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(Foto: EBC).
Análise Diária de Conjuntura – 09/06/2016
Quero fazer minha análise de hoje a partir de quatro notícias:
1) Um post publicado ontem no Tijolaço, com observações sobre o espetáculo de ontem no circo montado na comissão de impeachment no Senado.
2) A reportagem da Agência Pública, sobre as pedaladas de 17 governadores.
3) O último post de Wanderley Guilherme dos Santos, que ironiza, no último parágrafo, a citação de Maquiavel por alguns áulicos do governo interino.
4) O fio desencapado da Lava Jato: a delação de Zwi Skornicki, representante de um estaleiro, à Globo, segundo a qual ele teria dado US$ 4,5 milhões à “campanha da Dilma” em 2014.
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Comecemos pelo penúltimo item, que é o mais engraçado, e a quantidade de desgraças que rondam a política nacional tem sido tão avassaladora que, para sobrevivermos, teremos que nos tornar um pouco mais cínicos e muito mais sarcásticos. Ou seja, teremos que ressuscitar o humor negro que tanto nos ajudou nas décadas de 80 e 90.
Alguns dias após o Senado aprovar o afastamento da presidenta por 180 dias, a Folha publicou uma matéria intitulada “Empresários sugerem que Temer faça mal rápido e bem aos poucos”. A frase é obviamente inspirada em Maquiavel. O tom da matéria já trazia a previsível e abrupta virada na grande imprensa: deixa de ser partido de oposição para se tornar a principal base de sustentação do governo federal. E isso apesar das brincadeirinhas de Noblat, postando “Primeiramente, fora Temer”, como se isto significasse alguma coisa: o chapa-branquismo da Globo agora é absoluto e incontestável. Revela-se em cada centímetro semiótico de seus jornais, revistas e canais de TV.
O editor do jornal e os empresários que lêem o caderno da Folha devem ter achado genial a frase, aparentemente apanhada de uma declaração do empresário Carlo Botarelli, que a enfeita com uma tirada fiespiana: “Saímos do bolivarianismo. Agora é preciso fazer o mal na hora e o bem aos poucos”.
Wanderley Guilherme dos Santos, em seu último post, identificou a origem da citação maquiavélica. Ela consta no capítulo VIII, intitulado “Dos que alcançaram o principado pelo crime”.
Bem oportuno para descrever o governo Michel Temer!
Neste capítulo, Maquiavel cita dois exemplos de tiranos que alcançaram o poder “por vias celeradas, contrárias a todas as leis humanas e divinas”.
O primeiro exemplo é Agátocles Siciliano, rei de Siracusa, que obteve o poder da seguinte maneira. Maquiavel relata que Agátocles, após uma carreira repleta de maldades na milícia de Siracusa, alcança o posto de pretor, uma espécie de procurador geral da época. Nesta condição, usa uma de suas prerrogativas para reunir o povo e o senado da cidade, com a desculpas de que precisava consultá-los sobre os negócios públicos. Quando todos se reúnem na praça, os mercenários de Agátocles saem de esconderijos e assassinam todos os senadores e os homens mais importantes da cidade. E assim Agátocles se apodera do governo.
Eu ainda estou na dúvida quem seria o Agátocles de hoje: Michel Temer, Janot, Gilmar Mendes ou João Roberto Marinho. Provavelmente, todos eles.
Maquiavel observa, com o sombrio, discreto, sarcasmo que torna o Príncipe uma obra-prima não apenas política, mas literária, que “ainda que não se possa considerar ação meritória a matança de seus concidadãos, trair os amigos, não ter fé, não ter piedade nem religião, com isso pode-se conquistar o mando, mas não a glória.”
A partir do exemplo de Agátocles – e de um outro caso, mais moderno, relatado no mesmo capítulo – é que o autor florentino tirará a máxima de que “as injúrias devem ser feitas todas de uma vez e os benefícios devem ser realizados aos poucos”.
Entretanto, se Michel Temer quiser mesmo adotar os preceitos que Maquiavel dá àqueles que “alcançaram o principado pelo crime”, ou através de um golpe, para usar uma terminologia politicamente moderna, deve cuidar para não praticar o mal da maneira errada: “Mal usadas são as [crueldades] que, ainda que a princípio sejam poucas, em vez de se extinguirem, crescem com o tempo”.
Agora comentemos o item 1 mencionado no início do post: um artigo de Fernando Brito, do Tijolaço, sobre o espetáculo de ontem no circo da comissão do impeachment.
Gostei particularmente dessa parte:
Depois, quando Janaína se servia das perguntas às testemunhas para fazer discursos de direita (pré)primária, falando em remessas para Cuba, para a Venezuela e para a África e foi advertida do óbvio – que as perguntas devem se ater ao objeto do processo – novamente Marta saltou em defesa da sua nova pupila.
Isso se tornou a comissão do impeachment, um show de bizarrices, não muito diferente daquele espetáculo satânico protagonizado por Janaina Paschoal na USP (do qual aliás a grande mídia jamais fez um uso decente – mas que, mesmo assim, entrou para a história através das redes sociais).
Janaina, na condição de “acusadora” da presidenta Dilma, vomita clichês reaças sobre Cuba, Venezuela, África, como se isso tivesse alguma coisa a ver com a acusação que se faz contra a presidenta… E Marta Suplicy, até pouco tempo senadora do PT e ministra de… Dilma, se posiciona apaixonadamente ao lado de… Janaina.
Realmente, um espetáculo tão grotesco, com traições tão sujas, só encontra paralelo na Itália feudal de Niccolò Machiavelli.
Espero, contudo, que Michel Temer não leve o florentino tão a sério a ponto de seguir um outro conselho do autor aos príncípes, este no capítulo V:
É que, em verdade, não existe garantia mais segura do que a ruína. Quem se torna senhor de uma cidade tradicionalmente livre e não a destrói, será destruído por ela.
Agora falemos um pouco sobre a reportagem da Agência Pública, descrevendo operações de “pedalada fiscal” cometida por pelo menos 17 governadores (a reportagem lista alguns outros governadores que também maquiaram contas, mas cujas maquiagens a agência não tinha certeza se podia chamar de “pedaladas”).
Em geral, as pedaladas dos governadores é para tirar dinheiro do orçamento social para jogar no custeio, ao contrário das feitas por Dilma, que tiraram do custeio para jogar no social, embora sem incorrer, com isso, em nenhum prejuízo para os cofres públicos.
Entretanto, não podemos tergiversar: pedalar, maquiar as contas, não é bonito. Tem razão uma outra reportagem da Pública, que chama pedaladas de “um chute na transparência”. Mas a diferença no tratamento dado à presidenta Dilma, em relação aos governadores, e o silêncio cúmplice sobre essa assimetria, por parte de tantos setores (mídia, TCU, STF, parlamento), envenenará a atmosfera da nossa democracia por muitos anos.
Sem contar que não se pode confundir o necessário rigor na administração das finanças públicas com uma visão absolutamente burocrática, irreal, da prática administrativa, sujeita a variáveis fora do controle do governo.
Por fim, um breve comentário sobre o último vazamento seletivo da Lava Jato, a delação de um executivo, segundo a qual sua empresa teria doado US$ 4,5 milhões à campanha de Dilma em 2014.
Em primeiro lugar, mais uma vez está claro que a delação não é mais feita à Justiça, e sim à Globo, visto que a mídia parece ser o destino principal de um depoimento supostamente secreto.
Em segundo, a Lava Jato tenta uma jogada esperta, mas bem típica das fraudes judiciais políticas que se vem operando desde o julgamento do mensalão, que é interpretar livremente a movimentação bancária de alguns indivíduos e empresas sob suspeita. No caso, João Santana. A Lava Jato conseguiu, através de seu método já conhecido de tortura psicológica, persuadir o engenheiro Zwi Skornicki a delatar a campanha de Dilma em 2014. É a única maneira que ele enxergou de sair da masmorra de Sergio Moro. A empresa da qual Skornicki é representante, o estaleiro Keppel Fels, tinha interesse nas eleições de Angola e pagou Santana para fazer o marketing político do presidente de lá. Pagou no exterior, conforme explicou Mônica Mora, esposa de João Santana, também prisioneira na Guantanamo de Curitiba.
A Lava Jato, maldosamente, convenceu o executivo a dizer que o dinheiro não era para a campanha de Angola, e sim para a campanha de Dilma.
A própria mulher de Santana, conforme se depreende de notícia da Globo, também não aguentou a tortura da prisão perpétua (e sabe-se que lá outros métodos dentro da prisão se aplicam às vítimas) e já se dispôs a entrar no jogo sujo de uma Lava Jato profundamente mergulhada no golpe. Quem suporta a tortura da prisão perpétua de Moro, associada à uma campanha de demolição moral via grande mídia apenas comparável às farsas judiciais da Rússia estalinista?
A denúncia não tem sentido, porque a campanha de Dilma pagou oficialmente à Santana R$ 70 milhões. Quem paga essa quantia a um marketeiro não está disposto a se arriscar fazendo depósito no exterior.
Mas não é preciso provas. A prova que se queria era simplesmente a prisão de João Santana e esposa. Ele não era o “marketeiro da Dilma”? Ele foi preso por isso, ponto final. Agora qualquer dinheiro que se encontrar em suas contas no exterior, a Lava Jato poderá usar para criminalizar a campanha da petista, objetivo mais urgente das movimentação dos procuradores, porque ajudaria a consolidar o golpe. Esse é o modus operandi de Sergio Moro desde o início: prende primeiro, depois investiga.
O jogo é esse: torturar e obrigar os executivos a ajudar os procuradores a montar a narrativa cujo final eles já determinaram há tempos: criminalizar o PT, prender Lula e derrubar o governo.
Já conseguiram derrubar o governo. Entretanto, até a votação final no senado, a Lava Jato, na mesma linha de sua atuação antes da votação na Câmara, subsidiará a mídia com delações e vazamentos não apenas seletivos, mas caprichosamente preparados, seguindo o método estalinista da confissão forçada, de maneira a produzir a atmosfera necessária à consumação do impeachment.
Eventuais sacrifícios de caciques do PMDB, ou mesmo alguns do PMDB, serão efeito colateral para cumprir o objetivo que se quer: eliminar a esquerda do poder e instaurar um neoliberalismo radical, de longo prazo.[/s2If]