Quem produz opinião na grande imprensa?

Foto: Reprodução/ Blog do Noblat

Jornalismo Brasileiro: gênero e cor/raça dos colunistas dos principais jornais do país

por Marcia Rangel Candido e João Feres Júnior, no Iesp-UERJ

A ausência de diversidade no jornalismo brasileiro tradicional não é novidade. Tampouco se refere apenas à existência dos oligopólios midiáticos. Produção de conteúdo e quem o produz são duas faces dos meios de comunicação que têm sido paulatinamente contestadas pelos movimentos sociais e pelos intelectuais acadêmicos. Desde 2014 o Manchetômetro, iniciativa do Laboratório de Mídia e Esfera Pública do Iesp-Uerj, desenvolve o acompanhamento dos principais jornais impressos e do Jornal Nacional deixando em evidência o viés desigual da cobertura concedida pelos grandes meios aos distintos segmentos da política brasileira.

Além da produção de notícias que acompanham os acontecimentos cotidianos da sociedade, os jornais fornecem espaços de opinião para pessoas apontadas como especialistas em determinados temas. O Infográfico – Jornalismo Brasileiro apresenta o perfil de gênero e cor/raça dos colunistas dos principais jornais impressos do país – O Globo, Folha de São Paulo e Estadão. O gênero masculino é predominante nos três jornais e perfaz, respectivamente, 74%, 73% e 72% do total de colunistas em cada um. Em relação à cor/raça a desigualdade é ainda mais severa, com os dados de colunistas de cor branca atingindo 91% para o jornal O Globo, 96% para a Folha de São Paulo e 99% para o Estadão. O total de indivíduos analisados variou em função dos dados disponíveis nos sites dessas mídias. A Folha de São Paulo (total = 256) apresenta listagens dos colunistas, ex-colunistas e colunistas convidados[1], enquanto o Estadão (total = 82) fornece os nomes apenas dos seus colunistas atuais. Por fim, O Globo (total = 46) expõe seus colunistas de maneira dispersa, em mais de uma sessão do jornal.

Como outros estudos do GEMAA já mostraram[2], a interação entre gênero e cor/raça é fundamental para não invisibilizar a situação específica das mulheres negras (pretas e pardas). A Folha de São Paulo não possui sequer uma colunista negra. Já o jornal O Globo apresentou 4% de mulheres negras nessa função, enquanto o Estadão ficou com 1%. A concessão de lugar de fala em importantes meios de comunicação pressupõe um conhecimento que deve ser expresso e tomado como referência, seja para embasar reflexões críticas, ou para estimular a formação de gostos. A baixa participação de mulheres brancas e a quase exclusão de homens negros e, sobretudo, de mulheres negras demonstram a não democratização de um importante nicho de formação de opinião. Ademais, o perfil profissional dos colunistas que obtêm espaço nesses meios também sugere a ínfima abertura a um ponto de vista popular acerca dos problemas sociais e políticos do país. A mídia brasileira prioriza um olha sobre o mundo privilegiado e pouco condizente com a realidade nacional.

[1] Os colunistas que se repetiram nessas três categorias foram contabilizados apenas uma vez.

[2] Ver: Televisão em Cores? Raça e sexo nas telenovelas “Globais” (1984-2014) – Luiz Augusto Campos e João Feres Júnior

A Cor e o Sexo da Política: composição das câmaras federais e estaduais (2014) – Luiz Augusto Campos e Carlos Machado

“A Cara do Cinema Nacional”: gênero e cor dos atores, diretores e roteiristas dos filmes brasileiros (2002-2012) – Marcia Rangel Candido, Gabriella Moratelli, Verônica Toste Daflon e João Feres Júnior

O Instituto de Estudos Sociais e Políticos da UERJ (Iesp-UERJ) é parceiro do blog O Cafezinho. Semanalmente publicamos o Congresso em Notas, um produção do Laboratório de Estudos de Mídia e Esfera Pública do IESP-UERJ, sobre o cotidiano do Congresso Nacional. São informações públicas e relevantes, mas pouco noticiadas pela grande imprensa.

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