Brasil despenca no Índice de Liberdade de Imprensa para o 104º lugar
No Repórteres Sem Fronteiras – clique aqui para conferir o artigo original, em inglês
Os constantes conflitos de interesse na mídia brasileira e um preocupante nível de violência contra os jornalistas fez com que o Brasil despencasse cinco posições no Índice Mundial de Liberdade de Imprensa, publicado hoje pela organização Repórteres sem Fronteiras (RSF).
O Brasil ocupa agora o 104º lugar em um total de 180 países, posição imerecida para um país considerado modelo na região. Em 2010, o Brasil ocupava o 58º lugar.
Por que isso aconteceu? A principal razão é a violência crescente enfrentada por jornalistas, assim como a ausência de vontade política de alto escalão para proteger esses profissionais de forma eficaz. Além da queda no ranking, o índice de desempenho do país, que mede o nível de violações à liberdade de imprensa, subiu de 25,78 em 2014 para 31.93 em 2015, uma piora significativa.
Ainda assim, o gigante da América Latina permanece à frente de alguns de seus vizinhos como o Equador (109º), Guatemala (121º), Colômbia (134º), Venezuela (139º), México (149º) e Cuba (174º).
No Brasil, a recessão econômica e a instabilidade política intensificaram os principais obstáculos à liberdade de imprensa e o clima de hostilidade em relação aos jornalistas. Ao mesmo tempo, os meios de comunicação continuam concentrados nas mãos de poucas famílias empresárias vinculadas à classe política.
O problema dos “coronéis” do Brasil, descritos pela RSF em seu relatório de 2013 (“O país dos 30 Berlusconis”), continua imbatível. Os tais “coronéis” são geralmente grandes proprietários de terras e empresários industriais que se desempenham ao mesmo tempo como legisladores ou governadores estaduais e que controlam a formação de opinião em suas regiões, já que, direta ou indiretamente, são os donos de diversos meios de comunicação. Dessa forma, a mídia depende fortemente dos centros de poder político e econômico.
A cobertura midiática no Brasil da atual crise política evidenciou ainda mais o problema. De forma bastante escancarada, os principais meios de comunicação do país vem convocando a população a derrubar a presidenta Dilma Rousseff. Os jornalistas quer trabalham para esses grupos de comunicação estão claramente sujeitos a interesses privados ou partidários, e esses permanentes conflitos de interesses são muito prejudiciais para a qualidade de suas reportagens.
A queda do Brasil no Índice também é resultado da falta de um mecanismo nacional para a proteção de jornalistas em perigo e para o combate à impunidade por crimes de violência contra jornalistas, que prevalece e se intensifica pela corrupção tão disseminada.
Com sete jornalistas assassinados somente em 2015, o Brasil continua a ser o país mais fatal do mundo ocidental para profissionais de comunicação, atrás do México e de Honduras. Todos eles estavam investigando assuntos sensíveis como corrupção e crime organizado.
A forte presença do crime organizado em algumas regiões mais afastadas das grandes cidades torna ainda mais complicada a cobertura destas questões, e a dificuldade em punir os responsáveis pelos assassinatos de jornalistas estimula a reincidência.
Finalmente, não houve trégua na violência da polícia militar contra os jornalistas durante as manifestações, um problema que teve início em 2013. Tanto jornalistas brasileiros como estrangeiros são frequentemente agredidos, ameaçados e até detidos arbitrariamente durante os protestos. Eles também são muitas vezes atacados pelos próprios manifestantes, que os identificam com os proprietários dos meios para os quais trabalham.
Publicados anualmente pela RSF desde 2002, o Índice Mundial de Liberdade de Imprensa mede o nível de liberdade de que gozam os jornalistas em 180 países usando os seguintes critérios: pluralismo, independência dos meios de comunicação, ambiente dos meios e autocensura, ambiente legislativo, transparência, infraestrutura e abusos.
Acesse o site da RSF para saber mais sobre o Índice Mundial de Liberdade de Imprensa e a metodologia utilizada no seu cálculo.
Tradução: Brigada Herzog