Charge: Ribs
por Rogerio Dultra dos Santos, no Democracia e Conjuntura
Parecia um flash back.
No mesmo cenário, o mesmo assunto, com alguns atores que se repetiam, a mesma pantomima de 24 anos atrás foi reencenada. Com direito aos mesmos Deus, família e propriedade.
Em tudo, o pouco cuidado com o procedimento permaneceu. Da última vez, o Presidente, antes do término da votação, encaminhou para o Congresso uma carta de renúncia, que foi solenemente ignorada.
O Brasil inteiro de mãos dadas não poderia permitir que uma “formalidade” premiasse com direitos políticos o “caçador de marajás” que, afinal de contas, de marajá – com dinheiro alheio – parece que tinha tudo a ver. A catarse tinha que ser completa e o Presidente tinha que ser cassado.
Ontem, 17 de abril, várias formalidades foram relevadas.
Melhor dizendo, há tempos as formalidades não valem nada, diante da necessidade de eliminar não uma mulher, a Presidente, mas toda uma era, uma perspectiva de mundo e um claríssimo projeto de país.
Dos lugares mais obscuros da Câmara dos Deputados e, porque não dizer, do seu ponto mais solar – a mesa da presidência – o rugido profundo do atraso foi ouvido de forma consistente, em alto e bom som: “Que Deus tenha misericórdia desta nação!”.
Hoje se sabe que toda a movimentação nas ruas do país, desde junho de 2013, não era somente por R$ 0,20.
Havia uma agitação mais profunda e larga, internacional, a desejar tomar um pedacinho do Brasil.
Uma das pontas do iceberg, que hoje se sabe tinha endereço certo (a Casa Branca e não o Palácio do Planalto), foi a carta “vazada” do Vice-Presidente Michel Temer.
Embora a palavra de Temer tenha se esvaído no lodo da traição, o escrito permaneceu.
Como ele mesmo prenunciava em latim, “verba volant, scripta manent” – o verbo esvoaça, o escrito mantém-se. E no texto, o lamento fundamental por não ter sido convidado a estar na reunião com outro vice, o Joe Biden.
Reunião, coitado, em que não pôde afiançar uma palavra contrária à da Presidente, que não queria entregar o petróleo das águas profundas. Um mês depois, eclodiram as manifestações, com indivíduos infiltrados para causar tumulto e incendiar o país.
Isto só não aconteceu porque teve Copa. E a esquerda foi para a rua também.
Outra ponta que esclarece, retroativamente, este movimento orquestrado por grupos de variadas agências de Estado (Polícia Federal, Ministério Público Federal, Procuradoria Geral da República, Justiça Federal, Supremo Tribunal Federal, Legislativo e Executivo), foi aquilo que a era petista deixou de fazer, embora tenha sempre sido acusada disto: os governos Lula e Dilma não se lembraram de aparelhar os órgãos de Estado com indivíduos qualificados porém fiéis.
Não reformou, sequer, o modo como se realizam os concursos públicos, permitindo que sujeitos aptos a memorização e inaptos para a vida republicana e democrática se multiplicassem de forma descontrolada.
Coisa absolutamente corriqueira em qualquer democracia, inclusive em Miami, o cuidado em orientar politicamente estes aparelhos de Estado foi deixado para as próprias instituições, que se ensimesmaram associativamente e passaram a aspirar autonomia e a cuidar de uma pauta exclusivamente corporativa.
Como consequência, o próprio Estado passou a funcionar contra o governo, abrindo espaço para o golpe soft.
E tal desleixo pode ser facilmente personalizado na figura hoje “heróica” do Ex-Ministro da Justiça José Eduardo Cardozo. De uma paralisia afásica, permitiu que se fizesse de tudo. Inclusive conspirar contra a Presidente. Em resumo, uma vergonha.
O resultado é que o Brasil, hoje, pertence ao baixo clero.
O grande combate à corrupção deixou o país de joelhos para um réu confesso de corrupção passiva e para um suspeito de crimes equivalentes.
O medo de que Lula volte foi mais forte que o cuidado com a democracia e com a Constituição.
O que irá acontecer com o país? O “Lulo-Petismo” foi para o buraco?
O sol nascerá de novo, sob a música “sou brasileiro, com muito orgulho”, cantada a todos os pulmões pela Câmara dos Deputados, incluído no côro Eduardo Cunha?
A sanha moralizante se extinguirá exatamente na vez de Temer e Cunha se explicarem na Justiça?
Os heróis do MPF recuarão ante o senhor do Congresso Nacional, ou vão continuar limpando o país até que não sobre mais nada?
Dizem até que Temer prometeu parar a lava-jato.
Poder para isto parece que tem.
A adesão de Rodrigo Janot com certeza.
O país sucumbe, a passos largos, para o lugar que os de fora sempre desejaram: o da subordinação e subserviência passiva ao grande capital.
Uma nação partida, com pouquíssima condição – e a partir de agora, com pouquíssimo interesse – de reagir à sanha especulativa e predatória da ordem econômica global.
Como diria o Millôr, parece que apagaram a luz no fim do túnel.
Mas tem as ruas. Tem o povo.
O brasileiro que começou a entender, pelo modo mais difícil, que não há salvação fora da grande política.
Fora da grande política há, somente, a pequena política, a barbárie, Michel Temer e Eduardo Cunha.
Sabendo disto, chegou a hora do povo se unir contra o desmonte do país.
Chegou a hora de lutar.
Como diria um anti-herói da ficcção nacional: “ou você se corrompe, ou se omite ou vai prá guerra!”.
E isto, apenas para o flash back não se completar e ganharmos de brinde uma década de desmonte do Estado brasileiro. Porque a batuta, agora, está com a direita. O Brasil, agora, é de temer.
Gustavo Horta
19/04/2016 - 09h36
Faz sentido? – Sinceramente, Sra. Presidente, estou aqui a pensar com os meus botões: o PT optou por não lutar a luta cretina com a direita fascista, entregou o governo e o povo para entrar para a história!
Mais uma vez o bacanal está liberado! Mais uma vez a orgia com o nosso ânus esculachado, esculhambado, arregaçado.
Mas eles adoram!
Quem ainda tiver cu que se cuide!
AZ Botelho Paiva
18/04/2016 - 23h16
Este comentário eu escrevi, e publiquei no meu blog em julho de 2013. E agora esta se concretizando o que eu disse. Leiam
Enquanto o PMDB tiver as tetas gordas do governo para mamar, sem precisar se expor, ele jamais pensará em disputar a presidência da Republica.
Quem pensa que o PMDB não sabe a força que tem, esta redondamente enganado. O PT canta de galo, achando que está tudo dominado. Acredita que os chamados partidos da base aliada estão, e estarão sob seu domínio eternamente. Ledo engano. Os pequenos partidos são dominados por mercenários políticos, que vendem até a alma, em troca de uma “boquinha” no governo de plantão. O PMDB, que poderia ser o maior partido de oposição neste país, preferiu não desperdiçar as próprias energias, e vive nababescamente deitado no colo do PT, e comendo na mão do Rei Lula. Mas como não há bem que dure para sempre, e nem mal que nunca se acabe, um dia chegará, em que este estado de coisas precisará ser mudado, e será. O PMDB vem engabelando o PT, desde que o Rei Lula assumiu o seu primeiro mandato. Despreparado para o cargo, achou que se poderia dirigir um país das dimensões do Brasil, na base da malandragem, da falácia, de metáforas já surradas pelo uso, e do conhecimento mundano adquirido nas rodas de amigos de farras. O PMDB, velho de guerra, bem mais antigo na praça, e dominando a arte da política rasteira, achou por bem terceirizar o PT, e viver sem grandes riscos políticos para a sua legenda. Se fizermos uma retrospectiva da aliança PT, PMDB, veremos que tudo que o PMDB planejou tirar de proveito desta união, conseguiu. Vejam que bem recentemente o Rei Lula quis escantear o Michel Temer, para colocar em seu lugar, na disputa de 2014, o governador de Pernambuco Eduardo Campos. O PMDB segurou as rédeas com mãos firmes, e fez o Rei Lula voltar atras, e até declarar publicamente que PT e PMDB estão mais unidos do que nó cego. O dia chegara, em que tudo for posto em pratos limpos, quando a mascara do Rei Lula cair, e os falsos amigos, aproveitadores, se afastarem do Rei, e ele começar a cair no ostracismo, então chegará a hora do PMDB deixar de ser coadjuvante, e passar a ser o ator principal. Não por merecimento, nem por méritos próprios, mas por ter conseguido se preservar, com a ajuda do PT, o maior (não o melhor) partido do Brasil. E ao PT, partido de um líder só, cujo personagem já está quase que com o prazo de validade vencido (vide média de vida dos brasileiros), assim que o seu líder for defenestrado, tenderá a fechar para balanço, e os seus mais conhecidos membros, partirão para a criação, individualista, de outros partidos. Como já o fizera o oportunista Kassab, e como esta tentando a outra oportunista Marina Silva. De uma coisa todos podem ter certeza: ” Os membros mais arrogantes do PT, depois que o único líder desaparecer, jamais conseguirão reviver os momentos de glória (ainda que aparente), que tiveram durante o reinado, maléfico ao povo brasileiro, do Rei Lula. Quem viver, verá.
Antonio Passos
18/04/2016 - 22h28
Eu acho que estão todos esquecendo de que, ainda que as esperanças não sejam muitas, o STF não morreu. Temer está nas mãos de Marco Aurélio e isso pode virar o jogo de cabeça pra baixo. Ainda há julgamentos pendentes. Quem sabe se o supremo não toma VERGONHA NA CARA e recoloca o Brasil entre os países civilizados ? Só o STF pode derrubar aquele circo de horrores da câmara, que jogou o país na lixeira da civilização. Ainda resta um fio de esperança.
Alexandre Moreira
19/04/2016 - 00h25
Basta o STF dizer o que todos queremos saber: foi cometido crime de responsabilidade ou não? É o que precisamos saber para definir qual combate vamos combater, um impeachment ou um golpe. Pelo que vejo nas ruas, não nos falta disposição.