(Crédito fotos: Jornalistas Livres).
Eu nem me irrito mais.
Agora eu fico com pena dos caciques do PT quando, em discursos contra o golpe, dizem que a oposição quer “fechar a Lava Jato”.
Certamente, o fazem porque viram pesquisas mostrando o forte apoio da população à operação.
E agindo assim, enfiam a corda no próprio pescoço, porque a Lava Jato se desvirtuou há tempos. Seu objetivo agora é prender Lula, destruir o PT, derrubar o governo e chantagear o setor nacionalista do empresariado: obedeçam às orientações da Globo, fiquem contra o PT e contra a esquerda, porque o país pertence à elite financeira, não a um punhado de sindicalistas ou militantes de movimentos sociais!
Ao invés de olharem para frente, onde há um abismo, o PT e o governo caminham com olhos voltados para o alto, para “pesquisas de opinião”.
A política é, por natureza, uma fórmula de transformação.
Não são as pesquisas que fazem a política. É a política que transforma as pesquisas.
A mídia sabe disso, e traça estratégias, inclusive de longo prazo, para causar mudanças na opinião pública.
PT e governo parecem ter esquecido, há muito tempo, o que é política.
A Lava Jato tem obedecido, com fidelidade canina e pontualidade britânica, a uma agenda estritamente político-partidária.
Neste final de semana, a operação dá as pinceladas finais no golpe de Estado.
Segundo o noticiário, Marcelo Odebrecht iniciou negociações para sua delação.
É tudo orquestrado, não há mais nenhum disfarce.
Mal começou a negociar delação, e o conteúdo já foi seletiva e oportunamente vazado aos diários oficiais do golpe, de maneira a subsidiar o Fantástico, os noticiários de domingo e abrir uma semana decisiva com novo foco de pressão sobre os senadores.
Marcelo Odebrecht, aparentemente, jogou a toalha.
Os desdobramentos da crise, a omissão do STF, possivelmente o convenceram de que não há mais esperança de encontrar brechas de imparcialidade no judiciário brasileiro: então ele decidiu entrar no jogo sujo do golpe.
É isso, ou então os procuradores começaram a vazar conversas com ele de maneira ilegal, distorcendo suas declarações. Não me surpreenderia. Desses procuradores e da nossa mídia, espere-se qualquer coisa.
O caso de Mônica Santana é igual.
Aliás, quando João Santana e sua esposa foram presos, não foi difícil para analistas perceberem que, senão soltasse o casal em alguns dias, Sergio Moro estaria deixando bem claro que o objetivo era focar a Lava Jato na campanha de Dilma, com objetivo de derrubar o governo. E assim foi.
João Santana foi levado para a masmorra perpétua de Sergio Moro, onde o sujeito apenas é solto após entrar no jogo de cartas marcadas da “força-tarefa”.
As prisões de Moro, reitere-se, não tem limite de tempo, até porque não há mais habeas corpus no país. O país vive em Estado de Exceção.
Moro vai prorrogando as prisões preventivas indefinidamente, até amarrá-las numa condenação medieval, de 15 a 20 anos, enquanto os procuradores iniciam um pesadíssimo jogo de pressão, o qual, no caso da Odebrecht, incluiu ameaças a todos os agregados da empresa, além da destruição de um patrimônio gigantesco, espalhado pelo mundo inteiro.
Não me parece coincidência que, simultaneamente, uma nova campanha de publicidade da Odebrecht tenha voltado a aparecer na Globo: a empresa se rendeu a quem manda hoje no Brasil, o monopólio mafioso coordenado pela família Marinho.
No início do processo, os advogados da Odebrecht tentaram jogar o jogo conforme as regras do processo penal. Não deu certo, porque a a Lava Jato não obedece a nenhum critério jurídico ou constitucional. A regra é a força bruta de Sergio Moro, e a narrativa blitzkrieg da mídia.
Em seguida, os advogados, percebendo que o jogo se dava na comunicação, iniciaram uma série de ações midiáticas visando fazer um contraponto ao massacre. Não era nada demais: apenas entrevistas, participação em debates, publicação de artigos em jornais.
A Lava Jato respondeu com o recrudescimento da sua agressividade. Sergio Moro e força tarefa começaram a atacar os próprios advogados.
A narrativa do golpe não pode ser contestada!
A Odebrecht recuou. E agora volta a anunciar na Globo. O capital tenta comprar clemência depositando novas ofertas no altar dos vencedores da guerra.
O governo assistiu a erosão do Estado de Direito com uma mistura de covardia e arrogância, sempre imaginando que as feras se saciariam em algum momento. E não é de hoje: tudo começou na Ação Penal 470.
O PT, ao invés de fazer política, o que pressupõe interferir no debate público, se limitava a pagar “pesquisas de opinião” as quais, obviamente, mostravam o apoio da população às narrativas da mídia.
Daí o PT foi sacrificando seus quadros um a um: Dirceu, Genoíno, Pizzolato…
Não só os petistas. O Estado de Exceção precisava queimar empresários na fogueira da inquisição, e assim o foram os publicitários do mensalão, que também pegaram condenações medievais.
No petrolão, a agressividade das forças obscuras do golpe cresceu exponencialmente. As principais empresas de engenharia do país, mais a Petrobrás, foram alvo de uma campanha de destruição jamais vista desde talvez os tempos mais sombrios de Stálin.
Voltando a delação de Marcelo Odebrecht, não há como negar a competência golpista. Ela é vazada no momento rigorosamente certo.
Toda a agenda golpista tem funcionado como um relógio suíço. Os vazamentos se dão sempre no momento mais oportuno. Eduardo Cunha? Afaste-se da presidência da Câmara, mas no momento certo, apenas depois dele ter deflagrado o golpe do impeachment. Lula ministro? Vazemos – no momento certo – áudios íntimos, que desgastem profundamente o ex-presidente junto à opinião publica e ao STF, e assim evitem sua indicação até depois do golpe, quando ela já não valerá mais nada.
Até Dilma Rousseff, cujo nome vinha se mantendo incólume, passou a ser subitamente alvo da campanha suja do golpe. Por quê? Ora, é simples. Identificou-se que a narrativa vinha esbarrando com uma dificuldade importante, sobretudo junto à imprensa internacional: Dilma não é acusada de nada. Identificado o problema, a conjuração golpista acionou a sua “máquina de lama” para envolver a presidenta.
A delação de Marcelo Odebrecht diz que Dilma atuou para nomear o ministro Marcelo Navarro Ribeiro Dantas para o Superior Tribunal de Justiça (STJ), dentro de uma suposta ofensiva do governo contra os arbítrios e truculências da Lava Jato.
Ora, esta informação serve duplamente ao golpe: queima o ministro Dantas, um dos poucos a não pactuarem com o Estado de Exceção que tomou conta do judiciário; e atinge Dilma Rousseff.
É uma crítica idiota, mas que faz efeito porque o governo há muito abdicou da política: o governo, desde o início, deveria ter feito críticas diretas e objetivas aos arbítrios da Lava Jato, e ter nomeado ostensivamente ministros para freiá-las, mas dando suporte político aos ministros. Não adianta nada o governo nomear ministros para tribunais superiores e não fazer o embate político para defendê-los.
Ao cabo, sempre voltamos à batalha de narrativas, que tinha de ser conduzida pelo governo com muito mais coragem. Ainda há tempo, aliás. Sempre haverá tempo para ser corajoso.
A reportagem do Globo, que reproduzimos abaixo para registro histórico, é um modelo desse jornalismo orwelliano, que transformou o Brasil num laboratório de um novo tipo de golpe de Estado.
Um golpe que é chamado “de Estado” também porque é gestado dentro do Estado: forças golpistas, não-democráticas, incrustradas no próprio Estado, conspiram para derrubar um governo eleito pelo voto popular.
Observe esse trecho da reportagem do Globo:
Coutinho teria perguntado a um ex-executivo de uma empreiteira, em agosto de 2014, se ele conhecia Edinho. O ex-executivo teria entendido a pergunta como uma forma de pressão, e sua empresa fechou acordo para doação à campanha nas semanas seguintes.
Reparem: Coutinho teria perguntando a um ex-executivo de uma empreiteira se ele conhecia Edinho.
Teria perguntado?
Um ex-executivo?
A partir de uma informação dessas, completamente apócrifa, a Lava Jato constrói uma teoria, a mídia a amplia, e o resultado final é a produção de mais um factoide para ajudar o Senado a aprovar o afastamento da presidenta.
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Odebrecht diz à Lava-Jato que Mantega usou BNDES para pedir doações, diz jornal
Empresário afirma, em negociação para delação, que Dilma atuou para soltá-lo da prisão
POR O GLOBO 07/05/2016 19:12 / atualizado 08/05/2016 10:46
SÃO PAULO — O empresário Marcelo Odebrecht disse a procuradores da Operação Lava-Jato que o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega e o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, cobraram doações de empresários que tinham financiamentos do banco para a campanha de Dilma Rousseff em 2014. De acordo com reportagem do jornal “Folha de S. Paulo” deste domingo, eles teriam pedido a empreiteiros que se reunissem com o ministro Edinho Silva, que na época era tesoureiro da campanha de Dilma, para que “continuassem a ser ajudados” pelo governo. Coutinho teria perguntado a um ex-executivo de uma empreiteira, em agosto de 2014, se ele conhecia Edinho. O ex-executivo teria entendido a pergunta como uma forma de pressão, e sua empresa fechou acordo para doação à campanha nas semanas seguintes. À “Folha de S.Paulo”, Coutinho, Mantega, Edinho Silva e o PT negaram a acusação de Odebrecht. O empresário negocia termos de um acordo de delação premiada.
Mantega já havia sido citado na delação de Monica Moura, a mulher do marqueteiro João Santana, que trabalhou na campanha pela reeleição de Dilma, como revelou O GLOBO em abril. Segundo Monica, o ex-ministro intermediou o pagamento de caixa 2. Mantega se reuniu com ela e indicou, mais de uma vez, executivos de empresas que deveriam ser procurados para ela receber contribuições em dinheiro, que não passaram por contas oficiais do PT e, por isso, não foram declaradas à Justiça Eleitoral.
Na ocasião, Mantega reconheceu ter se encontrado com Monica, mas negou a acusação. Monica afirmou ainda que a Odebrecht pagou R$ 4 milhões em dinheiro para a campanha de Dilma em 2014, não registrados nas contas oficiais de campanha. Os valores teriam sido entregues diretamente para ela e usados para pagar fornecedores na área de comunicação.
Também em delações, o ex-presidente da Andrade Gutierrez Otávio de Azevedo e outros ex-executivos da empreiteira haviam dito que a empreiteira pagou R$ 150 milhões à campanha de Dilma. O montante corresponderia a 1% do valor de contratos da obra da hidrelétrica de Belo Monte.
Marcelo Odebrecht informou também que a presidente Dilma Rousseff tentou garantir sua liberdade após ele ser preso em junho de 2015. Ele relatou, segundo a “Folha de S.Paulo”, que a nomeação do ministro Marcelo Navarro Ribeiro Dantas para o Superior Tribunal de Justiça (STJ) fazia parte da ofensiva contra as prisões de empreiteiros pela operação.
A nomeação de Navarro para o STJ com o intuito de conceder liberdade a presos da Lava-Jato já havia sido revelada pelo senador Delcídio Amaral (sem partido-MS) em delação. Com base nessa acusação, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pediu ao Supremo Tribual Federal (STF) a abertura de inquérito para investigar Dilma. Na quarta-feira, Dilma declarou que as acusações de Delcídio são “levianas” e “mentirosas”.
Segundo a “Folha de S.Paulo”, os procuradores aguardam explicações sobre o esquema de financiamento de projetos no exterior para fechar o acordo de delação premiada. Eles esperam informações sobre a atuação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em negócios de empreiteiras na América Latina e na África. Marcelo Odebrecht foi condenado a 19 anos e 4 meses de prisão pelos crimes de corrupção, lavagem de dinheiro e participação em organização criminosa.
Em nota enviada ao jornal, Luciano Coutinho afirmou que não tratou de doações com executivos da Odebrecht ou de qualquer empresa. O advogado de Mantega, José Roberto Batochio, disse que o ex-ministro “jamais tratou de assunto de campanha de quem quer que seja”. O ministro Edinho Silva afirmou que as doações foram legais e as contas foram aprovadas pela Justiça Eleitoral. Já o PT negou que tenha cobrado propina em relação a empréstimos concedidos pelo BNDES.