Foto: Sergei Guneev
Por Luis Edmundo Araujo, editor de esporte do Cafezinho
Que soem as trombetas da nossa grande mídia! Que as redações desfalcadas pelos passaralhos, desmotivadas pela inacreditável linha única editorial, indigente mental, espalhem por aí a grande notícia! Que os repórteres felizes, otimistas, que torcem muito, muito para o sucesso disso que está aí bradem aos ventos que o Brasil, em menos de mês de novo governo – interino, macho, velho e investigado – já foi alçado à rara categoria de superpotência mundial, ou não é superpotência o país que, prestes a abrir uma Olimpíada em seu território, sofre ameaça de boicote?
Em 1980 a grande vítima foi a então União Soviética, com todo o seu poderio militar, territorial e espacial. A invasão do Afeganistão por tropas soviéticas no fim de 1979 foi o motivo alegado pelos Estados Unidos para, sob o governo democrata de Jimmy Carter, liderar um boicote de 61 países aos Jogos de Moscou. O Brasil do presidente João Figueiredo não estava entre eles e conquistou duas medalhas de ouro, as duas com o Iatismo, uma na classe 470 masculino, com Eduardo Penido e Marcos Soares, e a outra na classe Tornado, com Alex Welter e Lars Björkström.
O País também conquistaria outras duas medalhas de bronze, uma na natação, outra com o inesquecível João do Pulo, recordista mundial do salto triplo que viria a encerrar a carreira precocemente no ano seguinte, ao amputar uma perna após grave acidente na rodovia Anhanguera, no sentido Campinas-São Paulo. Foi a segunda medalha de bronze de João Carlos de Oliveira, confirmando a má sorte olímpica do atleta brasileiro tricampeão mundial, que dominava sua categoria na época e cujo recorde mundial, de 17,89m, estabelecido nos Jogos Panamericanos da Cidade do México, em 1975, só viria a ser quebrado quase 10 anos depois, no dia 16 de junho de 1985, em Indianápolis, pelo norte-americano Willie Banks, que saltou 17,90 m.
Quatro anos depois do boicote capitalista, veio a Olimpíada de Los Angeles, em 1984, e a óbvia retaliação do outro lado da Guerra Fria. De todo o bloco comunista da época, apenas Romênia, Iugoslávia
Para o Brasil, nada nos Jogos de Los Angeles foi mais marcante do que o primeiro ouro conquistado pelo país no atletismo, com a vitória de Joaquim Cruz na prova dos 800 metros. A delegação brasileira conquistaria ainda duas medalhas de bronze, ambas no judô, com Luis Onmura, na categoria leve, e Walter Carmona, no peso médio masculino, e mais cinco pratas, uma delas também no judô, com o meio-pesado Douglas Vieira, dando início às conquistas da modalidade que se tornou, desde então, uma das esperanças de medalhas brasileiras em Olimpíadas. As outras medalhadas de prata foram no futebol, com uma derrota para a França na final; no vôlei, com a derrota para a seleção americana; na vela, com Daniel Adler, Ronaldo Senfft e Torben Grael, na categoria Soling; e na natação, com Ricardo Prado.
Agora, para os Jogos do Rio de Janeiro, não se sabe qual será o desempenho da delegação brasileira no comparativo com outras Olimpíadas. Sabe-se, porém, que com seu ministro da Justiça que manda espancar estudante, qualquer manifestante, com o ministro da Saúde teocrático, o do Esporte que lucra com os Jogos Olímpicos Rio 2016 e todo o rol de investigados na Lava Jato de sua Esplanada, o presidente interino macho, velho e suspeito, citado, pode não ver no País (se é que ele assistirá aos Jogos) nada nem perto da emoção da despedida do ursinho Misha na cerimônia de encerramento da Olimpíada de Moscou, mas tem a chance, a clara possibilidade de elevar nosso amado Brasil à categoria de superpotência boicotada, e também por conta de uma guerra, nesse caso uma guerra suja, torpe, cínica e covarde contra a democracia, contra a vontade de mais de 54 milhões de eleitores brasileiros.
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