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Às vésperas das Olimpíadas a Globo reedita o tempo do bandido Cara de Cavalo

(Foto: Jornal Última Hora, 05 de outubro de 1964) Por Bajonas Teixeira de Brito Junior, colunista político do Cafezinho. Às vésperas de um dos eventos internacionais mais importantes da história do Brasil, e de uma tragédia anunciada, com o RJ em estado de calamidade pública, a Globo reedita a caçada ao bandido Cara de Cavalo, […]

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(Foto: Jornal Última Hora, 05 de outubro de 1964)

Por Bajonas Teixeira de Brito Junior, colunista político do Cafezinho.

Às vésperas de um dos eventos internacionais mais importantes da história do Brasil, e de uma tragédia anunciada, com o RJ em estado de calamidade pública, a Globo reedita a caçada ao bandido Cara de Cavalo, um dos momentos mais sombrios da história brasileira e que teve sérias consequências para a escalada da violência nos tempos da Ditadura. Desde o dia 20, portanto, há nove dias, o assunto do traficante Fat Family resgatado num hospital do RJ é notícia insistente no principal portal da Globo.

 

Celularia e traficante_dia 20 de junho

(Imagem da home G1 de 20 de junho)

 

 

Há 52 anos atrás, em outubro de 1964, depois de uma campanha intensa na imprensa, que mobilizou todo o Rio de Janeiro, e um enorme contingente de policiais, o bandido Cara de Cavalo, um meliante comum agigantado para vender jornais, era morto com 52 tiros. Sua morte marcou o início da Scuderie Le Cocq, em homenagem ao detetive Milton Le Cocq, morto pelo bandido. O saldo da promoção dos sentimentos de medo e ódio instigados pelos jornais foi, como se vê, um enorme impulso para a eclosão dos esquadrões da morte que dominariam nas décadas seguintes.

 

Morreu insultando os policiais

 

O Brasil hoje é visto do exterior pela lente mais negativa possível: dengue, zika, chikungunya, corrupção endêmica, criminalidade galopante, falência do Rio de Janeiro, desvios nas obras públicas das Olimpíadas, poluição extrema da Baia de Guanabara (um dos locais dos jogos), golpe de estado, assassinatos de índios e sem terras, polícias que ocupam os primeiros lugares no ranking mundial da violência, etc.

Como entender que, numa conjuntura dessas, e na proximidade de um evento tão importante para o país, e que consumiu tantos recursos públicos, sempre com o argumento de que seu retorno seria muito maior, a Globo se dedique dia e noite, há quase dez dias, a superdimensionar um caso corriqueiro de banditismo?

É difícil avaliar as consequências para a imagem do Brasil no exterior do momento atual vivido pelo estado do Rio de Janeiro. Sem recursos até para garantir sequer a alimentação de presos e muito provavelmente com crianças e idosos passando fome em instituições públicas. No entanto, dentro do caos completo instalado pela corrupção e pelo descaso na administração pública, o estado passou a viver uma caçada desenfreada ao bandido apelidado de Fat Family.

O portal da Globo, o G1, dedicou inúmeras matérias ao traficante e as têm estampado durante quase 24 horas a cada dia. Nos portais da internet, tempo de exposição é tudo. É claro que esse expediente serve de “operação tapa buraco” para desviar as atenções da falta de boas notícias do governo Temer, e, para além disso, para preencher o vazio deixado pelas denuncias contra esse governo, que o portal ou não expõe ou dedica um tempo curto (e letras minúsculas).

 

Ação da PM deixa 5 mortos

Portanto, há um sentido prioritário talvez de desinformação na campanha veiculada pela Globo. Evidentemente, como sempre acontece, o discurso e as preocupações da Globo ditam o grau e a escalada das ações públicas. O interesse público, há muito tempo, se confunde com o interesse privado da Globo. Com isso, não é de estranhar que surjam fatos como esse noticiado em matéria no G1 hoje:

27 batalhões da PM fazem operação no RJ para buscar Fat Family

Até agora a Globo tem sido odiada, desprezada, hostilizada por uma parte da população que repudia seu papel na pré-produção do Golpe. O diagnóstico do papel da emissora, e de outros meios de comunicação no Brasil, para criar o estado de espírito propício ao impeachment da presidente Dilma Rousseff, foi compartilhado por muitos correspondentes estrangeiros no Brasil. A partir daí, a imagem negativa da Globo ganhou o mundo.

Contudo, apesar de todas as críticas, imaginava-se que a Globo agia racionalmente, e que não seria capaz de atingir o interesse público e o interesse do país de maneira tão frontal para atingir seus objetivos políticos. Ao menos foi o que a emissora em mais de uma vez tentou fazer crer, como por exemplo ao criticar o aumento do judiciário, no editorial da revista Época A nova pauta-bomba.

Deve-se temer que a atual campanha, produza, além de um ingrediente a mais para o fracasso retumbante das Olimpíadas, e para prejuízos astronômicos dos investimentos públicos com o evento,  mais uma ascensão dos níveis de ódio, e que, por essa via, sirva para nos deixar mais próximos de algum tipo de militarização do poder.

Bajonas Teixeira de Brito Júnior – doutor em filosofia, UFRJ, autor dos livros Lógica do disparate, Método e delírio e Lógica dos fantasmas, e professor do departamento de comunicação social da UFES.

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Comentários

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Jó Ge

29/06/2016 - 03h22

A meu ver o que esse sensacionalismo todo da Globo sobre um traficante esta fazendo é dar destaque para a total incompetência do Secretário de Segurança do Estado e de toda a cúpula da PMRJ, os quais deveriam ter sido exonerados imediatamente após o resgate humilhante do criminoso.

Antonio Passos

28/06/2016 - 18h23

Desculpe mas este artigo está pior do que o próprio Globo. É leviandade falar em “crianças e idosos passando fome” sem provas, apenas por suposições. E pior, como um verdadeiro vidente, o senhor “profetiza” o fracasso das Olimpíadas. Lembra da Copa ? O grande mal do Brasil não é a corrupção, mas sim o espírito de VIRA LATAS. Esse é que assalta todos os níveis sociais e culturais.

João Ostral

28/06/2016 - 18h11

Isto é para levar o terror e aplacar a marginalidade do Rio. Tem que estar todo mundo com a bola baixa, ou vai entrar na bala. Este é o recado

gilberto

28/06/2016 - 13h39

Fico pensando se essa estrutura da Globo fosse utilizada para o bem, seríamos certamente um exemplo de democracia e justiça social, mas, com essa configuração, a tendência é que a injustiça e os golpes prevaleçam.

Maria Thereza G. de Freitas

28/06/2016 - 12h30

não lembro que o pig, especialmente o globo, tenha dado destaque sequer semelhante à apreensão de um helicóptero com 445 kg de pasta base de cocaína, que vali cerca de R$ 22 milhões, à época. Duvido que o reles bandido, agora na condição de inimigo público nº 1, algum dia tenha visto essa quantidade de dinheiro, nem matado a quantidade de pessoas que morrem todos os dias por conta da “repressão às drogas. Essa quantidade de pasta base e seu valor devem, pelo menos, quintuplicar quando chega ao consumidor final. Dá pra comprar muita blindagem mesmo

    Daniel

    28/06/2016 - 17h15

    A GLOBO está desesperada, e atira para todos os lados, na tentativa de acertar em algo que garanta algum retorno para ela, ou diversos retornos. Ela entrou no tudo ou nada desse GOLPE, e já percebeu que a cada dia, mais e mais pessoas percebem o seu papel, novamente, num GOLPE de estado. E com certeza isso está trazendo prejuízos financeiros de alguma forma. Então ela deve estar cheia de planos B, C, D, E, F…, para o caso de o GOLPE não sair como ela pensou que seria.
    Já se sabe que as atuações “jornalísticas” dela são no sentido de direcionar os rumos do país. Basta analisar o que pode acontecer com essa ou aquela manipulação.


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