno”.
Por último, o comediante critica a epidemia de Zika Vírus que vem afastando atletas da competição e conclui o quadro mencionando a execução da onça Juma, mascote dos jogos, morta pelo exército brasileiro após a passagem da tocha olímpica em Manaus.
Veja o vídeo: