Por Leonardo Miazzo, editor geral do Cafezinho
O Cafezinho noticiou nesta quinta-feira que, mesmo com candidaturas próprias, os partidos de esquerda vão fechar um pacto de não-agressão nas eleições municipais do Rio de Janeiro. Embora a ideia tenha limitações, representa sem dúvida um avanço. O divisionismo da esquerda brasileira, manifestado em todos os níveis da política, apenas contribui com o fortalecimento da direita. Este já é um processo histórico. Se o Rio tenta se livrar do domínio dos candidatos conservadores – que já dura mais de 30 anos -, a esquerda em São Paulo tem, em 2016, o desafio de assegurar o prosseguimento de uma gestão progressista, atualmente representada pela figura de Fernando Haddad.
Há, no entanto, uma divisão ainda mais clara do que no caso carioca. Até se cogitava a possibilidade de uma frente de esquerda envolvendo PSOL, PCdoB e PT em torno do atual do prefeito, mas a ideia não prosperou. Luiza Erundina, que recentemente deixou o PSB para fundar o Raiz Movimento Cidadanista, abrigou-se no PSOL e aceitou o convite para disputar a Prefeitura, tendo como candidato a vice o deputado federal Ivan Valente. Vale lembrar que Erundina era a candidata a vice de Haddad no início do jogo eleitoral em 2012, mas deixou a chapa após divergências com acordos fechados pelo PT.
São Paulo tem, neste momento, um prefeito de esquerda, algo que para muitos é surpreendente; afinal, a capital paulista é o reduto do conservadorismo brasileiro. O fato é que Haddad, mesmo bombardeado pela imprensa, liderou uma gestão marcada por importantes avanços, especialmente no que se refere à mobilidade urbana e à ocupação do espaço público. E a direita paulistana, com Paulo Skaf (PSDB), Celso Russomano (PRB) e João Dória Jr. (PSDB), admite publicamente que vai reverter prioridades e atacar conquistas da cidade, como ciclovias e corredores de ônibus. É neste contexto que se apresenta a necessidade de barrar essa ofensiva e defender um projeto popular para São Paulo; por isso, soa no mínimo ingênua a estratégia da esquerda.
É preciso entender, também, o amplo contexto político em que se desenvolvem as eleições municipais. O golpe contra a presidenta Dilma foi, também, um golpe contra a esquerda em geral, incluindo os seus movimentos de luta. A campanha de ataques aos partidos e políticos progressistas, com o financiamento da grande imprensa, certamente vai se estender ao pleito municipal. Em São Paulo, é fato que os conservadores vão adotar táticas violentas contra Haddad; em outras palavras, existe união na direita, ainda que com candidaturas próprias. Todos eles terão um inimigo em comum. Voltando ao PSOL, é importante destacar que o partido, ao contrário de PT* e PCdoB, não tem uma estrutura centralizada, ou seja, é organizado em correntes, entre as quais há profundas divergências. Em 2014, nas eleições presidenciais, Luciana Genro atacava Dilma com entusiasmo, ecoando muitas das críticas feitas pelos candidatos de direita. Genro representa uma corrente que, agora, se nega a fazer parte da luta contra o golpe.
Mas Luiza Erundina e Ivan Valente são, sem dúvida, comprometidos com os valores progressistas. Se a união formal, via chapa única, já não é mais uma possibilidade, ao menos deve ser discutida uma aliança aos moldes da carioca: evitar agressões e, assim, não permitir que a direita se fortaleça ainda mais.
O cenário político atual não permite caprichos ou idealismos. É necessário pensar de modo prático, direto, despendendo energia para combater os reais inimigos. Rachas na esquerda, neste momento, não trazem qualquer resultado positivo.
Ainda há tempo para perceber isso.
* O Partido dos Trabalhadores, embora formalmente organizado em correntes desde a sua fundação, vem cada vez mais se tornando uma sigla centralizada em torno do grupo que ocupa a direção. Na prática, portanto, há centralização das decisões.