Crise de governo no Brasil

Presidente do Senado, senador Renan Calheiros(PMDB-AL) e ministro do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão, Romero Jucá após encontro na Presidência. Foto: Jane de Aráujo/Agência Senado

Foto: Jane de Araújo/ Agência Senado

Por Andreas Behn – TAZ (Alemanha), 24 de maio de 2016 / Tradução: Sara Vivacqua, ativista do Conexões em Luta

Plano de Golpe de Estado para escutar

Uma gravação de áudio evidencia que a deposição de Rousseff foi planejada para por fim às investigações por corrupção. Ajudaram na derrubada os militares e o judiciário?

“Já não planeja mais”

RIO DE JANEIRO. Para deter as investigações por corrupção é necessário um “pacto nacional”. “Com o Supremo, com tudo, (…) botar o Michel (no governo), (…) aí parava tudo”. Romero Jucá fala sem inibições e com todas as letras, ele não suspeitara que seus oponentes interceptavam tudo. Então, uma vez mais ele vai ao ponto: “Tem que mudar o governo para estancar essa sangria”, diz Jucá em defesa dos muitos políticos suspeitos de corrupção no Brasil.

A conversa do Ex-diretor da Petrobras, Sérgio Machado, ocorreu em março, dois meses antes da Presidente Dilma Rousseff ter sido provisoriamente suspensa do cargo em um controverso processo de impeachment. Agora Michel Temer é presidente interino, e nomeou seu correligionário (ou colega de partido) e homem de confiança próximo, Jucá, para Ministro do Planejamento. Após a publicação da gravação de áudio pelo jornal Folha de São Paulo, Jucá, em um primeiro momento, declara que com “sangria” ele se referia a grave crise económica. Horas mais tarde colocou seu cargo a disposição.

Muito do que os opositores do impeachment sempre afirmaram, fica agora preto no branco: Ela não foi deposta por má conduta ou por corrupção, mas pelo contrário – para terminar com as investigações por corrupção, que ameaçam toda a classe política, e sobretudo agora o novo Governo. Jucá e Machado estão ambos implicados até o pescoço no escândalo de corrupção na petroleira paraestatal Petrobras.

Jucá predizia naquele momento, que o impeachment de Rousseff levara ao “fim da pressão da imprensa e de outros setores pela continuidade das investigações da Lava Jato. ” O ex-senador informa com todas as letras até mesmo sobre encontros com Ministros individualmente, e explica: “tem poucos caras [no STF]” a quem ele não tem acesso. Ele tinha conversado inclusive com Generais. “Está tudo tranquilo, os caras dizem que vão garantir. ” Então Jucá afirma que os militares estariam monitorando o MST, mas que não sabia o porquê.

Nesse ponto até teóricos da conspiração ficam desconfiados. Seria realmente verdade que Militares e parte do Supremo Tribunal Federal ajudaram a enxotar uma presidente impopular do cargo? Vários membros do Supremo reagiram prontamente e declararam categoricamente que a afirmação de Jucá era inteiramente inventada.

Finalmente Provas

O Partido dos Trabalhadores, até a pouco, partido governista, viu-se obrigado a falar de um “golpe de estado”. Afonso Florence, Líder do PT na Câmara, avaliou a gravação como não sendo surpreendente, mas que finalmente tem-se uma confissão: “[…] Ali tem crimes como obstrução da Justiça, ataque à democracia (…) ”. Finalmente ficou provado que eles (os opositores do PT) lideraram o ataque a Petrobras. A máscara do governo golpista de Temer caiu, explica Florence.

A oposição exige a cassação imediata de Jucá e investigações criminais. Tanto ele quanto Temer pertencem ao PMDB, que em março abandonou o governo de Rousseff. Em apenas duas semanas no cargo a pressão sobre o interinato de Temer incrementa. Já no domingo ele faz o primeiro grande recuo e desfaz a veementemente criticada extinção do Ministério de Cultura. Seu gabinete foi desde o início criticado e ridicularizado; nenhuma única mulher e nenhum único negro entre os 23 ministros. Mas em contrapartida sete senhores, contra os quais a Suprema Corte (STF) investiga no escândalo da Petrobras.

A saída de Jucá enfraquece a equipe econômica de Temer, agora no processo de impor ao Brasil um estrito programa de austeridade. De acordo com pesquisas, Temer é tão impopular quanto Rousseff, responsabilizada pela grave crise econômica. Diariamente irrompem-se protestos em diversas cidades contra o discutível governo interino, no domingo a polícia reprimiu através do uso da forca uma manifestação em frente à residência de Temer em São Paulo. Na segunda feira, à noite, após a publicação dos áudios de Jucá ocorreram novas manifestações espontâneas.

Desde já é possível prever que o caso Jucá não será o último problema do governo de Temer. O ex líder da oposição e atual parceiro de coligação, Aécio Neves, do conservador PSDB – que perdeu por uma margem estreita o segundo turno das eleições para Rousseff em 2014 – vem sendo associado sempre com o escândalo [Lava-jato]. Jucá o chama a luz da investigação simplesmente como um “caso perdido”. E segundo publicações na imprensa, Machado gravou o interlocutor Jucá não apenas nesta conversa, mas também em diálogo com o Presidente do Senado Renan Calheiros, outro cacique do PMDB, que também já se encontra sob investigação.

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