Apocalipse now!

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Análise Diária de Conjuntura – 06/05/2016

A comissão do Senado que analisava o pedido de impeachment vindo da Câmara aprovou-o por 15 a 5, como já era esperado.

É um jogo de cartas marcadas. Os senadores não deram a mínima bola para a defesa da presidenta Dilma. Os argumentos jurídicos, irrefutáveis, de que não houve crime de responsabilidade, não significaram nada. [/s2If]

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O que importa, para os senadores favoráveis ao impeachment é a posição da mídia, e a mídia apoia o impeachment, e não dá nenhum cartaz para os argumentos das forças governistas de que se trata de um golpe, justamente por não se haver apontado nenhum crime cometido pela presidenta.

Ironicamente, o humor dos parlamentares governistas mudou para melhor, como se tivessem se livrado de um peso insuportável que era prestar apoio a um Executivo completamente desarmado diante dos ataques diuturnos oriundos dos centros de conspiração midiático-judicial.

É o caso, por exemplo, do senador Lindbergh Farias, cuja indignação contra o golpe é contrabalançada pela perspectiva animada de ser o novo líder da oposição.

Os bastidores da política estão fervendo de boatos sobre uma nova investida da Lava Jato, não se sabe se contra Eduardo Cunha e seus familiares, ou contra Lula.

Seja como for, a Lava Jato continua sendo um vetor essencial do golpe: o jornalista Breno Altman está sendo processado por Sergio Moro, o que é evidentemente uma incursão do golpe no terreno da intimidação contra o trabalho crítico de jornais, revistas e blogs alternativo, e que hoje podemos chamar que são de “oposição”.

Vamos ver se o golpe vai se desmascarar agora ou se vai esperar. De qualquer forma, o seu modus operandi, hoje, é muito mais insidioso. O neogolpismo gosta de atacar no escuro. Sua arma principal é a humilhação, a desmoralização, o assassinato de reputação.

O clima do novo governo já começa apocalíptico, em virtude de inúmeros fatores, mas sobretudo por significar a vitória de uma extrema direita derrotada nas urnas por quatro vezes seguidas.

Um dos primeiros assessores contratados por Michel Temer, para lhe aconselhar na presidência, foi o filósofo Denis Lerrer Rosenfield, um representante furioso da extrema-direita, um Olavo de Carvalho menos esquizofrênico. Rosenfield, segundo fontes do blog, é muito próximo de Leonardo Coutinho, um brasileiro agente da CIA, que andou escrevendo livros sobre a “influência do Irã no Brasil”…

Temer também já decidiu recriar o GSI, um departamento de inteligência militar, herança da ditadura, para o qual o novo presidente já teria convidado vários oficiais ultraconservadores, formados na Escola do Panamá, e que vêem os movimentos sociais, sindicatos, estudantes, pensadores de esquerda, como o “inimigo interno”.

As sinalizações do novo governo são todas péssimas, com uma visão de conjuntura política extremamente medíocre. Dilma Rousseff perdeu popularidade porque não respeitou a regra mais elementar da política, que é dialogar com os campos que lhe prestaram apoio para vencer as eleições. Se dialogasse mais, poderia ter bebido novas ideias, e feito uma gestão de expectativa mais competente.

Dilma desprezou a política, e tentou, mais uma vez, compor com a mídia. Deu no que deu.

Uma entrevista da Agência Pública reproduzida aqui no blog, com um dos principais homens de Fernando Lugo, ex-presidente do Paraguai, traz um pensamento interessante sobre a conjuntura latino-americana. Os governos mais moderados foram os primeiros a cair, justamente porque não criaram estruturas narrativas para se defenderem dos ataques vindos sobretudo das corporações midiáticas, as quais forma, em nosso continente, um grande cartel patrocinado por agências de publicidade norte-americanas. [/s2If]

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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