Segundo Juliano Torres, um dos líderes da ONG que financia o MBL, chamada Students for Liberty, os movimentos pró-impeachment se aproveitaram da impopularidade do PT e do governo Dilma, para espalhar a ideologia pró-mercado através de uma pauta comum, que é o impeachment
no Democratize
Em entrevista para o site da rádio estrangeira Public Radio International em março deste ano, membros do Movimento Brasil Livre e de sua organização fundadora no Brasil, que é a ONG estrangeira Students for Liberty, deixaram bem clara a sua intenção: usar o impeachment da presidenta Dilma Rousseff para fazer surgir um movimento ‘libertário’ no Brasil, que possibilite a desregulamentação da economia brasileira, a partir de privatizações e cortes de gastos públicos.
A reportagem, escrita pela jornalista Catherine Osborn, apresenta o MBL como criado e financiado pela Students for Liberty, que segundo a jornalista “recebem dezenas de milhares de dólares em financiamento nos últimos cinco anos a partir de fontes americanas, como a Fundação John Templeton e a Fundação Koch, grupo apoiado pelo bilionário conhecido por apoiar causas de extrema-direita”.
A PRI ainda aponta que o Brasil é conhecido por adotar em seu modelo econômico uma espécie de bem-estar social: com o sistema de saúde universal e muitas empresas importantes sendo estatais.
A jornalista conversou com o economista Bernardo Santoro, que segundo informa o texto, faz parte do Students for Liberty no Brasil. O economista relata que em 2012, participou de um evento no Rio de Janeiro organizado pela Atlas Network?—?outra organização que financia as atividades do MBL no Brasil. Na época, foi debatido qual seria o futuro do ‘libertarianismo’ no Brasil, com questionamentos sobre “como fazer essas ideias e esse movimento crescerem no país”. Santoro também é vice-presidente de Finanças do Botafogo, clube de futebol carioca, além de Diretor do Instituto Liberal.
Quatro anos depois, após uma verdadeira descarga de financiamento estrangeiro nessas organizações e movimentos no Brasil, a situação é bem diferente. Segundo Juliano Torres, um dos líderes da Students for Liberty no Brasil, os membros que mais se destacam recebem “materiais de formação” sobre como planejar eventos, arrecadar dinheiro, e falar em público. O mais conhecido membro do MBL, Kim Kataguiri, chegou a passar por esse “curso” pela organização. Inclusive, Kataguiri chegou a participar de uma viagem para “treinamento” nos Estados Unidos junto com outros membros da organização.
Até o momento, poucos meios de comunicação relacionavam o MBL com outro movimento pró-impeachment, o Vem pra Rua. Mas segundo reportagem da Public Radio International, vários ex-membros da Students for Liberty no Brasil participaram ativamente na fundação do Vem pra Rua?—?inclusive com financiamento.
A reportagem afirma que “desde março do ano passado (2015), o Movimento Brasil Livre tem tentado aumentar a pressão para começar o impeachment em favor de um presidente mais pró-negócios”.
Recentemente, o PMDB do vice-presidente Michel Temer, maior interessado pelo impeachment, anunciou o que seria um pacote de propostas para o país. Nela, estão várias medidas relacionadas ao quadro econômico brasileiro, como o corte de gastos públicos, a revisão de programas sociais como o Minha Casa Minha Vida e o Bolsa Família, além de uma série de privatizações que “seriam necessárias” para encaminhar o crescimento da economia nacional.
O Students for Liberty no Brasil, segundo afirma a jornalista do PRI, “colocou orgulhosamente os protestos anti-goberno em seu último relatório trimestral de 2015”. Em outras entrevistas, os membros do MBL negam a participação ativa da Students for Liberty tanto nas finanças quanto nas decisões do movimento?—?o que parece não ocorrer de fato, já que não existe a menor transparência no caixa da organização, com valores e nomes de doadores. Em entrevista na Folha na semana passada, Kataguiri afirmou que isso ocorre para “preservar a pessoa que investe”, por conta do “perigo” de retaliação por parte do governo Dilma?—?o que é, na realidade, um argumento completamente falso na tentativa de se esquivar dos verdadeiros financiadores do grupo.
“O que está acontecendo agora no Brasil, queremos aprender e queremos descobrir como tirar suas melhores práticas para implementar em outros lugares”, disse ao PRI o coordenador do Students for Liberty em Washington DC, o norte-americano Sam Teixeira.
Para Sam, quanto mais impopular for o governo em um país subdesenvolvido, “mais fácil defender a abertura dos mercados como uma solução”.
Em nenhum momento da reportagem a palavra “corrupção” foi citada pelos entrevistados. Pelo contrário. A desregulamentação do mercado foi abordada como objetivo principal das manifestações pró-impeachment, encabeçadas pelo MBL e Vem pra Rua. Ou seja, tais movimentos utilizam de uma pauta em comum e de fácil aceitação para atingir seu objetivo?—?que é aplicar medidas de direita na economia, viabilizando menor regulamentação do Estado.
Encerrando a reportagem, o site estrangeiro ainda conversou com o colunista da Folha de S. Paulo, Celso Barros, que afirmou que “a maioria dos brasileiros nunca votaria em políticas ‘libertárias’, pois tudo o que você precisa fazer é caminhar pela favela mais próxima para saber que estamos longe de qualquer espécie de meritocracia no Brasil”.
Portanto, qual melhor forma de aplicar medidas neoliberais no país em questão? Se não pelo voto, então pelo impeachment. Pelo voto indireto de deputados federais e senadores, os maiores interessados na possibilidade de um governo menos produtivo e efetivo na regulamentação da economia, abrindo espaço para o financiamento privado de campanha, e outros aspectos dessa “agenda positiva” defendida por eles.
Não por acaso, o Students for Liberty conta com uma forte atuação em outros 2 países subdesenvolvidos: Venezuela e Ucrânia. Apesar de distantes um do outro, ambos contam com uma coisa em comum, que é a situação política caótica, com manifestações e violência contra governos que se negam a aplicar medidas pró-mercado?—?como foi o caso da Ucrânia em 2013/14, quando se negou a participar efetivamente da União Europeia.
Pelo jeito, no Brasil, deu certo.