Mafiosos aparelham o governo. Cadê a mídia?
Por Altamiro Borges, em seu blog.
A mídia privada, que orquestrou o “golpe dos corruptos”, é descarada. Ela tem feito um baita esforço para limpar a barra do governo interino do Judas Michel Temer. Nesta semana, ela noticiou com certo estardalhaço a decisão do Palácio do Planalto de “paralisar as nomeações políticas nas estatais e nos fundos de pensão”. Só não informou que a medida foi tomada para conter a gula dos mafiosos, que já ocuparam vastos espaços do governo. Logo após o afastamento da presidenta Dilma, em 12 de maio, os velhos patrimonialistas – com o seu senso de oportunidade, para não dizer oportunismo – correram para obter os cargos mais influentes e melhor remunerados. O apetite foi tão descontrolado que levou o chefe do assalto ao poder a dar um freio de arrumação. Afinal, ele precisa barganhar apoios e votos!
Segundo elogiou a Folha golpista, “o presidente interino, Michel Temer, anunciou nesta segunda-feira (6) a suspensão de todas as nomeações para diretorias e presidências de empresas estatais e de fundos de pensão… A iniciativa é proposta como tentativa de agenda positiva no momento em que o governo enfrenta desgastes com o envolvimento de ministros nas investigações da Operação Lava Jato”. A decisão, porém, só serve para enganar os “midiotas”, os ingênuos que acreditam na imparcialidade da imprensa privada e nas intenções do governo ilegítimo de montar uma equipe “técnica e competente”. Em pequenas notas, sem maior escarcéu, a própria mídia já havia registrado a corrida pelos cargos.
A terceirização na corrida pelos cargos
Na semana passada, por exemplo, a revista Época, da gulosa famiglia Marinho, postou duas notinhas reveladoras. “A nova presidente do BNDES, Maria Sílvia Bastos Marques, ainda consta como filiada ao DEM. Ela se filiou ao então PFL nos anos 1990, quando figurou como pré-candidata à prefeitura do Rio de Janeiro para suceder a César Maia”, registra a primeira. Já segunda revela que “o prefeito de Salvador, Antonio Carlos Magalha?es Neto (DEM), trabalha para emplacar o novo presidente do Fundo Nacional do Desenvolvimento da Educac?a?o… O FNDE e? tido como o ‘DNIT’ do Ministe?rio da Educac?a?o, em refere?ncia ao alto orc?amento do órgão responsa?vel pela construc?a?o de estradas”.
Já a Folha publicou na coluna Painel, sem qualquer crítica. “Para evitar que queixas de parlamentares atinjam diretamente o seu núcleo político, Michel Temer decidiu terceirizar parte da montagem do governo. Pediu que os partidos aliados se organizem entre si nos Estados e levem ao Planalto uma definição prévia das indicações. Enquanto não houver acerto, as nomeações não acontecem. Com isso, o presidente tenta impedir que a Secretaria de Governo receba o ônus de decidir entre dois padrinhos quando houver disputa pelo mesmo cargo. A terceirização blinda o posto responsável pela interlocução com o Congresso Nacional, que costuma ter alta rotatividade no Palácio do Planalto”.
O ódio vingativo da mídia golpista
Logo após a concretização do “golpe dos corruptos”, a mídia venal foi enfática ao pregar o chamado “desaparelhamento” do governo. Ela até fez estardalhaço com um relatório produzido pelo Tribunal de Contas de União (TCU), que revelaria que os petistas ocupariam a maioria dos cargos em Brasília. Na sequência, porém, a mídia abafou o relatório. Isto porque ele confirmou o tal “republicanismo” do PT. Dos 22,2 mil cargos em comissão no executivo federal, foram encontrados 2.444 funcionários filiados a partidos políticos, pertencentes a 31 legendas. Destes, 13,6% pertenciam ao PT, 10,98% ao PMDB e – pasmem – 9,64% eram filiados ao PSDB, da oposição.
Apesar desta conclusão, os revanchistas da imprensa insistiram na tese do “desaparelhamento”, com a demissão sumária dos “lulopetistas”. O jornal O Globo, da famiglia Marinho, chegou a publicar um editorial raivoso em 19 de maio, pregando que “o governo Temer deve mesmo reverter a infiltração de militantes na máquina pública, não só devido a custos, mas também como medida de segurança”. Segundo o texto vingativo, carregado de ódio, “entre as heranças malditas deixadas pelo lulopetismo para o governo do presidente interino Michel Temer, uma das mais intrincadas é o aparelhamento da máquina pública, executada com método pelo PT e aliados no decorrer de 13 anos”.
Agora, porém, quando a máquina pública é ocupada, acintosa e ilegalmente, pelas raposas do PMDB, PSDB, DEM e outras siglas fisiológicas, a mídia golpista silencia. Não dá manchetes e nem aciona os seus capangas de plantão. Na prática, a imprensa falsamente moralista é cúmplice da máfia que hoje aparelha o Estado como fruto podre de um “golpe dos corruptos”. Só mesmo os “midiotas” ingênuos poderiam acreditar na falsa tese do “desaparelhamento” do governo. Já na composição do “ministério de notáveis” de Michel Temer ficara evidente que este seria um governo de bandidos e reacionários.
Como ironizou o cronista Luiz Fernando Veríssimo, em sua coluna no Estadão, “é injusto dizer que o país está mal representado no ministério do Temer. Há de tudo no ministério: racistas, machistas, tudo. Richard Nixon, certa vez, defendeu uma nomeação sua que estava sendo muito criticada com a sábia frase: ‘A mediocridade também precisa ser representada’. Temer não esqueceu os medíocres”. E nem os mafiosos!