Armínio se repete como farsa. Por Tadeu Porto

por Tadeu Porto, colunista do Cafezinho

Era 28 de agosto de 2014 quando eu assitia o debate para presidenciáveis, na Band, apreensivo: Marina continuava “na cola” da presidenta Dilma e o segundo turno era fato consolidado.

Quando, ao final de debate, Aécio utiliza das suas considerações finais para anunciar o Armínio Fraga, presidente do Banco Central no segundo mandato (desastroso) do FHC, como seu futuro Ministro da Fazenda.

Ri alto, na hora.

Logo depois, comemorei como um gol do Galo esse anúncio por pensar que o senador mineiro não conseguiria defender um ministro com resultados pífios e medíocres como do banqueiro Fraga, o que facilitaria, enfim, a exclusão tucana da disputa polarizada do executivo federal. Mas estava errado, claro, e não foi bem assim que a banda tocou no resto do pleito, que quase contou com a vitoria do amigo do Luciano Huck (apesar da selfie).

Bom, pela análise fria dos fatos escalar o Ministro de maneira precoce foi uma jogada ruim para a eleição do Aécio (pois ele perdeu) e, inclusive, foi um ponto destacado pelo ex-marqueteiro do tucano, Renato Pereira, que classificou o episódio como um dos principais erros da campanha.

Mas o tempo mostra que, provavelmente, Aécio não teve muita escolha e pensando que saiu de uma possível exclusão do segundo turno para uma quase vitória, a jogada não foi tão ruim assim.

Qual seria o trunfo, então, de contar com um tamanho estorvo nas conquistas de votos?

O próprio ex-governador admitiu, em sua primeira entrevista pós-derrota à Globo News, que o anúncio do ex-presidente do BC foi, na verdade, uma necessidade de momento pois estava “no seu patamar mais baixo das intenções de votos, quase fora da disputa”.

E foi ali, naquela resposta ao Roberto D’Avila, que minha ficha caiu: a sinalização do Aécio não era pra população e sim pro dinheiro de campanha que a Marina — naquela hora já parecendo uma opção da direita apesar do seu passado – drenou do empresariado. Armínio, portanto, nunca representara o voto democrático do povo, mas sim a influência dos empresários que jorrariam dinheiro nas campanhas (e, quem sabe, até comprariam uns patos amarelos infláveis).

O homem da taxa de juros de 45% é isso: garantia de uma política direcionada ao capital do mercado privado. Portanto, não me surpreende, apesar de me assustar, que Temer o tenha escalado para o seu golpe parlamentar.

Não é surpresa pois de um rato como o vice presidente decorativo podemos esperar qualquer coisa. E é assustador pois os votos que vão definir o golpe não são os populares, disputado em debates nas ruas e nas mídias sociais, mas sim de deputadxs e senadorxs que se importam muito mais com seus bolsos cheios e privilégios mantidos, inclusive para financiar as próprias campanhas daqui para frente.

Fraga, assim, é convocado quase dois anos depois de ser barrado por um projeto progressista e de esquerda, negligenciado no pós-eleição, que o derrotou com louvor numa disputa ideológica eleitoral, aberta e diversificada.  Ademais, ele representa a agenda moribunda do financiamento empresarial de campanha, inconstitucional por distorcer nossa democracia, que tenta sobreviver no submundo da chantagem e das ameaças, bem representadas pelo presidente da câmara dos deputados, Eduardo Cunha, o operador do golpe.

Armínio foi uma tragédia. O homem com a cara do FMI, dos juros abusivos e dos bancos privados (já que ele não sabe o que vai sobrar dos públicos).

E tá aí, tranquilo, pronto pra servir ao golpe e doidinho da silva para virar uma farsa.

Tadeu Porto é Diretor do Sindicato dos Petroleiros do Norte Fluminense (Sindipetro-NF)

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