por J. Carlos de Assis, no Tribuna da Imprensa
É natural que alguém que esteja se afogando não se preocupe com a cor da cueca. Pois é justamente uma preocupação desse tipo que o ministro da Fazenda, Nélson Barbosa, demonstrando a mais suprema imbecilidade em matéria de economia política, revelou ao mundo ontem na forma de um anúncio de que cortará programas sociais no justo momento em que comandante dos golpistas, Michel Temer, anuncia que vai preservá-los e ampliá-los.
Quando foi transferido para a Fazenda na queda de Joaquim Levy, Barbosa, a meu juízo, merecia um crédito de confiança. Diziam que era um keynesiano e, surpresa maior, simpático às teses de Aba Lerner. Lerner, para quem não conhece, autor da teoria de Finanças Funcionais, levou ao extremo a teoria keynesiana ao propor o financiamento de gastos públicos diretamente por emissão monetária, apenas “enxugada” por títulos públicos.
Creio que eu seja um dos principais divulgadores de Lerner no Brasil através de outro economista norte-americano de vanguarda, Randall Wray, cujo livro “Understanding Modern Money” traduzi para o português sob o nome de “Trabalho e Moeda Hoje” (Ed. UFRJ e Contraponto). Acreditando no perfil de Barbosa que me foi passado, e tendo em vista sua formação na UFRJ, supus que poderíamos ter, enfim, uma política progressista na Fazenda depois do desastre de Joaquim Levy.
Então veio o terremoto econômico de 2015, uma queda de quase 4% do PIB, seguida por tragédia similar neste ano. Pior, o desemprego explodiu para mais de 10 milhões até agora, e crescente. Para um keynesiano como eu, ainda mais de raízes marxistas, não existe nada mais terrível para uma sociedade que o alto desemprego. Não falo das lamúrias oportunistas apresentadas pela TV Globo. Falo da dignidade do trabalhador e de sua família. E falo principalmente da inação governamental diante do desemprego.
Entretanto, conhecemos o remédio para o alto desemprego e a contração da atividade econômica desde os anos 30, com o New Deal nos EUA. E não é preciso ir longe. Nós próprios aplicamos esse remédio em 2009 e 2010, com um sucesso espetacular: saindo de uma situação de contração no primeiro ano, a economia teve um crescimento chinês de 7,5% no segundo. Só não mantivemos a marcha porque capitulamos aos neoliberais em matéria fiscal e monetária sob pressão dos especuladores financeiros.
Qual é o remédio? Ampliar os gastos públicos deficitários. Assim foi feito no New Deal e assim tem sido feito nos EUA desde 2009, começando, nesse ano, por um déficit de 1,4 trilhão de dólares, 9% do PIB. Nesse ano e no ano seguinte, acompanhando o padrão norte-americano, expandimos os gastos deficitários do BNDES em R$ 180 bilhões. Diante disso, é um espanto o que faz Nélson Babosa. Com a economia em contração e o desemprego em alta, e sob ameaça de impeachment, ele anuncia cortes adicionais nos gastos públicos sociais.
Um sujeito como esse na Fazenda em pleno processo de impeachment leva a duas conclusões: ou ele acredita no que faz e, nesse caso, é um rematado idiota da economia, ou ele cumpre ordens da Presidenta, e neste caso não tem caráter para se opor aos equívocos que ela, por alguma inspiração metafísica, porém não econômica, lhe impõe. Há ainda uma terceira possibilidade: o desejo de sair bem na foto neoliberal para cavar um empreguinho no FMI ou Banco Mundial, depois da crise, como fez Levy.
J. Carlos de Assis é Economista, professor, doutor pela Coppe/UFRJ
James Stewart
27/04/2016 - 14h42
Desde quando aumento imoral para o judiciário significa corte de gastos?
curitibano
27/04/2016 - 17h26
Desculpe, mas isso não é verdade. Esse aumento foi proposto 2 anos atrás e encontrou oposição do Governo Federal. Mais, o aumento é para os servidores,que estão há 11 anos com os mesmos salários. Os membros do Judiciário, ou seja, os juízes e procuradores tem tido aumento todos os anos, e não vejo ninguém reclamando disso, já quando o aumento é para servidores dá manchete em jornais.
Luiz Felipe Martins
27/04/2016 - 13h28
Se não tiver cortes vão querer pagar o gasto como? Imprimindo dinheiro ou pedindo ao FMI?
eto
27/04/2016 - 16h54
Baby boy, você não leu o artigo, não é? Tem gente que não tem vergonha de provar que é ignorante.
Luiz Felipe Martins
27/04/2016 - 17h08
Claro que não li. Não quero desenvolver câncer.
eto
27/04/2016 - 17h21
Os comentários não existem pra trollar, são feitos para discussão.
Sua atitude é infantil.
Gerson
27/04/2016 - 19h55
Taxação e cobrança da bilionária sonegação, taxação e controle das remessas de dólares para o exterior, imposto sobre grandes fortunas.
Fabricio
27/04/2016 - 13h27
Tem que cortar mesmo, enxugar a máquina pública, privatizar estatais e aumentar a liberdade individual.
Gerson
27/04/2016 - 19h59
Inocente útil neoliberal…como se a iniciativa privada fosse o suprasumo da eficiência. Bando de corruptos que infestaram a política nacional de Cunhas. Já vimos nesse país o que acontece quando empresas estão a beira da falência, como a toda poderosa Globo na época de FHC, correndo para os bancos estatais para pedir empréstimos a juros favoráveis. Essa é a liberdade individual de receber os lucros, mas estatizar os prejuízos.
Fabricio
27/04/2016 - 20h08
A iniciativa privada somos todos nós, meu caro. Governo não deve ser babá.
Gerson
27/04/2016 - 20h15
Não deve ser para os ricos, mas é o que normalmente acontece. Como o governo é todos nós, como você diz, tem no mínimo uma metade desse “nós” que acha que o governo tem sim o dever de proteger os mais pobres, os que mais precisam, de incentivar políticas públicas para o desenvolvimento de todos. Ou você acha que o “nós” são só liberais e empresários?
Fabricio
27/04/2016 - 20h32
Não disse que o governo somos nós. Disse que somos a iniciativa privada, e que o governo não deve agir como babá das pessoas, pois não tem esse direito. Admito que muitos gostam de líderes e babás, por isso o sistema atual é mantido; muitas pessoas gostam de ser escravas, de não gerir suas vidas. Minha filosofia, o Libertarianismo, diz que quanto menor a influência da máquina pública na vida pessoal do cidadão, melhor. Por isso, é necessário que o Estado se afaste de todos os órgãos e empresas ligados a todas as áreas que não sejam Saúde, Educação e Segurança, pois estas são funções próprias de um Estado. Todo o resto deve ser privatizado e entregue aos cidadãos. Escândalos como o da Petrobrás são impossíveis em um livre mercado e onde o Estado não têm tanto poder, e se acontecerem, prejudicam apenas os donos da empresa, e não o país, como acontece em corrupção em estatais. O Brasil não irá crescer ou remediar desigualdades sociais com uma economia engessada, onde a taxa de impostos é tão alta que o empreendedor muitas vezes nem se atreve a abrir um negócio.
Gerson
27/04/2016 - 21h13
E como o governo vai ter dinheiro para saúde para dezenas de milhões de pessoas, educação e segurança se não tiver empresas estatais ou fazer a cobranças de impostos, ou combater a sonegação? É muito fácil dizer que quanto menor a influência do Estado melhor, quando se tem um curso superior (muitas vezes bancado pelo Estado), ou que cresceu tendo todas as oportunidades (de moradia, educação e saúde). Mas vai tirar o Estado da vida das pessoas que moram por exemplo no Jalapão (BA), ou no norte de Minas Gerais (Vale do Jequitinhonha), ou na caatinga do nordeste, ou no interior da Amazônia, ou na parte sul do RS (isso só para citar alguns exemplos), para ver o que acontece. Pessoas morrem de fome ou sobrevivem tomando sopa de pedra. Escândalo da Petrobras existiu por causa de pessoas corruptas, corrompidas por empresas privadas, e que já vinham roubando a décadas. A Petrobras tem dezenas de milhares de servidores, que muitas vezes dão a vida, e que nunca se corromperam, ao contrário de meia-duzia de funcionários graduados. Por causa de um erro grave de algumas pessoas, não se pode acabar com a Empresa que sempre foi indutora de desenvolvimento. Além, da propriedade do bem maior, que é o petróleo, da maior jazida descoberta em águas profundas do mundo nos últimos anos. Tem que entregar para a iniciativa privada também? Para os gringos? Não me parece nem de longe a melhor iniciativa.
Pomp
28/04/2016 - 10h47
Bravo! Bravo! Magnífico! Clap clap clap clap clap