Foto: Mídia Ninja
República de bananas é país que rasga 54.501.118 votos
por Mario Magalhães, no UOL
O tal Waldir Maranhão levou mais bordoadas em um dia do que Eduardo Cunha em quinze meses como presidente da Câmara.
Adjetivos corrosivos e substantivos pejorativos, empoeirados pela falta de uso, dardejaram o deputado que ousou declarar ilegal e ilegítima a sessão da Câmara que deu sinal verde ao impeachment da presidente constitucional Dilma Rousseff.
Denunciaram a “manobra” do obscuro Maranhão, mais tarde revogada, tamanha a fuzilaria contra ele.
As manobras infindáveis, manjadíssimas e inescrupulosas de Cunha para depor a governante eleita pelo voto popular não foram tratadas assim.
Dois pesos, duas medidas. E uma hipocrisia do tamanho do mundo.
Dos mais pedantes aos mais histriônicos, muita gente proclamou em coro que Waldir Maranhão, presidente interino da Câmara, transformou o país numa república de bananas.
Perdão pela obviedade ululante, mas é preciso dizer: uma das características essenciais das velhas republiquetas bananeiras latino-americanas era – e é – o desprezo pela soberania do voto popular.
Ganhou na urna? E daí? A preferência dos eleitores era – é – constantemente sufocada por transações e interesses avessos à democracia.
Eduardo Cunha, com mandato de deputado federal suspenso pelo STF, apressou-se em declarar “absurda” e “irresponsável” a decisão de Maranhão.
Cunha, quem diria, pegou mais leve do que alguns operadores em surto.
Em tons diferentes, reafirmou-se a ampla coalização pró-impeachment, que vai de Eduardo Cunha aos que juram não ter uma só convicção em comum com o belzebu.
Bastou verem ameaçado o golpe de Estado em curso – impeachment sem prova de crime é golpe – que certo pessoal falou como viúva de Cunha.
Estranho país, onde vicejam viúvas da ditadura e viúvas de Eduardo Cunha.
Não só: ao avacalharem o governador do Maranhão, Flávio Dino, revelaram-se também viúvas de José Sarney e sua família.
Para quem não sabe, se isso é possível: os Sarney conspiraram ativamente pela derrubada de Dilma.
Assim caminhamos: parlamentares acusados e suspeitos dos crimes mais cabeludos, associados a um empresariado historicamente corruptor, estão na bica para depor uma mulher honesta e honrada.
Legitimada por 54.501.118 votos.
E o problema é o Waldir Maranhão…