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Comunidade internacional denuncia o golpe. Obama fica em silêncio
Esta viagem do Senador Aloysio Nunes para encontros no Departamento de Estado dos EUA nestes dias em que se processa o golpe será apenas coincidência?
por Jeferson Miola, na Carta Maior
Vários governos nacionais, círculos acadêmicos e intelectuais, setores menos fanatizados da imprensa, organizações populares, partidos políticos, juristas e organismos regionais e internacionais manifestam solidariedade com o povo e com o governo brasileiro, e denunciam a tentativa de golpe de Estado em curso no Brasil.
Semana passada, o New York Times alertou na capa do jornal que “a Presidente Dilma não roubou nada, mas está sendo julgada por uma quadrilha de ladrões”.
Dos organismos do hemisfério americano chegam manifestações bastante preocupadas com a realidade brasileira. A OEA – Organização dos Estados Americanos se expressou através do Secretário-Geral Luiz Almagro, que após visita oficial à Presidente Dilma, declarou em comunicado de imprensa o entendimento de que “a organização do sistema constitucional brasileiro é clara e, por essa razão, estabeleceu os limites constitucionais para o exercício do impeachment. Desconhecer esses limites afeta a própria estrutura de funcionamento do sistema, assim como distorce a força e operatividade que devem ter a Constituição e as Leis. Nossa preocupação [com o golpe em curso no Brasil] não é isolada, porque o sistema das Nações Unidas e a UNASUL” têm se manifestado a respeito.
O comunicado conclui dizendo que o “Brasil tem sido um exemplo de democracia no continente e necessitamos que siga sendo. Por isso é que a comunidade internacional faz um chamado nesta direção”.
A UNASUL – União das Nações da América do Sul, em comunicado do Secretário-Geral Ernesto Samper [ex-Presidente da Colômbia] neste 18 de abril, afirma que a abertura do “processo de destituição da Presidente Rousseff” sem a existência de causas para tal, “constitui um motivo de séria preocupação para a região”.
O comunicado da UNASUL termina esperançoso de que “o Senado da República, atuando com consciência de juiz, e depois de avaliar a firmeza e pertinência das provas aportadas, detenha este processo que poderá afetar seriamente a democracia regional e a segurança jurídica hemisférica”.
Deputados do Parlamento do MERCOSUL das bancadas da Argentina, Bolívia e Uruguai manifestaram seu apoio à Presidente Dilma, que “tem suportado uma campanha de desprestígio da sua imagem por parte dos meios de comunicação a partir de estereótipos de gênero, constituindo um procedimento vil que desqualifica absolutamente seus perpetradores”.
O CLACSO – Conselho Latino Americano de Ciências Sociais se manifestou dizendo que, “se o golpe prospera, o CLACSO se somará a todas as organizações internacionais que exigirão o cumprimento das cláusulas democráticas dos acordos e tratados dos quais o Brasil é signatário, fato que constituirá uma vergonhosa e dura condenação ao novo governo golpista”.
Chama a atenção, todavia, o silêncio do Presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, sempre loquaz em comentar e se imiscuir na realidade interna de todos os países do mundo, e que curiosamente silencia em relação à tentativa de golpe de Estado no Brasil.
Vale tomar nota que o Presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado da República, o Senador tucano Aloysio Nunes Ferreira, se encontra em Nova York e Washington para encontros oficiais no Departamento de Estado. Ele está acompanhado do diplomata do Itamaraty Eduardo Sabóia – aquele funcionário tresloucado que planejou e executou a fuga e ingresso no Brasil do ex-senador boliviano [e réu na justiça boliviana] Roger Pinto Molina – e que atua como assessor da Comissão. Esta viagem do Senador Aloysio para encontros no Departamento de Estado dos EUA nestes dias em que se processa o golpe do qual o PSDB é sócio-remido será apenas uma coincidência?