Menu

Ganhador do Pulitzer, fotógrafo do New York Times denuncia a Globo e o golpe

Mauricio Lima, Fotógrafo do NYT e Ganhador do Pulitzer 2016, Denuncia a Globo e o “Golpe” no Brasil Por Glenn Greenwald, no The Intercept Dez dias atrás, o fotógrafo Mauricio Lima foi festejado pelos grandes meios corporativos de comunicação do Brasil, quando ganhou o Prêmio Pulitzer 2016 na categoria Breaking News Photography, o primeiro brasileiro […]

1 comentário
Apoie o Cafezinho
Siga-nos no Siga-nos no Google News

Mauricio Lima, Fotógrafo do NYT e Ganhador do Pulitzer 2016, Denuncia a Globo e o “Golpe” no Brasil

Por Glenn Greenwald, no The Intercept

Dez dias atrás, o fotógrafo Mauricio Lima foi festejado pelos grandes meios corporativos de comunicação do Brasil, quando ganhou o Prêmio Pulitzer 2016 na categoria Breaking News Photography, o primeiro brasileiro a ganhar o prêmio. Lima compartilhou o Pulitzer com os colegas, também fotógrafos do New York Times, Sergey Ponomarev, Tyler Hicks e Daniel Etter, com quem trabalhou para produzir uma impressionante série de fotografias documentando a jornada de uma família de refugiados sírios, os Majids, enquanto eles viajavam da Grécia à Suécia para pedir asilo. No ano anterior, Lima, com dois colegas, foi finalista na mesma categoria do Pulitzer por seu trabalho no New York Times mostrando a devastação da guerra na Ucrânia. Na semana passada, um colunista d’O Globo citou a definição de Joseph Pulitzer sobre o propósito do jornalismo para afirmar que “não há melhor definição para descrever o trabalho de Mauricio Lima.”

Mas na noite de ontem, Lima lançou um duro e direto ataque aos mesmos meios de comunicação que dias antes o saudavam como um herói. Lima, junto com os mesmo três colegas do NYT, foi declarado vencedor do prêmio John Faber pelo Overseas Press Club pela “melhor reportagem fotográfica do exterior em jornais ou serviços de notícias.”

Em um comovente discurso de três minutos, Lima aceitou o prêmio em nome de seus colegas e o dedicou a “cada refugiado com quem cruzei no último ano, pessoas oprimidas pelas guerras e pela injustiça social.” Ele prestou uma homenagem especial à família Majid, que “aceitou por 29 dias um estranho com uma câmera como parte de sua família.” Mas ele dedicou a última parte do seu discurso aos eventos em seu país, o Brasil.

“Eu acho muito importante dizer algumas palavras – eu sou do Brasil”, começou ele, adicionando: “Tenho certeza que todos aqui sabem o que está acontecendo no Brasil neste momento.” Ele continuou: “Eu gostaria de expressar meu apoio à liberdade de expressão e à democracia – o que é exatamente o que não está acontecendo no Brasil agora.” Para finalizar seu argumento, uma simples sentença: “Então, eu sou contra o golpe.”

Notadamente, o ganhador do Pulitzer contrastou o “muito alto nível dos profissionais do jornalismo daqui” – os que se reuniam na cerimônia em Nova York – com os meios de comunicação no Brasil incitando abertamente os protestos de rua e fazendo agitação para a saída da presidente eleita. Para enfatizar seu argumento, ele mostrou uma placa com as palavras “Golpe: Nunca Mais” onde a letra “o” foi substituída pela logomarca da Globo, maior e mais influente meio de comunicação do Brasil, que passou 20 anos saudando o golpe de 1964 e a ditadura militar que se seguiu, e que no último ano usou flagrantemente suas múltiplas plataformas de mídia para fazer propaganda em favor do impeachment de Dilma.

A mídia brasileira perdeu completamente o controle da narrativa no exterior, mas também vem perdendo cada vez mais no Brasil. Seu plano desonesto para instalar na presidência o Vice-Presidente Michel Temer, acusado de corrupção, profundamente impopular e servo das oligarquias – que, nesta semana, de maneira indescritivelmente Orwelliana, chamou as propostas de “novas eleições” de um “golpe” – está se tornando insustentável.

Figuras proeminentes e universalmente respeitáveis estão cada vez mais se posicionando em relação ao perigoso assalto à democracia; o mais recente foi o ganhador do Prêmio Nobel da Paz em 1980, por seu corajoso trabalho contra a ditadura militar em seu país, o argentino Adolfo Pérez Esquivel, que essa semana, em visita ao Brasil disse: “Está muito claro que o que está sendo montado aqui é um golpe de estado disfarçado, o que chamamos de um golpe branco,” adicionando: “Seria um grave retrocesso para o continente. Sou um sobrevivente dos dias da ditadura [militar argentina]. Fortalecer as instituições democráticas nos custou caro. E agora elas estão sofrendo ataques.”

Dada sua posição no jornalismo internacional, a contundente denúncia de Lima em relação ao impeachment e o notável papel não-jornalístico da Globo, certamente acelerará esse processo. Você pode assistir a seu discurso aqui:

Apoie o Cafezinho

Miguel do Rosário

Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.

Mais matérias deste colunista
Siga-nos no Siga-nos no Google News

Comentários

Os comentários aqui postados são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião do site O CAFEZINHO. Todos as mensagens são moderadas. Não serão aceitos comentários com ofensas, com links externos ao site, e em letras maiúsculas. Em casos de ofensas pessoais, preconceituosas, ou que incitem o ódio e a violência, denuncie.

Escrever comentário

Escreva seu comentário

Monicanusp

30/04/2016 - 11h54

Se assistisse apenas às TV’s e lesse somente os jornais tradicionais, pensaria que estaria à beira da loucura por discordar da suposta realidade política brasileira apresentada diariamente por essas mídias. Também me sentiria isolada, sozinha e deslocada politicamente.

Parece que vivemos na fictícia República Miranda, aquela do inesquecível filme de Buñuel, “O discreto charme da burguesia”, que cada fala de um oprimido era derrotado, subjugado por um barulho ensurdecedor do ambiente.

Encontrar eco nos chamados blogs sujos, nos artistas mais politizados, nos jornais sérios do mundo, nos jornalistas que realmente praticam os princípios da sua profissão, nos movimentos sociais e estudantis, tudo isso me faz pensar em como deve ter sido em 1964, criar resistência quando a internet não existia e não era possível estabelecer essa rede que nos coloca em contato com mentes e vozes mais democráticas, caladas pelas mídias tradicionais. Heróis aqueles que resistiram bravamente ao golpe de 64!


Leia mais

Recentes

Recentes