Os presos políticos e a boa vida dos ladrões delatores

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Análise Diária de Conjuntura – 27/06/2016

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O colunista Bernardo Mello Franco assinou uma intrigante coluna na semana passada, e que só li hoje. Intitulado “A tentação da delação”, ele sugere que Eduardo Cunha possa ser tentado a delatar seus companheiros, na esteira de outros delatores, para poder usufruir dos privilégios que a Lava Jato concede aos dedo-duros.

O que me interessou, no entanto, não é a tentação de Eduardo Cunha, e sim a descrição que Mello Franco faz da boa vida dos ladrões confessos da Petrobrás.

Pedro Barusco, Paulo Roberto Costa e Sergio Machado passaram décadas roubando a Petrobrás, e agora desfrutam de vidas milionárias, em residências de luxo, aproveitando o dinheiro que roubaram.

Barusco, um dos piores, curte a vida em Angra dos Reis, em regime aberto.

Paulo Roberto Costa vive numa casa de luxo em Itaiapava, vizinho de ministros do Supremo.

Sergio Machado vive à beira da piscina, em sua mansão na Praia do Futuro.

Isso é delação premiada.

Um punhado de ladrões, que operavam na Petrobrás desde os anos 90, que nunca fizeram nada pelo país, hoje estão livres e soltos, enquanto isso José Dirceu, Paulo Bernardo, Vaccari, João Santana, contra quem só há provas ilegais, permanecem em prisão perpétua na torre de Londres em Curitiba.

Naturalmente, Sergio Moro espera que algum deles aceite a delação premiada, dedure seus companheiros, ajude a consolidar o golpe, e se juntem aos ladrões da Petrobrás.

Quer dizer que Eduardo Cunha, caso conte alguma história picante para os procuradores, também desfrutará da boa vida concedida aos outros ladrões?

Eduardo Cunha, que passou os últimos anos curtindo os mais caros hoteis de luxo, que movimentou mais de 400 milhões de dólares em contas clandestinas no exterior, ainda pode se sair bem caso faça algum tipo de jogo sujo com a procuradoria?

Ele pode delatar Michel Temer e a cúpula do PMDB, ok, mas em que isso muda a situação, concretamente?

Todos os ladrões delatam uns aos outros e se dão bem. Que justiça maravilhosa! Premia cidadãos corruptos e delatores! Só os petistas permanecem engaiolados eternamente, sem dinheiro, sem liberdade, sem direitos, enterrados vivos por uma imprensa corporativa que se recusa a fazer jornalismo e a ouvir, a vera, o outro lado.

É incrível o cinismo da mídia, que, ao mesmo tempo em que explora, sadicamente, a situação triste vivida pelos presos políticos, mostra os ladrões delatores curtindo a vida, como que se comprazendo de sua impunidade.

Mais valeria se o nosso Ministério Público, o mais caro do mundo, investigasse os desvios através da coleta de provas, e se baseasse menos em delações e mais em rastreamento detalhado do dinheiro.

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Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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