A seletividade política e o patriotismo equivocado na sociedade brasileira

Meme que circula em páginas de direita, anti-PT

por Bruno Costa

A expressão “seletividade política” tem sido utilizada para fazer referência ao modo como a justiça ou os agentes públicos tem atuado (de forma favorável ou desfavorável) em relação aos acusados nas operações judiciais em curso.

Mas pretendo tratar da seletividade dos temas que interessam ou não à “casta pura” dos políticos que em nome de um “patriotismo” equivocado pretendem construir um futuro diferente para o país.

Fato inegável (e a redundância da afirmativa faz-se necessária): as maiores potências do mundo são as que mais investem em cultura e educação porque entendem que um povo não existe sem memória.

E para comprovar que a cultura é a memória de um povo, basta pesquisar quais são os países do mundo com a maior quantidade de museus, escolas e instituições dedicadas à arte: Alemanha, França, Inglaterra, Estados Unidos…

Em 1.500, os portugueses começaram a chegar ao nosso território para explorá-lo. Os que conseguiam enriquecer voltavam para Portugal e tornavam-se conhecidos por “brasileiros”.

Exatamente 516 anos depois, o Brasil é uma das dez maiores economias do mundo e o conceito de brasileiro foi ressignificado há muito tempo. Meio milênio nos separam daquela realidade, mas ainda existe uma classe preocupada em continuar fazendo o mesmo.

Ontem vi inúmeras pessoas apoiando a instauração da “CPI da Lei Rouanet”, o que me deixou bastante intrigado e reflexivo.

No atual contexto político do Brasil, tendo o presidente interino tentado extinguir o Ministério da Cultura e voltado atrás graças à pressão popular, a instauração dessa CPI se configuraria como perseguição política, verdadeira caça às bruxas, já que foi a classe artística que deu cara às vozes que militaram contra o fim do ministério.

Mas o que mais me impressiona é a pontual vontade política e a seletividade de alguns parlamentares para propor comissões para investigar seus temas preferidos.

Veja bem, a preocupação não é votar os temas urgentes, porque se fosse, a reforma política já teria acontecido.

E a impressão que fica é a de que andam tentando entender porque os empresários preferem investir em cultura a financiar caixa dois de político corrupto. É óbvio que a cultura dá muito mais futuro.

Não vejo tanta vontade para se criar uma comissão que, por exemplo, investigue as doações recebidas pelas “entidades religiosas” nem os financiamento de campanhas.

E você nem se dá conta de que o seu dízimo elegeria políticos nos quais você jamais votaria. E ninguém tem a mínima ideia do tamanho dessa orgia financeira “em nome da fé”. Ou você acha que a bancada religiosa se elege pela força da oração? E isso é muito sério.

O que está em jogo, para além das motivações políticas, é a exposição das mentalidades que estão pretendendo conduzir o país na contramão do mundo, ironicamente, porque nossos ricos e poderosos admiram as superpotências e querem adotar alguns modelos, mas são incapazes de se agarrar aos bons exemplos.

Curiosamente, todos imitamos os franceses. A elite, les maisons et les boutiques (as casas e as lojas); os trabalhadores, os protestos nas ruas pela manutenção de seus direitos.

E lhes impõe a Ordem enquanto fracassam com o Progresso social, político e econômico que nos conduziria certamente à Liberté, Égalité, Fraternité (Liberdade, Igualdade, Fraternidade), o oposto do que demonstram pretender.

Redação:
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