Por Theófilo Rodrigues, colunista do blog O Cafezinho*
A julgar pelo que vem sendo costurado nos bastidores de Brasília, o provável ministério a ser indicado por Michel Temer em caso de impeachment da presidenta Dilma Rousseff terá um perfil ainda mais conservador do que foi o de Fernando Henrique Cardoso na década de 90.
Talvez o caso mais notório seja o do pastor Marcos Pereira, presidente do PRB. Pereira consta como provável indicado para assumir o ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. Seria apenas mais uma indicação partidária não fosse Pereira um pastor que acredita no criacionismo justamente na pasta da ciência.
Cotado para a pasta da Educação está o deputado federal Mendonça Filho do DEM. Para quem não se recorda, Mendonça Filho foi o principal defensor da proposta de emenda constitucional que permitiu que as universidades públicas cobrem mensalidade para cursos de extensão, pós-graduação lato sensu e mestrados profissionais. Ou seja, mudou a Constituição de 88 para acabar com a exigência da gratuidade no ensino superior público.
Para a Justiça vem sendo ventilado o nome do atual secretário de segurança pública de São Paulo, Alexandre de Moraes. Entre tantas outras críticas, Moraes é acusado de ter atuado de forma truculenta contra os estudantes que ocuparam as escolas do estado contra a reformulação do ensino. Mas o que mais pesa contra seu nome é o fato de ter sido advogado de Eduardo Cunha em 2014. Sua indicação sinalizaria um controle maior sobre as investigações da Operação lava-Jato.
Novata na Câmara, Renata Abreu do PTN é a provável indicada para o ministério dos Direitos Humanos. Só tem um pequeno detalhe em sua ficha biográfica que incomoda as organizações sociais que agendam o tema: Renata Abreu é uma crítica do aborto legal, uma agenda que é central no debate dos militantes de direitos humanos.
Outra preocupação está no interior do Ministério do Trabalho. A pasta deverá ser comandada pelo PTB que sugeriu o nome do pastor da Assembleia de Deus, Ronaldo Nogueira. Esse ministério será compartilhado por dois partidos. A secretaria responsável pela Previdência Social deverá ser destinada para um nome do PSC, partido cristão sem qualquer reconhecimento técnico na área.
Esses são apenas alguns exemplos do que pode surgir do ministério que está em construção. Embora compartilhe com a equipe de Fernando Henrique Cardoso um perfil privatizador – esse será o papel de Moreira Franco – o futuro governo de Temer avança no conservadorismo de valores.
Fizemos abaixo uma sistematização dos nomes e das respectivas pastas a partir do que vem sendo noticiado nos últimos dias.
Provável ministério de Michel Temer:
Fazenda – Henrique Meirelles
Banco Central – Ilan Goldfajn
Planejamento – Romero Jucá (PMDB)
Casa Civil – Eliseu Padilha (PMDB
Articulação Política – Geddel Vieira Lima (PMDB)
Coordenação Público-Privado – Moreira Franco (PMDB)
Esportes – Marco Antônio Cabral (PMDB)
Turismo – Henrique Eduardo Alves (PMDB)
Minas e Energia – Eunício Oliveira (PMDB)
Desenvolvimento Social – Osmar Terra (PMDB)
Portos – Helder Barbalho
Relações Exteriores – José Serra (PSDB)
Cidades – Bruno Araújo (PSDB)
Justiça – Alexandre de Moraes (PSDB)
CGU – Ellen Gracie (PSDB)
Educação – Mendonça Filho (DEM)
Comunicação – Gilberto Kassab (PSD)
Cultura – Roberto Freire (PPS)
Defesa – Raul Jungmann (PPS)
Ciência e Tecnologia – Marcos Pereira (PRB)
Meio Ambiente – Sarney Filho (PV)
Integração Nacional – Fernando Filho (PSB)
Trabalho – Ronaldo Nogueira (PTB)
Desenvolvimento Agrário – José Silva (Solidariedade)
Direitos Humanos – Renata Abreu (PTN)
Transportes – Maurício Quintella – (PR)
Agricultura – Blairo Maggi (PP)
Saúde – (PP)
Previdência Social – (PSC)
Caixa Econômica – Gilberto Occhi (PP)
*Theófilo Rodrigues é cientista político e coordenador do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé no Rio de Janeiro.