Há 30 anos…

Por Luis Edmundo Araujo, editor de esporte do Cafezinho

Já foi dito aqui do lado certo, quase sempre, de Diego Maradona no campo da política, mas hoje o assunto vai ficar só no futebol, no futebol e na guerra, na verdade, porque no dia 22 de junho, há exatos 30 anos, aquele que junto com Mané Garrincha ocupa o segundo pedestal entre os maiores de todos os tempos, um pouquinho só acima de Romário, Zidane e Beckenbauer, talvez Ronaldo, o maior camisa 10 da história, depois de Pelé, primeiro virava Deus, abrindo o placar com a ajuda da “mão divina”, e depois marcava o gol mais bonito de todas as Copas, numa arrancada espetacular driblando todo mundo desde antes do meio-campo, goleiro inclusive, sem entrar com bola e tudo por pura humildade em gol. E tudo contra a Inglaterra, quatro anos depois da derrota fragorosa argentina na Guerra das Malvinas (ou Falklands, para os ingleses), da rendição após menos de três meses de guerra, que ao menos teve o mérito de apressar a derrocada do regime militar na Argentina.

Era a nossa vingança, sim, para compensar uma parte do que foram as Malvinas. Todos nós dissemos antes, na época, que não iríamos misturar as duas coisas mas era mentira. Mentira! Não pensávamos em nada além da guerra, ao inferno que aquele seria um jogo como outro qualquer.

A declaração de Maradona em sua autobiografia, I am El Diego, publicada em 2000, mostra bem o clima entre os argentinos para aquela partida das quartas-de-final da Copa do Mundo de 1986, no Estádio Azteca, na Cidade do México, diante de 114.580 pessoas. Era também o primeiro reencontro de argentinos e ingleses em Mundiais, exatos 20 anos depois da primeira escaramuça entre eles, em campos britânicos, e também em quartas-de-final de Copa do Mundo, quando os ingleses venceram por 1 a 0 o jogo repleto de reclamações por parte dos argentinos e seguiram para conquistar o título em casa, na final contra a Alemanha, em outra partida polêmica no quesito arbitragem.

Em 1986 a Inglaterra tinha o atacante Lineker, líder de uma geração que viria a ter ainda, quatro anos depois, Paul Gascoigne, quando o English Team chegou mais perto de repetir o feito de 1966. Lineker faria o gol de honra britânico no Azteca, aos 36 do segundo tempo, quando Maradona já tinha basicamente definido a partida, depois de um jogo inteiro em alta intensidade.

Como Lineker, o goleiro Peter Shilton também foi titular da seleção inglesa nas Copas de 1986 e de 1990, na Itália. Com seu 1,83 m de altura, não ara assim tão alto quanto a média dos goleiros de hoje em dia, mas certamente ganharia a disputa com o baixinho Maradona no primeiro gol, aos 6 minutos do segundo tempo, não fosse a tal “mão de Deus”, copiada depois por Lionel Messi. Quatro minutos depois, veio o gol que enlouqueceu narradores em todo o mundo. Ainda viria a Bélgica na semifinal e a Alemanha na decisão antes da consagração mundial com a conquista da Copa, mas ali, vencendo os ingleses quatro anos após as Malvinas, Maradona já era deus para os hermanos.

luis.edmundo@terra.com.br

 

 

 

 

 

 

Luis Edmundo: Luis Edmundo Araujo é jornalista e mora no Rio de Janeiro desde que nasceu, em 1972. Foi repórter do jornal O Fluminense, do Jornal do Brasil e das finadas revistas Incrível e Istoé Gente. No Jornal do Commercio, foi editor por 11 anos, até o fim do jornal, em maio de 2016.
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