Marcha da maconha quer fim da guerra ‘corrupta e racista’ contra os pobres
Mobilização promoveu ‘maconhaço’ na avenida Paulista e segue em direção à praça Roosevelt; organizadores estimam participação em 20 mil pessoas
por Redação RBA publicado 14/05/2016 20:17, última modificação 14/05/2016 20:43
“Se insistimos em dizer que somente a legalização terminará com a guerra às drogas, também é bom destacar que não esperaremos por ela para decidir livremente sobre nossos corpos”
São Paulo – A Marcha da Maconha, realizada hoje (14) em São Paulo, promoveu na avenida Paulista o maior ‘maconhaço’ – quando todos acendem baseados – da história do movimento, segundo os organizadores. A Polícia Militar não divulgou número de participantes, mas os organizadores estimam que pelos menos 20 mil pessoas estão seguindo em direção à praça Roosevelt, no centro. A concentração foi no vão livre do Masp.
Muitos participantes usavam camisetas estampadas com o desenho da planta cannabis sativa de onde se extrai a maconha. Também exibiam faixas e cartazes com dizeres como “Legalização já” ou “Amor, paz e sem guerra e sem forme. Sim à união dos homens”.
O ‘maconhaço’ foi realizado durante uma pausa na esquina da avenida Paulista com a rua Augusta, onde todos se sentaram no asfalto e acenderam, simultaneamente, os baseados, como os usuários denominam o cigarro feito a base da erva.
“É fogo na bomba, porque o corpo e a mente são nossos e ninguém tem nada com isso, e é pela paz na quebrada, porque fumar a gente já fuma, o que a gente quer é legalizar pra acabar com essa guerra corrupta e racista que não é contra todos: é contra os pobres, contra a periferia, contra os desobedientes ”, afirma o texto que convocou para a marcha na página do Facebook.
“Se insistimos em dizer que somente a legalização terminará com a guerra às drogas, também é bom destacar que não esperaremos por ela para decidir livremente sobre nossos corpos. Pelo contrário, também é decidindo livremente sobre eles, rejeitando a proibição e legalizando nós mesmos, que ajudamos a mudar as coisas”, afirma.
“A proibição das drogas não impede nem nunca impediu o uso mas, por outro lado, serve como justificativa pro Estado matar, encarcerar, internar, discriminar, subornar, torturar e forjar. Tudo isso em nome da saúde! Da saúde de quem, se nem o uso medicinal da maconha, que pode aliviar ou até curar doenças gravíssimas, é permitido?!”, diz ainda o texto.
Rafael Presto, membro da organização Coletivo Desentorpecendo a Razão, uma das entidades organizadora do ato, disse que a marcha da maconha caminha rumo à conquista de seu propósito de debater a legalização da droga. “É um começo de debate, de se pensar uma outra política, e o fim da guerra às drogas, que é uma política fracassada. A própria ONU (Organização das Nações Unidas) já declarou isso, e a marcha está ai para escancarar essa hipocrisia”, afirmou.
Em defesa da causa, Presto afirmou que “dentro de uma escala de todas as drogas, a maconha é quilometricamente, uma droga menos nociva”. Para ele, a lógica de proibir para inibir não tem fundamento e só escamoteia grupos que ganham muito dinheiro em cima desse conceito.
“Mesmo não sendo usuário da erva, eu considero essa uma pauta política fundamental para a gente se engajar”, defendeu o professor de educação, Paulo Augusto Júnior, de 36 anos. Ele fez questão de estar no ato para apoiar o movimento pela legalização da droga, justificando que o fato de ser favorável a que se tire esse tema da clandestinidade não significa a intenção de estar se estimulando a disseminação do uso.
Para o professor, a sociedade tem de refletir sobre o que existe por trás da criminalização, envolvendo questões como de saúde pública e da corrupção policial. Além da legalização, ele acha que deveria ser adotada uma campanha educacional voltada para os jovens.
Em meio aos ativistas, durante a concentração no vão livre do Masp, estavam cerca de 30 pesquisadores de um levantamento do perfil de manifestantes em um trabalho conjunto da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Entre eles, a estudante de filosofia da Unifesp, do campus de Guarulhos, Maria Rita Castro, de 22 anos. Segundo ela, o questionário com 36 perguntas também foi aplicado em outras manifestações como as que ocorreram, recentemente, também na avenida Paulista, tanto a favor da aprovação quanto contra ao processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff.
Com Agência Brasil.