Foto: Fabiola Ferrero/ El País
Capriles negociava com Lula a intermediação na crise venezuelana, e diz que concorda com o modelo progressista de Governo do PT
no El País
Henrique Capriles diz na entrevista ao EL PAÍS que é contrário ao impeachment de Dilma, por acreditar que o único caminho para a mudança de poder, seja na Venezuela ou no Brasil, é por meio do voto. Mas ele admite que os ventos na região mudam a partir de agora com a saída do PT no poder, o que faz Nicolas Maduro perder apoio na Unasul, por exemplo.
Pergunta. O que achou da tentativa de mediação de vários ex-dignitários, inclusive o espanhol José Luis Rodríguez Zapatero?
Resposta. Valorizo a visita de Zapatero, de Torrijos, de Fernández… De Pepe Mujica, se fosse o caso. Veja, antes que o Governo [de Dilma] caísse, estivemos negociando com [o ex-presidente] Lula para que ele ajudasse num diálogo com a Venezuela, falasse com o Governo, e lhes dissesse que não podem continuar na posição em que estão, porque estão pressionando por um final violento. Não foi possível. Tenho sido muito criticado por apoiar Lula depois da queda do Governo no Brasil. Esses grupos radicais dizem: “Veja como Capriles está quieto agora…” Mas eu tenho defendido o modelo de Governo progressista do PT. O que acabou com Lula não foi o modelo [de Governo], foi a corrupção. Mas se Zapatero fizer o esforço [de ser intermediador], naturalmente será bem vindo – como qualquer um que quiser ajudar de boa-fé.
P. Ele veio convidado pela oposição, pelo Governo ou com o aval de ambos?
R. Vem com a Unasul. Mas a Unasul se encaminha para um processo de mudança. E o ex-presidente [colombiano Ernesto] Samper também. Alguns às vezes esquecem que são políticos e viram uma espécie de diplomata, como se fossem enviados do Papa. Não, não, os enviados do Papa se vestem como devem se vestir. O ex-presidente Samper precisa se envolver de qualquer maneira. É um político. A realidade do sul mudou e vai continuar mudando. Mas esta não é uma onda dirigida pelo império para varrer os Governos de esquerda do sul. Pelo amor de Deus. Macri ganhou na Argentina porque o povo decidiu. Eu, por exemplo, não estou de acordo com o impeachment no Brasil. Tudo o que consegui foi com o voto, e acredito no voto como a arma de que o povo dispõe para pôr e tirar [alguém do poder]. Mas, gostemos ou não, a realidade da região muda pelo peso que o Brasil tem. O que vai sobrar para Maduro na Unasul? Equador, Bolívia? Em que condições? Rodríguez Zapatero veio pelas mãos da Unasul. É um convite oficial no marco desta Comissão da Verdade, que é uma Comissão do Governo.
P. O que acha de ele aceitar esse convite se o Governo negou uma Lei de Anistia aprovada pela Assembleia?
R. Eu disse a ele que a oposição, que é maioria, quer diálogo. Para que o país seja governável é preciso que ele exista. Como temos certeza de que uma mudança virá na Venezuela, queremos que exista um clima de governabilidade.
P. Qual considera que deve ser o papel da comunidade internacional?
R. Maduro precisa da comunidade internacional. Este governo precisa de financiamento. A solução dos problemas é nossa, mas se Maduro bater na porta internacional, precisam lhe dizer para entrar pela Constituição. O apoio internacional precisar ser para que haja um referendo revogatório.
P. Um dos grandes aliados tem sido Cuba, mas há atualmente muito hermetismo em torno ao estado dessa relação. Como está atualmente a relação entre Cuba e Venezuela?
R. É como se alguém que estivesse na sua casa fosse embora quando a comida acaba, como o tio rico que deixou de sê-lo. Cuba dependia tanto da Venezuela… Obviamente, a queda do rendimento petroleiro mudou radicalmente a situação, parece que não é a mesma. A gente vê a visita de Obama a Cuba, escuta Raúl Castro dizer que não teve tempo de falar da Venezuela, e isso chama poderosamente a atenção.