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(Crédito da Foto: Flickr do Mídia Ninja).
Análise Diária de Conjuntura – 14/04/2016
A contabilidade do impeachment oscila de jornal para jornal, de partido para partido. A Globo, núcleo central do golpe, abusa do terror psicológico e já dá 342 votos em favor do impeachment. Folha e Estadão, dão menos. O Estadão, por exemplo, que é um dos jornais mais histérico em prol do golpe, contabiliza 333 votos pró-impeachment.
O governo jura que já tem mais de 200 votos contra o impeachment: precisa de 172 para barrá-lo. Analistas de Brasília dizem que os números são todos fantasiosos porque haverá um festival de traições de ambos os lados. Ou mesmo porque os deputados não estão falando a verdade, sobretudo para a mídia, com medo de represálias.
Na Folha, reportagem diz que Lula organizou uma frente parlamentar antigolpe que já conta com 185 assinaturas, mais do que suficiente para barrar o impeachment.
A única certeza no momento é que teremos uma votação apertada, com clima de final de Copa do Mundo, o que é extremamente perigoso, em se tratando de política. [/s2If]
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Os golpistas foram longe de mais em sua irresponsabilidade.
O impeachment, como era de se esperar de um processo liderado por Eduardo Cunha, atropelou ritos, avançou com urgência quase desesperada, negou tempo à defesa, e incendiou o país.
Politicamente, os golpistas sofreram a maior derrota de todas. A de narrativa. Um impeachment, para dar certo, como aconteceu com Collor, deveria ser consensual na sociedade.
Definitivamente não é o caso.
O Brasil nunca viveu momentos políticos tão intensos. Provavelmente, testemunhamos um quadro de mobilização bem maior do que o da Diretas Já.
A direita golpista consegue pôr pessoas na rua num domingo de sol, após 3 ou 4 meses de preparação.
A esquerda tem colocado gente nas ruas todos os dias. Tem organizado debates e manifestos em praticamente todas as cidades brasileiras.
O golpismo não tem condições políticas de organizar um debate. Como pretende ser um movimento político legítimo desta maneira?
A democracia está reagindo com uma força surpreendente, se consideramos a péssima conjuntura econômica e política por que passa o país.
No Estadão, Sergio Moro fala em encerrar a Lava Jato até o fim do ano. É uma sinalização ao golpe: cumpri minha missão, incendiei o país, destruí a economia, prejudiquei Lula e fiz o máximo que pude para derrubar o governo, agora é com vocês.
A Lava Jato foi irresponsável porque produziu uma jurisprudência semifascista, em que se prende a pessoa para depois investigar. Conduz-se coercitivamente sem necessidade alguma a não ser a da humilhação pública, abuso de autoridade e demonstração de força.
Como todo fascismo, flerta com a demagogia: é a forma com que a direita tenta seduzir classe média e pobres. Pela primeira vez estamos prendendo ricos – é o mote, que nem Lula consegue rebater. Mas a forma como os ricos foram presos lembra exatamente a prisão dos pobres, sem investigação, sem processo, sem sentença. Ou seja, ao invés de avanços na esfera penal, levando aos pobres direitos que antes eram reservados aos pobres, a Lava Jato leva aos ricos os arbítrios dos quais apenas pobres eram vítimas. E todos batem palma por esta bizarra democratização da barbárie.
Claro, não são todos os ricos. São apenas meia dúzia, escolhidos a dedo para compor o rol de vilões ricos da novela da Globo, aliados que são do PT na medida em que doaram dinheiro para suas campanhas. O fato destes mesmos “vilões” terem doado ainda mais dinheiro para os adversários do PT não vem ao caso.
Entretanto, os golpistas perderam o controle da narrativa. A direita não tem lideranças. Michel Temer? Quem respeita Michel Temer? Que multidões ele arrasta? Eduardo Cunha? Somente a Globo o trata com respeito.
Impeachment sem crime de responsabilidade é golpe. E o relatório da comissão do impeachment não poderia ser melhor para o governo. É um documento histórico, como apontou o ministro da AGU, José Eduardo Cardozo, que inocenta Dilma Rousseff. É a prova de que é um golpe. Num certo trecho, sem conseguir provar nada, fala em dúvida sobre a culpabilidade de Dilma, invertendo o princípio democrático das leis modernas, in dubio pro reu. Na dúvida, derrube-se um governo eleito com 54 milhões de votos.
Aécio Neves é linchado até mesmo das manifestações que ele mesmo convoca. Lula é ovacionado por milhares e milhares de pessoas, em São Paulo, Fortaleza, Rio, Recife.
Eu fico pensando no PPS, no PSB, partidos forjados nas ideias socialistas. O que pensariam seus fundadores se vissem estas legendas apoiando um golpe que é defendido nas ruas por hordas de fascistas, que não podem ver uma pessoa de camisa vermelha?
A Globo, por sua vez, nunca esteve tão desmoralizada. Audiência em queda, ela aposta todas as suas fichas no golpe. Independente do resultado, ela sairá inteiramente chamuscada. Ela e todo o sistema de comunicação golpista do qual a Globo é a cabeça.
As movimentações geopolíticas agora ficaram mais claras. O “vazamento” dos Panamá Papers, controlado por uma organização política fingidamente jornalística, na verdade financiada por corporações e governo americanos, revelam que o modus operandi de vazamentos seletivos será a nova arma da política imperialista, associada a montagem de um sistema de justiça internacional igualmente controlado por meia dúzia de países centrais.
O procurador chefe da Lava Jato, em meio ao incêndio político gerado no Brasil por suas irresponsabilidades, estava há poucos dias nos Estados Unidos, puxando o saco de uma acadêmica norte-americana, que ele chama de uma das maiores especialistas em combate à corrupção no mundo. Pois bem, e onde estava esta senhora quando os Estados Unidos destruíram metade do oriente médio, apenas para dar espaço às suas empreiteiras – as mesmas que bancam as campanhas eleitorais nos Estados Unidos. E tudo sem licitação!
A Lava Jato é uma operação golpista, entreguista e comandada por vira-latas, que idolatram os EUA não por suas virtudes, por sua história de lutas sociais e sindicais, pela defesa que os EUA sempre fizeram de suas empresas, pela preocupação dos americanos com o nível de emprego (tanto que o Banco Central deles preocupa-se mais com emprego do que com inflação) – os procuradores idolatram os EUA por seus vícios, por suas agressões a outros países, inclusive democracias amigas, como O Brasil.
Toda a força-tarefa da Lava Jato deveria estar presa e condenada a longos anos de cadeia pelo crime histórico que cometeram ao destruir ou tentar destruir (o processo ainda está em curso) toda uma cadeia de indústrias ligadas à construção civil, ao petróleo e à infra-estrutura.
Não tenho nenhuma simpatia pelas empresas destruídas. Sei que elas tem enormes problemas, de corrupção, de agressão ao meio ambiente, de formação de cartel. Para isso, porém, é que existe o Estado, para regulamentar, supervisionar, orientar, as empresas de um país a andarem na linha.
Essas empresas, afinal, tem função social e integram um ecossistema econômico que nunca poderia ter sido abalado de maneira tão irresponsável.
A única explicação é que a força-tarefa da Lava Jato, com chancela da Procuradoria Geral da União, sempre teve a intenção de produzir crise econômica, paralisar obras de infra-estrutura, com objetivo partidário e político, de enfraquecer o governo e preparar o terreno para uma ruptura institucional.
Intervenções anticorrupção em empresas estratégicas precisam ser cirúrgicas. E a prisão tem de ser a etapa final de um processo de investigação, e não o seu início, como tem feito a Lava Jato. Empresas e residências foram invadidas pela Polícia Federal sem objetivo definido: procurava-se alguma coisa que se pudesse jogar na imprensa, para enlamear reputações de pessoas e companhias.
Sempre foi mais importante condenar primeiro na opinião pública do que no judiciário.
Daí as principais empresas de engenharia do país perderam o nome próprio e passaram a ser tratadas como “empresas da Lava Jato”, o que seria como tratar, para sempre, as grandes empresas por trás da construção dos metrôs de São Paulo e Distrito Federal como “empresas do trensalão”.
Eu acredito que o impeachment será derrotado no domingo, em votação apertada, mas me parece claro que os golpistas brasileiros se tornaram uma organização terrorista, disposta a destruir o país para cumprir seus objetivos políticos, de maneira que poderemos viver ainda alguns anos de instabilidade política.
Nada, porém, que duas ou três eleições presidenciais não resolvam.
Em relação às teorias de conspiração, ligadas às interpretações geopolíticas da crise, teremos que conviver com elas a partir de agora, porque elas são uma característica do nosso tempo: hoje temos acesso a um volume gigante de informações, mentirosas, verdadeiras ou semiverdadeiras. Essas informações nos forçam a manter o pé fincado no chão, desconfiados de tudo, mas também abertos a todas as teorias.
É um tempo extremamente difícil por causa dessa avalanche de informações. Muito mais confortável, portanto, engolir a pílula azul da mídia tradicional e deixar que ãncoras e colunistas pensem por você: o que te levará a integrar esse numeroso, melancólico e raivoso exército de zumbis midiáticos.
Felizmente, cada vez mais gente escolhe pensar com sua própria cabeça. Não é fácil, mas sempre é possível escolher a pílula vermelha e tomar consciência do pesadelo da realidade: é um mundo sem santos, sem divisões moralistas radicais, onde a política é costumeiramente corrupta e, por isso mesmo, deve ser vigiada de perto pela população.
Mas é o único mundo no qual a democracia pode respirar com liberdade e prosperar.
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