Por Luis Edmundo Araujo, editor de esporte do Cafezinho
Neste sábado, em Milão, a taça mais cobiçada da Europa será decidida entre dois clubes da mesma cidade, dois times que a chamam, com certa razão, de “La Orejuda”, ou, no nosso português, a Orelhuda. É a segunda vez na história que isso acontece e, de novo, os protagonistas da final familiar, caseira em solo estrangeiro, serão os mesmos do dérbi madrilenho. De um lado o decacampeão, o arquimilionário todo-poderoso Real Madrid, catapultado à glória pelos pés de Di Stefano, Puskas e cia, e pelas mãos do ditador Francisco Franco, que só deu continuidade a uma irresistível atração do fascismo pelo futebol; do outro o valente Atlético de Madrid, de origem basca, com menos dinheiro, menos craques badalados, mas politicamente nem tão diferente assim de seu rival caseiro, e detentor também de diversos títulos, um Mundial inclusive, ainda que nunca tenha sido campeão europeu.
O Atlético só jogou a Copa Intercontinental contra o Independiente da Argentina por desistência do Bayern de Munique de Beckenbauer, do goleiro Sepp Maier e do artilheiro Gerd Muller, base da seleção campeã do mundo em casa, naquele ano mesmo, que derrotou a equipe espanhola na decisão da Copa dos Clubes Campeões da Europa (atual Champions League) de 1974. Mesmo assim, a equipe que chega à sua terceira final de Champions tem sua história no futebol europeu desde a temporada 1961/62.
Campeão da extinta Copa de Vencedores de Copa e duas vezes da atual Liga Europa, em 2010 e 2012, o Atlético esteve a menos de minuto de conquistar a sonhada Champions League. Na final de 2014, vencia o maior rival por 1 a 0, gol do zagueiro uruguaio Godin, até os 48 minutos do segundo tempo, quando Sérgio Ramos empatou de cabeça. Na prorrogação, com a equipe cansada, esvaída, o Real passeou nos quinze minutos finais e aplicou 4 a 1, levando sua décima taça pra casa.
Na Champions seguinte, vencida pelo Barcelona de Messi, Neymar e Suarez, Real e Atlético se enfrentaram nas oitavas-de-final e, mais uma vez, deu Real. Incansável, coeso e forte desde a chegada do treinador argentino Diego Simeone, quando a situação virou para o Atlético, o time colchonero devolveu a derrota na decisão de 1974, eliminou o Bayern do treinador Pepe Guardiola na semifinal e está de volta à decisão da Champions. Depois de ser campeão espanhol, Simeone tem novamente a chance de fazer de seus comandados campeões europeus pela primeira vez. O embate com o Real é, de certa forma, sim, a batalha do mais forte contra o mais fraco, mas nem tanto, hoje em dia cada vez menos, até porque, se for para se contrapor a clara identificação do Real Madrid com o fascismo, não haveria de ser com o Atlético, também beneficiado pelo regime de Franco, ainda que menos. Haveria de ser com o glorioso Rayo Vallecano, o time mais à esquerda da capital espanhola.
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