(Ilustração: Koz Palma)
Por Ricardo Azambuja, colaborador do Cafezinho
Acordei com um desânimo típico de quem recebe as notícias da manhã com senso crítico maturado no dia a dia da política brasileira. A desconfiança com a grande mídia acirra esse estado emocional. Fazer o que se, ao sentar em qualquer mesa de bar e restaurante para o cafezinho matinal ou almoço ou janta, somos estuprados pela programação televisiva em alto e bom som, nos desinformando com segundas intenções. Da janela do carro, do ônibus, a pé, outdoors de revistas completam o desserviço. A constatação de um certo desequilíbrio de forças a favor e contra o golpe me chama a atenção.
Não é um impeachment legal, mas puramente político, como atestou um ministro do Supremo Tribunal Federal em entrevista recente na Europa. Ora, se as ditas pedaladas fiscais não se sustentam como justificativas legais para o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, sendo necessário o ingrediente político, abrimos um precedente à ilegalidade. Torna-se golpe. Quase todos, aqui e no exterior, sabem disso. Mas a mentira é insistentemente reforçada pela grande mídia e por ações jurídico-policialescas apenas contra um lado.
É o que se viu nas espetaculares prisão do ex-ministro Paulo Bernardo e na busca e apreensão na sede do PT paulista, amplamente divulgadas por todas as mídias. Ações planejadas e combinadas, com a intenção de surtir o efeito da desmoralização do partido que estava no poder antes do golpe, influenciar no julgamento do impeachment no senado. Se não, teríamos a prisão de Cunhas e Aécios há bem mais tempo. Não faltam indícios e provas para condená-los de forma espetacular, falta vontade e sobra interesse.
São muitos interesses por trás de tudo, nacionais e internacionais, todos penalizando o trabalhador e as conquistas sociais, rebaixando a soberania nacional a privatizações encomendadas. E os movimentos, as greves, os panelaços, a indignação, onde estão? Limitados às redes sociais e aos blogs? Definitivamente aqui não é a França dos movimentos sociais combativos. Somos reféns de um trauma ditatorial que se perpetua em órgãos de repressão ainda ativos e disfarçados, que matam, torturam e são intocáveis. Nem os crimes da ditadura militar conseguem punição por aqui, ao contrário dos países vizinhos. O povo acomodou-se em seu medo, perdeu a esperança. Representantes do povo acovardaram-se e/ou elevaram seus saldos em conta corrente. A direita cresceu.
Faz muita falta uma esquerda unida e organizada, inteligente, moderna, com propostas arrojadas, que saiba utilizar o marketing a seu favor, sem precisar mentir ou manipular. Basta esclarecer a maioria da população sobre ganhos e perdas. Convocar para ir às ruas gritar por suas verdadeiras necessidades e avanços. Essa seria a maneira de equilibrar o jogo político. No momento, estamos perdendo de goleada.