Golpe cria uma nova era de luta

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(Foto: RFI)

Análise Diária de Conjuntura – 11/05/2016

Enquanto escrevo, os senadores discursam, num jogo de cartas marcadas, conduzindo a votação de um impeachment que manchará, por muitos anos, a imagem da nossa democracia. [/s2If]

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As conspirações de uniram em torno de um só objetivo: primeiro sabotar a presidenta Dilma, depois derrubá-la. O processo de sabotagem teve início em meados de 2013. Naquela ocasião, assistimos como uma série de manifestações populares foram manipuladas com objetivo de fazê-las se voltarem contra o governo.

A partir daí, tudo mudou no Brasil. Não por coincidência, 2013 também foi o ano em que o pré-sal deixou de ser uma promessa para se tornar promissor. Seus custos operacionais começaram a baixar vertiginosamente, até atingir os 8 dólares por barril, hoje.

Ali se engendrava ainda dois elementos essencial para o golpe, a derrubada da PEC 37, que regulamentava e limitava o poder do Ministério Público, e se engendrava, nos porões de Curitiba, a operação Lava Jato. Hoje sabemos que Sergio Moro mexia seus pauzinhos desde 2006, com escutas ilegais e investigações obscuras.

Evidentemente, porém, Sergio Moro foi apenas uma das peças numa conjuração golpista muito maior, que envolveu empresários, mídia e órgãos do sistema jurídico (justiça, MP e PF).

Os bastidores inconfessáveis dessa conspiração talvez ainda demorem a serem revelados, mas o serão, inevitavelmente, e talvez antes do que os próprios conspiradores desejam. E isso por uma razão simples: a traição, a deslealdade, a mentira, jamais deram consistência a nenhum ajuntamento político. Os golpistas irão brigar pelo butim, e dessas brigas emergirão as imundícies políticas por trás do impeachment.

A partir de hoje, teremos uma nova conjuntura, para a qual ninguém está preparado, nem os próprios golpistas.

É certo que será uma noite escura, então teremos que nos adaptar à escuridão. E assim o faremos. À noite tem suas vantagens: nela se desenvolve um ecossistema de resistência, cujos valores servirão para forjar as lideranças politicas do futuro.

Com a tomada de poder de Michel Temer, todas as cobranças, até então feitas à Dilma, se voltarão para o novo presidente.

A ficha do povo, até agora ausente dos grandes debates, ainda não caiu. Só vai cair quando as tenebrosas transações, já concluídas, apresentarem ao país um novo rosto.

É um exercício de especulação difícil, pensar na reação do povo, em especial os mais pobres. Eles não votaram em Michel Temer. Quem ganha eleições entre os mais pobres, desde 2002, é o PT. E agora o PT estará na oposição. O TSE cassará o tempo eleitoral do PT, do PCdoB, para impedir que eles denunciem o golpe, acusando o novo governo de usurpador?

Haverá censura no Brasil?

Se fizer isso, o TSE estará se tornando um poder antidemocrático, e a sensação de que entramos numa ditadura se ampliará.

O fato é que a história permanece viva, cheia de surpresas, e agora adentramos uma conjuntura onde temos cada vez menos coisas a perder, e mais espaços para conquistar.

Michel Temer e sua trupe de golpistas não mais se beneficiarão das vantagens do silêncio. Agora eles terão que se pronunciar, sinalizando respostas aos terríveis problemas de desigualdade, pobreza e violência urbana, que ainda assolam a nossa sociedade.

Só que não bastam respostas retóricas. Eles terão que apresentar resultados, e isso num cenário cuja instabilidade eles mesmo ajudaram a criar.

A mídia também está em maus lençóis, porque saiu de uma cenário em que as acusações de que ela não tinha posições democráticas ainda ficavam restritas a setores avançados do campo progressista, para um outro, em que o campo progressista, em peso, entendeu o papel central da mídia na articulação e consolidação do golpe.

A democratização da mídia, com o golpe, ganhou a dimensão de uma questão vital da luta popular.

Um setor importante da população já entendeu que de nada adianta levar adiante conquistas sociais ou políticas, se o sistema de mídia pode derrubá-las facilmente em virtude da concentração dos meios de comunicação em mãos de poucos.

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Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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