Constituintes de 1988 criticam processo de impeachment contra Dilma Rousseff
A Comissão de Direitos Humanos (CDH) recebeu nesta terça-feira (10) os deputados constituintes de 1988 Nelton Friedrich e Haroldo Sabóia, que fizeram duras críticas ao processo de impeachment da presidente da República, Dilma Rousseff. Segundo eles, a democracia brasileira está em risco, principalmente quando se leva em conta que golpe não se faz necessariamente com procedimentos bélicos.
— A democracia está em perigo, mas um perigo sofisticado, que não se traduz em armas e quartéis. Estão se apropriando de um discurso democrático para fazer, por exemplo, a retirada de direitos sociais — afirmou Friedrich, que ajudou a elaborar a Constituição de 88 como representante do PMDB do Paraná.
Haroldo Sabóia, por sua vez, criticou a atuação da mídia no processo e disse que o país nunca teve uma concentração tão grande de poder nos meios de comunicação.
— Nunca vivemos um poder de imprensa tão monolítico como hoje. No Estado Novo e também na ditadura, havia uma uma rede de jornais clandestinos e até resistência dentro da grande mídia. Hoje o noticiário é o mesmo. É um horror. É uma violência nunca vista — lamentou o ex-deputado maranhense, que também foi constituinte pelo PMDB.
Psicologia
A comissão recebeu da psicóloga Luíza Pereira, representante do Coletivo Iara Iavelberg, uma carta aberta condenando o possível impedimento de Dilma. O documento será encaminhado a todos os senadores pelo presidente da CDH, senador Paulo Paim (PT-RS).
Segundo a comunidade formada por psicólogos e estudantes de psicologia, numa democracia, insatisfações com o projeto político-econômico de um governo não justificam sua deposição. E a presidente, lembraram eles na carta, foi eleita com 54 milhões de votos legítimos.
Sindicalistas
Após ouvir os constituintes e Luíza Pereira, Paulo Paim abriu a segunda reunião do dia. Dessa vez, para debater com sindicalistas o tema democracia e movimento sindical.
As audiências desta terça-feira tiveram caráter interativo e marcaram o fim do ciclo de debates sobre democracia e direitos humanos realizado pela comissão. Paim lembrou que, embora o ciclo estivesse encerrado, o assunto continuará em debate:
— Ninguém tem dúvida de que a admissibilidade [do impeachment] vai passar, mas o processo continua nos próximos meses com a avaliação do mérito, quando serão necessários votos de dois terços dos senadores — acrescentou.