(Michel Temer e Eduardo Cunha. Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)
Por Pedro Breier, correspondente policial do Cafezinho
Eduardo Cunha vem travando uma disputa acirrada com Aécio Neves pelo posto de mais citado por delatores na Lava Jato. A mais nova citação de Cunha partiu de Fábio Cleto, ex-vice da Caixa Econômica Federal, indicado pelo próprio Cunha. Ambos teriam recebido propina de uma empresa de Eike Batista para obter recursos do fundo de investimentos do FGTS. Cunha é réu no STF em duas ações relacionadas à Lava Jato, onde responde pelos crimes de corrupção, lavagem de dinheiro, evasão de divisas e falsidade ideológica para fins eleitorais. Foi afastado pelo STF do mandato de deputado federal e, por consequência, da presidência da Câmara, por usar o cargo para ocultar possíveis crimes e interferir nas investigações. Deu andamento ao pedido de impeachment de Dilma Roussef por retaliação ao voto dos deputados petistas no Conselho de Ética da Câmara.
Com uma ficha corrida dessas, espera-se que os políticos, sempre preocupados com a imagem, guardem uma distância segura de alguém tão enrolado, correto? A foto de Cunha sentado sozinho em uma mesa vazia, na sua última entrevista coletiva, é símbolo disso. Se a companhia de Eduardo Cunha é indesejável para qualquer político, imagine para o presidente de um governo golpista, que busca desesperadamente angariar alguma legitimidade na sociedade, já que não possui a única legitimidade possível numa democracia, a oriunda do voto.
Pois Michel Temer reuniu-se no domingo, dia 26, com ninguém menos que Eduardo Cunha. A equipe de Temer inicialmente negou o encontro, que não estava na agenda, mas depois admitiu e informou que os dois discutiram o atual cenário político. Cunha continuou exercitando um dos seus esportes preferidos, mentir, ao dizer que “não confirma” o encontro. Segundo reportagem da Rede Brasil Atual, um ministro do governo provisório disse a jornalistas que foi uma decisão “estratégica” o encontro ter sido realizado no próprio Palácio do Jaburu, onde reside o presidente em exercício, para mostrar que “não tinha sido um encontro secreto”. Claro, não há problema algum em encontrar-se com Eduardo Cunha desde que não seja secretamente, não é mesmo? Com estrategistas dessa envergadura não é surpresa que o governo interino seja um completo desastre.
É lógico que Temer sabe que o ideal seria nunca mais precisar ver Cunha na vida. Se o recebe em casa num domingo à noite é porque não tem outra opção. O governo tem noção de que caso decida abandonar Cunha haverá retaliação com potencial para implodir o governo golpista. Ciro Gomes explicitava ainda em 2015 as relações fraternais entre o presidente interino e o ex-presidente da Câmara. Segundo Ciro, quando Michel era presidente da Câmara dava a relatoria de alguns projetos a Eduardo Cunha, que por sua vez embutia emendas que beneficiavam grupos econômicos financiadores de ambos. Ainda Ciro: “Em outro episódio, chamei Cunha de ladrão. Ele me processou e arrolou Temer como testemunha. Na verdade, Temer é o homem do Cunha, e não o inverso”. Romero Jucá veio confirmar essa relação íntima com a já imortal sentença “Michel é Cunha”.
Temos então um presidente golpista e refém de Eduardo Cunha. A tentativa do Planalto de salvar a pele de Cunha seria escândalo para estar na capa de todos os sites e jornais não estivesse a velha imprensa comprometida até a medula com o golpe. Merece apenas notícias meio escondidas e repercussão quase nula. De qualquer forma, Michel Temer terá que provar que sabe mesmo lidar com bandidos caso queira evitar a desintegração do seu governo.