Foto: Salem/WSL
por Luis Edmundo Araujo, editor de Esportes do Cafezinho
Em tempos de retrocesso, de 7 a 1 na bola, na política e na história, há uma certa tribo que ultimamente vem afagando nosso tão combalido orgulho nacional. São brasileiros os dois últimos campeões mundiais de surfe: Adriano de Souza, o Mineirinho, em 2015, e Gabriel Medina em 2014, o primeiro representante do País a conquistar o título desde que o Mundial é disputado. Os dois fazem parte do que, entre os adeptos e amantes do esporte, vem sendo chamado de brazilian storm, a tempestade que chacoalhou o mundo do surfe com talentos brasileiros que vão além dos campeões mundiais, como o segundo colocado no atual campeonato mundial, Italo Ferreira, e Caio Ibelli, quinto no Circuito Mundial de Surfe de 2016, que vem sendo liderado pelo australiano Matt Wilkinson.
Outro nome de destaque é o de Filipe Toledo, paulista de Ubatuba que no ano passado venceu a etapa brasileira do Circuito Mundial de Surfe e viveu a glória de ser ovacionado pelo maior público já registrado em campeonatos da Liga Mundial de Surfe, como mostra a foto aí de cima, cerca de 100 mil pessoas que se espremeram no Postinho da Barra da Tijuca, a mesma praia onde foi definido, hoje, o vencedor da etapa deste ano do Mundial. O havaiano John John Florence venceu a bateria final contra o australiano Jack Freestone e levou o título pela segunda vez, ele que já havia vencido a etapa brasileira do Circuito Mundial em 2012.
As provas do Mundial no Rio começaram a ser disputadas na pacata, isolada Praia de Grumari, distante cerca de 25 quilômetros do hotel na Barra da Tijuca onde os surfistas estavam hospedados. Com as ondas baixas, a transferência foi inevitável, para satisfação dos competidores que, mesmo preferindo a proximidade bem mais calorosa do Postinho, em plena Barra, sabiam, no entanto, que não encontrariam por lá nada nem perto de ondas gigantes, quesito, aliás, em que outro brasileiro é fera.
Mas pelo menos as ondas foram maiores do que o mar calmo da Praia de Grumari, que se fosse mantido como local das provas proporcionaria algo como as cenas deste vídeo. Não foi o caso e as ondas foram, inclusive, suficientes para que Medina fizesse história na bateria que disputou contra seu compatriota Alex Ribeiro. O campeão mundial conseguiu uma nota 10 na bateria, válida pela repescagem do torneio, ao acertar um backflip, manobra que pela primeira e até agora única vez foi realizada, inteira, numa prova do Circuito Mundial.
Depois de um início ruim nas primeiras etapas do Mundial, na Austrália, Medina começa a se recuperar e passou da 18a para a nona colocação após a etapa carioca. Ele está a três posições de Mineirinho, que ultrapassou sete competidores e chegou à sexta colocação. Os dois últimos campeões mundiais, aliás, quase fizeram a final do Oi Tio Pro 2016. Chegaram às semifinais, cada um numa bateria, mas foram derrotados, Medina por Freestone, e Mineirinho pelo campeão John John Florence. Nada que esmoreça a paixão da torcida brasileira pelos seus campeões, bem medida nas palavras de Medina após a bateria contra Alex Ribeiro, a da manobra perfeita, inédita.
Feliz de estar perto deles. A galera qui é demais, eles torcem pesado. Acho que não temos nada parecido em nenhum outro lugar do mundo.
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