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O golpe e os sonhos torturados

[s2If !current_user_can(access_s2member_level1) OR current_user_can(access_s2member_level1)] (Foto: Mobilização contra o golpe em Brasilia. Crédito: Flickr do Mídia Ninja). Análise Diária de Conjuntura – 19/04/2016 A presidenta Dilma concedeu, hoje pela manhã, uma entrevista coletiva à imprensa internacional, em que denuncia o golpe perpetrado contra seu mandato. Dilma demonstrou serenidade diante do revés sofrido, não apenas por ela, […]

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(Foto: Mobilização contra o golpe em Brasilia. Crédito: Flickr do Mídia Ninja).

Análise Diária de Conjuntura – 19/04/2016

A presidenta Dilma concedeu, hoje pela manhã, uma entrevista coletiva à imprensa internacional, em que denuncia o golpe perpetrado contra seu mandato.

Dilma demonstrou serenidade diante do revés sofrido, não apenas por ela, mas pela democracia, golpeada por uma conspiração espúria urdida por um vice-presidente traidor e um presidente da câmara que mentiu a seus próprios pares sobre contas na Suíça em seu nome. [/s2If]

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O Senado deverá autorizar, em menos de duas semanas, a abertura do julgamento do impeachment da presidenta, período no qual ela se afastará do cargo por 180 dias (seis meses).

Haverá então o julgamento do impeachment no Senado, em sessões presididas pelo presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo Lewandowski.

Os golpistas serão obrigados a rastejar na vergonha até o fim.

Daí a importância da Lava Jato, operação policial comandada por Sergio Moro, para desviar as atenções de um julgamento farsesco, baseado num relatório onde não se aponta nenhum crime de responsabilidade para a presidenta.

A Lava Jato se encarregará de desviar as atenções. E já começou, através de vazamentos seletivos envolvendo o nome do ex-presidente Lula.

Ao se misturar cada vez mais à agenda política do golpe, a Lava Jato perde credibilidade e desmoraliza não só a si mesma, mas todo o Judiciário brasileiro, hoje infelizmente hegemonizado por uma mentalidade autoritária e antidemocrática.

Coube à nossa geração a experiência de assistir a consolidação da nossa democracia, vivenciar anos em que o continente latino-americano foi a região mais progressista e mais democrática do mundo, com avanços sociais extraordinários, e ver tudo ruir ao som das trombetas apocalípticas de novos golpes políticos.

Há um pensamento de Hegel que eu costumava usar em meu blog antigo, o Óleo do Diabo, que podemos aplicar muito bem aqui:

Perseguindo seus interesses pessoais, os homens fazem história e são, ao mesmo tempo, as ferramentas e os meios de qualquer coisa de mais elevada, de mais vasta, que eles ignoram, e que eles realizam de maneira inconsciente.

Ao agredirem a democracia, visando apenas seus interesses particulares, os golpistas produziram, no Brasil e no mundo, um grande movimento em favor da democracia, no país e lá fora.

A paixão democrática reacendeu-se, e tenderá a aumentar cada vez mais que os brasileiros olharem para o seu novo presidente e não reconhecerem nele alguém em que tenham votado.

A mobilização popular vista nas últimas semanas somente se iguala às Diretas Já, quando a pressão de 20 anos de ditadura explodiu nas ruas.

Outra citação vale aqui, de Goethe, cujo Mefistófeles, ao se apresentar à Fausto, diz que ele é aquele que, fazendo o mal, engendra o bem.

Os golpistas, em seu afã para estuprar a democracia, estão criando, na consciência política brasileira, um sentimento de apaixonada resistência pela democracia.

O golpe será derrotado. A resistência vencerá.

Dilma, podíamos criticá-la à vontade, como quem briga com sua irmã, porque a conhecíamos. Votamos nela ou a vimos participar de uma série de entrevistas e debates, todos muito duros, a partir dos quais decidimos nosso voto.

E Michel Temer?

Seu governo será um dos mais tristes da história. A votação do dia 17, que sagrou a sua “vitória” foi um espetáculo tão deprimente que chocou a opinião pública internacional.

Que diferença para a vitória de Dilma em 2010 e 2014, fruto igualmente de mobilizações populares em todo país!

O ídolo dos coxinhas marchadeiros, Jair Bolsonaro, dedicou seu voto em favor do impeachment a um dos maiores torturadores da história do Brasil.

Faz sentido, os parlamentares, barões da mídia e juízes golpistas devem mesmo se inspirar nos meganhas da ditadura, porque eles agora se dedicam a torturar nossos sonhos e nossas esperanças.

Todos os símbolos negativos, da ditadura, do autoritarismo, do desprezo à democracia, estão se reunindo, naturalmente, espontaneamente, ao redor do golpe, como insetos em volta da lâmpada.

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Miguel do Rosário

Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.

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