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Bloco de Notas #3

Toda sexta. Sobre música e adjacências. Por Bernardo Oliveira*, editor de música do Cafezinho. — Além de compositor, arranjador e produtor musical, o pernambucano Caçapa é um dos instrumentistas raros no panorama da guitarra brasileira. Caçapa evita acordes e se utiliza de arpejos e ostinatos para decompor e redistribuir a harmonia, criando tramas musicais a meio caminho da guitarra africana, particularmente da […]

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Caçapa e Alessandra Leão. Foto: José de Holanda.

Toda sexta. Sobre música e adjacências.
Por Bernardo Oliveira*, editor de música do Cafezinho.

— Além de compositor, arranjador e produtor musical, o pernambucano Caçapa é um dos instrumentistas raros no panorama da guitarra brasileira. Caçapa evita acordes e se utiliza de arpejos e ostinatos para decompor e redistribuir a harmonia, criando tramas musicais a meio caminho da guitarra africana, particularmente da rumba congolesa, e das técnicas características da viola dinâmica nordestina. Acompanhou músicos como Siba e lançou um disco fundamental da música contemporânea brasileira: Elefantes na Rua Nova. Com sua companheira, a cantora e percussionista Alessandra Leão, Caçapa foi um dos responsáveis (com Rafa Barreto, Missionáro José, Gui Kastrup e a própria Alessandra) pela roupagem sonora dos três EPs lançados pela cantora entre 2014 e 2015: Pedra de Sal, Aço e Língua. Por este último trabalho, representativo do estágio em que se encontra esses artistas, Alessandra Leão recebeu a indicação de Melhor Cantora do Prêmio da Música Brasileira deste ano… na categoria Regional! Resta perguntar: até quando artistas nordestinos serão rotulados como “regionais”? Já passou da hora de dar fim a esta impostura!…

Em tempo: Caçapa e Alessandra mantém uma festa chamada La Tabaquera, ele se encarregando do som afrolatinô, ela comandando a projeção de imagens. Assistam ao programa Passagem de Som com Caçapa, lançado recentemente.

 

— Conforme o jornalismo cultural definha no Brasil, acompanhando de perto a erosão do próprio jornalismo associado às grandes corporações midiáticas, torna-se fundamental acompanhar e mapear a produção crítica nos blogs e publicações independentes. De Recife, já acompanhamos de perto a revista Outros Críticos, tocada pelo talento colaborativo e realizador de Carlos Gomes. E, também de lá, um dos blogs que mais me chamou a atenção recentemente foi o O Volume Morto (crítica abstrata subjetiva freestyle), escrito pelo jornalista pernambucano GG Albuquerque. O blog tem cerca de seis meses e, segundo seu autor, “surgiu da curiosidade e necessidade de conhecer, pesquisar, me informar, falar e conversar sobre música, principalmente ‘experimental'”. E prossegue: “desde o começo a ideia era ser um blog com textos mais verticais, mais profundos. Como não tenho tempo de, sozinho, escrever sobre tudo, aprofundo em coisas que pouca gente fala ou que fala superficialmente. Os discos do Cadu Tenório, por exemplo, são divulgados e comentados nos blogs independentes e alguns até chegam à grande mídia. Mas não há uma entrevista longa, aprofundada em todo o escopo da obra dele como a que fizemos durante dias e publicada agora.” Uma boa parte dos textos do blog foi publicados no Jornal do Commercio de Recife, onde Gabriel é repórter estagiário e já cobriu artistas como J-p Caron, Bella, Negro Leo, Romulo Fróes, Yuri Bruscky, God Pussy, Abdala, Henrique Iwao, entre outros.

 

— O duo britânico Autechre foi um dos projetos que surgiram no início dos anos 90 revirando todas as concepções de música eletrônica pelo avesso. Propondo uma combinação expressiva de sons analógicos e digitais, o Autechre redesenhou o campo de possibilidades sonoras e visuais para esta seara, somando-se a nomes como Aphex Twin, Oval, The Orb, entre outros. Dois anos depois do último disco, Exai, e de AE_LIVE, registro ao vivo de 2015, o grupo reaparece com um projeto dividido em cinco partes. O nome do trabalho é elseq 1-5 e sai, mais uma vez, pela Warp. A julgar por “feed1.”, divulgada na semana passada em um programa na BBC, mantém-se o arrojo sonoro, a concepção rítmica emaranhada associada a uma paleta de timbres particulares que fizeram o nome da dupla. A programação visual, a cargo do estúdio The Designers Republic, trabalha com pouquíssimos elementos, dispostos de formas variadas: formas quadradas e arredondadas em preto posicionadas sobre um fundo branco. Assim que a zelosa Warp Records permitir, disponibilizaremos por aqui um stream acessível e democrático do álbum ou da faixa.

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— Em dezembro de 2014, o violonista e guitarrista norte-americano Bill Orcutt realizou uma apresentação impressionante no Festival Novas Frequências, no Rio de Janeiro. Mais conhecido como guitarrista do saudoso Harry Pussy, Orcutt vem desenvolvendo ao longo dos últimos anos outras possibilidades de se tocar violão solo, utilizando um antigo e surrado violão Kay com apenas quatro cordas (sem as cordas D e A) e um captador DeArmond. Na vaga da apresentação carioca, Orcutt juntou-se aos músicos do trio carioca de improviso, o Chinese Cookie Poets, e realizou uma sessão de gravação na Audio Rebel, estúdio em Botafogo. A versão editada do encontro foi lançada em abril deste ano. O vinil de 7 polegadas com tiragem de 100 cópias chama-se Who Does That e saiu pelo Palilalia, selo de Orcutt. Ouça “I Am Done”, uma das faixas do disco que está disponível no Youtube.ccp bill

 

— O baterista, pianista e compositor Jack DeJohnette é mais um músico de Chicago a deixar sua marca na imensa história do jazz norte-americano. Esteve por trás da onda fusion iniciada por Dizzy Gillespie, Miles Davis e Roland Kirk no final dos 60, mas tocou bepob com todo mundo: Charles Lloyd, Cannonball Adderley, Sonny Rollins, entre muitos outros. Ano passado, reuniu-se com Muhal Richard Abrahams, Larry Gray, Roscoe Mitchell e Henry Threadgill, todos de Chicago, todos da AACM, e produziu a pedrada Made In Chicago. Este ano, convocou Ravi Coltrane (filho do “ôme”) e Matthew Garrison (filho de Jimmy Garrison, que partilhou espaço com o “ôme” no quarteto que veio do espaço) e gravou um disco deveras interessante chamado In Movement, lançado pelo selo ECM de Manfred Eicher. Embora o repertório contenha clássicos previsíveis como “Blue in Green” e “Alabama”, a forma espaçada com que elaboraram os arranjos, repleta de silêncios, ganhou muito com a inserção de sonoridades eletrônicas operadas por Garrison e DeJohnette. Assista a um minidoc sobre o álbum.

 

— A colaboração entre o sexteto paulistano Hurtmold e o inventor de instrumentos Paulo Santos (Uakti) já tem nome e provável data de lançamento: Curado sairá em agosto pelo Selo SESC e gera grandes expectativa pelo que representa: o encontro entre duas faces, duas forças da experimentação sonora vinculada à música instrumental brasileira. Enquanto não aparece uma prévia, assista abaixo a um show completo do septeto gravada em 2015.

 

— Abaixo o teaser de MM3, próximo disco do Metá Metá anunciado semana passada nessa coluna. A faixa se chama “Mano Légua”, composição de Kiko Dinucci e Juçara Marçal.

 

CAUBY! CAUBY!

*Professor da Faculdade de Educação/UFRJ, autor de “Tom Zé — Estudando o Samba” (Editora Cobogó, 2014).

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Bernardo Oliveira

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Comentários

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Anelise Pinto

20/05/2016 - 22h49

Um monte de coisas interessantes!Não conhecia nada, quase.Obrigada!

Alexandre Moreira

20/05/2016 - 14h47

Parabéns ocafezinho! Sensacional essa iniciativa.


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