Por Pablo Villaça, em sua página no Facebook
No momento em que escrevo este texto, 21h17 do dia 17 de Abril de 2016, o placar da votação na Câmara se encontra 252 a 81 a favor do golpe. Não há como negar o óbvio: perdemos. Eles terão NO MÍNIMO 360 votos.
Até agora, o que as câmeras no plenário exibiram foi um show de hororres: deputados que parecem pregar em um templo e que justificam seus votos dedicando-os a “Deus”, à suas famílias, “aos cristãos”, “aos maçons” (juro), “pelo direito de ir e vir” (hã?!) e, principalmente “contra a corrupção”.
Votam “contra a corrupção” para removerem uma presidenta que não foi acusada de crime algum e para colocarem, em seu lugar, Michel Temer e Eduardo Cunha. Votam “contra a corrupção” ignorando, entre outras coisas, que deveriam estar votando as tais “pedaladas fiscais”.
É sintomático, aliás, que apenas uns cinco ou seis deputados tenha mencionado as “pedaladas” em seus votos; ora, por que deveríamos esperar o contrário? Afinal, eles estavam julgando exatamente isso, não? Teve até deputado que, num ato falho perfeito, disse estar “cassando O BRASIL em nome do Pará”. Teve menção a Olavo de Carvalho. Teve voto contra a “ditadura comunista” (reparem: VOTO contra a DITADURA).
Muito bem… show de horrores à parte, o fato é que perdemos. E agora, o que acontece? Desespero? Pânico? Dores incapacitantes?
Nada disso. Ao contrário do que muitos deputados disseram durante seus votos (indicando seu despreparo para a tarefa), a Câmara não julgou o processo de impeachment, mas a ACEITAÇÃO de que esta seja enviado para o Senado. Quem decide se o processo será ADMITIDO e, então, JULGADO, são os senadores.
Os próximos passos são a formação de uma comissão no Senado para emitir um parecer sobre o processo – parecer que será julgado e terá que obter maioria SIMPLES (ou seja: 41 dos 81 senadores).
Dilma, então, perderia o cargo? Não. Seria afastada por 180 dias enquanto defesa e acusação são preparadas e apresentadas no Senado. A seguir, o processo seria enfim julgado, precisando obter 2/3 de aprovação (54 dos 81 votos) para que Dilma sofra o impeachment.
Em outras palavras: o golpismo venceu uma batalha importante, mas definitivamente NÃO venceu a guerra.
A partir de agora, tomar as ruas se torna ainda mais fundamental. É preciso que se torne impossível, pro Senado e pra mídia, ignorar nossas vozes (embora a mídia certamente vá tentar ao máximo). Além disso, há um elemento positivo na votação de hoje: os discursos dos deputados pelo “sim”. Como apontei acima, ficou transparente que não julgaram as “pedaladas”, mas questões ideológicas, religiosas e financeiras.
Não há mais como negarem a natureza golpista do que fizeram – houve até deputado dedicando seu voto pelo sim aos MILITARES DE 64.
O espetáculo na Câmara hoje foi tão grotesco que o único efeito possível é mobilizar de vez quem luta contra o golpe. Para completar – e isso é MUITO importante -, eles estão ignorando algo fundamental e que representa um elemento perigoso aos seus propósitos golpistas: os movimentos sociais, trabalhistas e das periferias.
E se posso fazer uma previsão é a de que estes se tornarão maiores e mais fortes. Outra coisa impossível de ignorar.
O dia 17 de Abril de 2016 entra pra História do Brasil como uma mancha. Mas tenhamos orgulho por saber que persistimos do lado certo.
Portanto, lindezas, lambam as feridas hoje. Chorem. (Eles não adoram dizer que “o “cholo é livre”? Aproveitemos a generosidade deles.) Esmurrem as paredes. Digam palavrões enquanto tomam banho. Quebrem um prato ou um copo (só um; lembrem-se de que terão que catar os cacos depois e isso é um saco). Só não entrem em brigas ou trocas de insultos, pois isto não é produtivo e somos, afinal, seres racionais.
Em seguida, ergam a cabeça, respirem fundo e olhem adiante. Este caminho que estão vendo à sua frente significa algo fundamental: que a luta continua.