Charge: Vitor Teixeira
por Theófilo Rodrigues
Na semana passada a Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária (CNA) anunciou publicamente aquilo que muitos já desconfiavam há algum tempo: o apoio da entidade ao impeachment da presidenta Dilma Rousseff.
Com a decisão da CNA surgiu no ar uma impressão generalizada de que a ministra da agricultura Katia Abreu estaria “pendurada na brocha”. Ora, a base social de Katia é justamente o agronegócio e sua entrada no governo federal representou justamente o apogeu do casamento entre Dilma e o agronegócio no país.
A aliança gerou críticas por parte dos movimentos sociais em geral e do MST e da Contag em particular, mas fazia sentido na medida em que trazia para a base governista centenas de parlamentares. Contudo, sem essa base social sustentando o governo, qual seria o papel da ministra em Brasília?
Para entendermos que função Katia ainda tem a cumprir no governo federal é necessário termos em mãos alguns números. De um lado busquei a lista disponível no sítio da Câmara com os nomes de todos os deputados que assinaram a criação da Frente Parlamentar Mista do Agronegócio. São 204 deputados que conformam a conhecida “bancada ruralista”. Do outro lado mesclei as listas do Mapa da Democracia e do Mapa do Estadão que mantém atualizados os posicionamentos dos parlamentares em relação ao impeachment.
A simples comparação nos indica o seguinte: dos 204 membros da bancada ruralista, 138 querem o impeachment, 26 são contra e 40 estão indecisos.
Dos 26 contra o impeachment, 6 são do PT e 3 são do PDT, partidos que já estão fechados com o governo.
Dos 3 do PMDB, partido da ministra, apenas um pode ser considerado influenciado por Katia Abreu: o deputado do Mato Grosso Valtenir Pereira. Os outros dois, Leonardo Picciani e Elcione Barbalho, são fiéis ao governo por caminhos próprios.
No PSD apenas Irajá Abreu, filho de Katia, pode ser considerado de sua área de influência. Os outros dois, Paulo Magalhães na Bahia e Domingos Neto no Ceará possuem relações com o governo federal por intermédio dos governadores de seus estados.
O mesmo ocorre no PR onde Aelton Freitas, José Carlos Araújo e José Rocha apoiam Dilma pelas relações que mantém com os governadores de seus estados. Por ser de Tocantins, mesmo estado da ministra, Vicentinho Jr provavelmente faz parte de sua base de sustentação.
Também do Tocantins, portanto, sob influência de Katia, é o deputado do PP Lázaro Botelho. Seus outros dois correligionários, Nelson Meurer e Ricardo Barros, são do Paraná e estiveram envolvidos em investigações da Lava Jato.
Paes Landim do PTB pode ser considerado um aliado de Katia Abreu. Já Givaldo Carimbão do PHS negociou seu apoio diretamente com o governo.
Em síntese, a manutenção de Katia Abreu no Ministério da Agricultura significa na prática o apoio de apenas 5 deputados na Câmara. Um custo exacerbado para um governo sustentado nas ruas pelos movimentos sociais. Ou a ministra consegue trazer mais alguns dos 40 que ainda estão indecisos, ou seu passe terá sido caro demais.
Theófilo Rodrigues é cientista político.