Em SP, músicos se unem contra o golpe

Foto: Mídia NINJA

Em SP, impeachment catalisa músicos em nome da democracia

Na Brasileiros

Desde o último domingo (10), o Largo da Batata, no bairro de Pinheiros, zona oeste de São Paulo, tem sido palco do festival Música Pela Democracia. O evento, que será encerrado no próximo domingo (17), dia da votação do processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff na Câmera dos Deputados, tem grade diária variável de 8 a 12 horas e reúne apresentações de mais de 70 artistas.

Sem a defesa explícita de Dilma, mas idealizado a partir do consenso de que o processo de impedimento de seu mandato fere o Estado Democrático de Direito, o festival foi criado pelos grupos Coletivo Arrua e Produtores SP, em parceria com Audiovisual Pela Democracia SP, Arte Pela Democracia, Recheio Digital, Via TV, MTST e Coletivo A Batata Precisa de Você, com apoio da Frente Brasil Popular, Povo Sem Medo, Hostel Garoa e Bar Tiquim.

Entre os artistas que aderiram ao Música Pela Democracia, estão representantes de diversas regiões do País, como Anelis Assumpção, Chico César, Tulipa Ruiz, Lucas Santtana, Meno Del Picchia, BNegão, Maurício Pereira, Curumin, Saulo Duarte e a Unidade, Rafael Castro, Bixiga 70, Bárbara Eugênia, Tiê, Márcia Castro, Edgard Scandurra e Silvia Tape, Guizado, Naná Rizzini, Felipe Cordeiro, Banda Eddie, Aláfia, Rashid, Lirinha, Guilherme Kastrup, DJ Craca e MC Dani Nega e o rapper Black Alien, que apresentou-se na última terça-feira (13) ao lado de KL Jay, DJ do Racionais MCs.

Além dos shows, o evento também oferece atrações de dança, discotecagens, nos intervalos das apresentações, oficinas, picnics e debates, como o que reuniu a cantora Anelis Assumpção, a atriz Letícia Sabatella, os jornalistas Juca Kfouri e Leonardo Sakamoto e Guilherme Boulos, coordenador nacional do MTST – Movimento dos Trabalhadores Sem Teto.

“O ódio, a intolerância, o preconceito e o golpismo não nos representam. Queremos uma democracia com mais amor e pluralidade. Nossa luta é pela defesa dos direitos de ir e vir, de livre expressão, de livre manifestação, de livre organização; pelo direito à diferença e à pluralidade; pelo direito à cidade e à participação, contra todas as formas de racismo, machismo, xenofobia, contra todas as formas de opressão e preconceito”, diz o comunicado divulgado no lançamento do festival que, em paralelo à sua realização, também deu início ao Ocupa a Democracia, ação inspirada nos movimentos mundiais que tiveram início com a Primavera Árabe e tornaram-se notórios após o Occupy Wall Street. “Das muitas mobilizações e revoltas que estouraram no mundo a partir de 2011, nasceu uma grande manifestação mundial por uma Democracia Real. Agora é a nossa vez! A democracia no Brasil ainda é muito jovem e precisa amadurecer”, afirmam os organizadores.

Para o compositor e poeta pernambucano Lirinha, por trás da ofensiva oposicionista há o interesse oligárquico de estancar os avanços sociais e democráticos da última década. “Estou vindo do sertão, da beira do rio São Francisco, passando por esse momento dos mais difíceis e o que sinto é a caminhada em uma vereda de injustiças baseada em devolver o poder para grupos que sempre oprimiram a força dessa nação. Por trás da raiva de um partido político, por trás do ódio a um ex-presidente também está o ódio às conquistas das liberdades, a raiva dos movimentos de periferia, dos movimentos negros e certo asco pela discussão da diversidade sexual, da diversidade intelectual e musical. Sinto que o momento é muito delicado, que é preciso força para passar dele e saber que algumas coisas, que nos deixarão tristes, acontecerão, mas por esse amor ao País vamos seguir em frente, denunciando o golpe que está sendo engendrado, articulado nas altas torres, nas coberturas de nosso querido Brasil”, disse Lirinha em entrevista ao coletivo de mídia independente Jornalistas Livres, antes de se apresentar no Largo da Batata na noite de ontem (14).

Produtor de dezenas de trabalhos fonográficos, entre eles o celebrado A Mulher do Fim do Mundo, mais recente álbum da cantora Elza Soares, o percussionista Guilherme Kastrup observa interesses manipulados por atores que estão além das fronteiras do País.  “Esse golpe tem uma conta simples. Reduz os direitos dos trabalhadores e vende-se o Pré-Sal e a soberania brasileira às multinacionais e ao poder financeiro. O ‘troquinho’ (de alguns milhões de dólares) vai para as contas dos deputados e senadores na Suíça. Depois calam o povo na base da porrada! Esse é o plano”, diz Kastrup.

Na noite de ontem (14), a big-band paulistana Bixiga 70 encerrou as apresentações do quinto dia do festival Música Pela Democracia. Tecladista, guitarrista e um dos compositores do grupo, Maurício Fleury manifestou opinião análoga à de Lirinha. “É triste termos que lutar contra o retrocesso e não por um verdadeiro progresso, mas não dá pra ficar ao lado de corruptos que têm como intenção revogar direitos adquiridos com muita luta e que ainda não estão nem perto do ideal de uma sociedade sadia. Estaremos do lado do povo sempre, independentemente de partidos ou instituições, acreditando apenas na liberdade, no respeito e na coletividade! Não vai ter golpe!”

 

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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