Por Luis Edmundo Araujo, editor de esporte do Cafezinho
Eles até já tinham chegado a uma final de Copa do Mundo antes, em 1938, mas encantaram o mundo mesmo com outro vice-campeonato mundial, naquela que até hoje é considerada a maior zebra das decisões de Mundiais. Depois da derrota inesperada para a Alemanha, então somente Ocidental, o futebol vistoso, habilidoso, da escola húngara sobreviveu ao desmanche do exílio de seus principais craques, Ferenc Puskas à frente, e ainda frequentou as grandes competições por três décadas, até cair num ostracismo de exatos 30 anos, encerrado ontem com a vitória por 2 a 0 na estreia da Eurocopa, sobre a Áustria, que atravessara invicta as eliminatórias do torneio.
Não que se vá tecer aqui qualquer tipo de comparação deste time húngaro atual com a geração de Puskas, Zoltan Czibor, Sándor Kocsis e Nándor Hidegkuti, pra ficarmos apenas nos atacantes daquele time campeão olímpico de 1952, quando o futebol magiar (húngaro em húngaro) começou a justificar a associação tão próxima na fala, logo ali, com a magia. Seria injusto, pesado demais para o time húngaro atual sequer ser colocado na mesma frase dos chamados mágicos magiares, mas nada impede que se celebre o retorno de uma camisa de peso, de uma escola, de um estilo, ainda mais se o segundo gol da vitória de ontem, de outro Zoltan, não Czibor, mas Stieber, foi tão digno, no toquinho por cima no limiar da displicência, na saída do goleiro, digno de qualquer um dos maiores representantes desse estilo, dessa escola, dessa camisa que viveu seu momento mais glorioso em campos suíços, na trajetória até a decisão da Copa do Mundo de 1954.
De 1950 até o dia da final do Mundial da Suíça, a seleção húngara não perdeu um sequer dos 32 jogos que disputou, incluídas nesta série invicta a vitória de 6 a 3 sobre a Inglaterra dentro de Wembley, a primeira derrota em casa dos inventores do esporte, e a goleada ainda maior, de 8 a 3, aplicada nos mesmos alemães que iriam enfrentá-los na decisão, na mesma competição, na primeira fase. Os húngaros venceram ainda o Brasil nas quartas-de-final da Copa, no jogo que ficou conhecido como a batalha de Berna, e depois, em outra batalha, superaram os uruguaios, até então campeões mundiais, na semifinal.
A derrota na decisão da Copa abriu as portas para o êxodo que estourou mesmo dois anos depois, com a revolução húngara. O Honved Budapest, base da seleção na época, disputava a segunda edição da hoje globalizada Champions League. Perdeu o primeiro jogo contra o Athletic Bilbao, da Espanha enquanto a população húngara se rebelava contra o regime soviético. Depois empatou por 3 a 3 o segundo jogo, mandando a partida em Bruxelas, e dali, com a maior parte dos parentes dos jogadores já fora de seu país, a equipe partiu para o Brasil, a convite do Flamengo, para uma série de amistosos no Rio e em São Paulo, também contra o Botafogo, de onde alguns jogadores, entre eles Puskas, Czibor e Kocsis, não voltaram mais.
A seleção húngara ainda respirou em Copas do Mundo, a ponto de eliminar o Brasil de novo, em 1966, mas nas três últimas participações, em 1978, 1982 e 1986, não passou da primeira fase. Chegou a aplicar a maior goleada das Copas, 10 a 1 em El Salvador, em 82, na Espanha, mas quatro anos depois, no México, se despediu dos Mundiais levando de 6 da então União Soviética. Agora volta, 30 anos depois, liderada pelo veterano goleiro Gabor Kiraly, que tornou-se ontem o único jogador quarentão a atuar em um jogo de Eurocopa, o mais velho, portanto, a jogar a competição, ele que debutava nela, aos 40, depois de 30 anos de espera pela volta do futebol magiar aos grandes palcos da bola.
luis.edmundo@terra.com.br
Antonio Passos
15/06/2016 - 15h00
Foi a maior zebra e também a maior roubalheira a copa de 54. Os alemães jogaram dopados, alguns foram até internados depois por isso. O juiz anulou um gol húngaro no final porque quis. E outros detalhes sórdidos.
MarcoLakers #MambaDay
18/06/2016 - 14h09
Sem falar que eles machucaram o Puskás na fase de grupos de propósito.