Cristovam defende isenção política em sala de aula. Mas isso é possível?
Por André Vitor, no Blasting News
O senador Cristovam Buarque, que já vinha tomando posicionamentos polêmicos considerando seu passado político, apresentou, esta semana, proposta para a realização de uma audiência pública sobre o movimento “Escola sem Política”. Nas palavras do próprio senador:
“- É um movimento que cresceu em todo o país, e tem até um lado positivo, que é evitar a doutrinação. Mas me preocupa demais proibir a liberdade de expressão, isso é perigoso e pode se alastrar para outras temáticas.”
Não preocupa apenas ao senador: preocupa a mim também, afinal: quais seriam esses limites? Como desenhar uma linha e separar: de uma lado doutrinação ideológica, do outro apresentação do pensamento?
O senador, professor da UNB, com certeza sabe que todo discurso é histórico e, portanto, carrega em si mesmo valores culturais, políticos, e tantos outros que simbolizam nossa bagagem cultural e que somam-se a novas experiências adquiridas a cada dia de nossa existência.
Deste modo, como separar o que pertence a um conteúdo programático do que é pensamento partidário? E, mais: quem fará esse controle, ou terá como base qual discurso, considerando que a isenção é impossível?
Quer dizer: um professor foi preso e torturado em razão de sua forte inclinação à política ou ao conteúdo ministrado em aula? Cumpre lembrar que ele lecionava no curso de Eletrotécnica e, portanto, nem pertencia à Área de Humanas. O professor foi condenado a três anos de prisão após uma audiência militar feita DENTRO da escola.
A ditadura foi algo tão risível e repugnante que uma retratação pública já foi feita demonstrando claramente os equívocos desse passado tão sombrio que deveríamos nos esforçar (cada vez mais) para não repetir.
Assim, o senador Cristovam me causa espanto e preocupação ao defender, mais uma vez, uma ideia extremamente perigosa para um regime democrático: o controle das ideias, que pode ser usado de diversas maneiras em função da conveniência.
Analogamente, uma coisa não impede a outra, mas fico ainda mais perplexo numa época em que deveríamos estar discutindo a melhoria da estrutura de ensino e, ironicamente, as liberdades de que goza a mídia, muito mais grave, pois forma o pensamento de todo um país.