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Presidente interino Michel Temer é citado em delação premiada em investigação por corrupção
Ex-presidente de unidade da Petrobras acusou Michel Temer de organizar as contribuições para as campanhas ao seu partido em 2012
A administração do presidente interino Michel Temer vem sendo alvo de alegações de corrupção desde que substituiu Dilma Rousseff em maio último.
Atualizado em 15 junho de 2016
Por Jeffrey T. Lewis, no Wall Street Journal. Tradução: Vera Sá.
Original: Brazil’s Interim President Michel Temer Linked to Corruption Probe in Plea Bargain, por Jeffrey T. Lewis, no Wall Street Journal
SÃO PAULO – O recém-iniciado governo do presidente interino Michel Temer foi sacudido por novas alegações de corrupção nesta quarta-feira (15), após a publicação de delação premiada que o implica na Operação Lava-Jato, que tem como alvo a companhia petrolífera estatal Petrobrás.
Substituindo Dilma Rousseff desde maio quando ela foi afastada do cargo em face de seu julgamento por impeachment, o presidente interino Michel Temer supostamente pediu, em 2012, ao então presidente da unidade de transporte da Petrobrás (Transpetro), que conseguisse contribuições ilegais para campanhas do partido de Temer (PMDB), de acordo com a delação premiada divulgada pelo Supremo Tribunal Federal nesta quarta-feira.
Foi a primeira vez que Temer foi implicado diretamente na bem-sucedida investigação por corrupção chamada Lava-Jato, a qual envolveu dezenas de políticos e empresários de alto escalão, incluindo lideres do partido do presidente Temer, PMDB.
Nesta quarta-feira, o presidente Temer negou que tenha solicitado contribuições ilegais para campanhas eleitorais e classificou as acusações de “completamente falsas”.
Os fatos são as alegações mais recentes por corrupção apontadas para a administração Temer, que está no cargo como presidente interino do Brasil há cerca de um mês.
Dois membros de ministério, incluindo o ex-ministro da Transparência, demitiram-se no mês passado em resposta às alegações de que eles tentaram barrar as investigações sobre o enorme esquema de propinas que acontecia na Petrobrás.
“Esses fatos aprofundam a crise do governo”, afirmou Pedro Fassoni Arruda, professor de ciências políticas na PUC-SP. “Mas uma delação premiada não prova nada. É só o começo da investigação”.
Sérgio Machado, ex-presidente da Transpetro, em um acordo de delação premiada que acabou de ser divulgado, declarou que, a pedido de Temer, organizou a doação de R$ 1 milhão (US$ 434 mil) de uma empreiteira para o partido de Temer. Em troca, segundo seu testemunho, a construtora receberia ajuda em contratos que vencessem licitações.
Machado também afirmou que, Temer, ainda vice-presidente na época, revelou a Machado sua preocupação com o fato de que o candidato de seu partido à prefeitura de São Paulo, Gabriel Chalita, precisava de mais dinheiro.
A Petrobrás não fez comentários. Gabriel Chalita, que perdeu as eleições em 2012, declarou que todas as contribuições para sua campanha foram feitas de forma legal.
Alguns analistas minimizaram a importância desses desdobramentos.
“Não há nada ilegal em pedir doações”, afirmou Pierre Moreau, advogado em São Paulo, que ainda disse que seria um problema “se Temer soubesse que havia algo ilegal”, por exemplo, se soubesse que vantagens estivessem sendo oferecidas em troca de doações para campanhas.
Segundo um porta-voz da Operação Lava-Jato, Machado buscou os procuradores responsáveis por tal operação e se ofereceu para negociar um acordo de delação premiada depois que outras pessoas acusadas no caso disseram que ele participou do esquema de licitações fraudulentas e pagamento de propinas.
Nas últimas semanas, a imprensa brasileira tem divulgado trechos vazados do testemunho de Sérgio Machado, incluindo a alegação que atinge Temer e outros trechos, que por sua vez resultaram na demissão de dois ministros do governo Temer.
Professor de ciências políticas na Insper, escola de negócios em São Paulo, Carlos Mello acha difícil que a aprovação do governo Michel Temer, que atingiu o índice de aprovação de 11,3% em pesquisas recentes, caia ainda mais.
“A opinião pública não está surpresa, pois todos sabem que Temer está na politica há muito tempo.”
Em sua delação premiada, Sérgio Machado também alegou que outros membros importantes do PMDB receberam milhões de reais como suborno, como o presidente do Senado Renan Calheiros, o ex-presidente José Sarney, e o ex-ministro do Planejamento do governo interino, o senador Romero Jucá.
Machado acusou o senador Aécio Neves, candidato do PSDB à presidência em 2016, de aceitar pagamentos ilícitos.
Todos os quatro citados negaram as afirmações.
Sérgio Machado afirmou ter ouvido de vários senadores que o maior frigorífico do mundo, a brasileira JBS S.A., doaria R$ 40 milhões ao PMDB, e que essa quantia seria distribuída entre os senadores do partido para as eleições de 2014. Machado disse aos procuradores desconhecer se a JBS obteve algo em troca.
A JBS declarou que todas suas doações para campanhas foram legais. Na quinta-feira (16) as ações da empresa caíram 3,2%, passando a valer R$ 9,76.
—Luciana Magalhães e Rogerio Jelmayer contribuíram para este artigo.