Foto: Reprodução / TV Globo
Mais de 60 mil pessoas lotaram a Lapa, no Rio de Janeiro, para ouvir o ex-presidente Lula durante ato da “Cultura a Favor da Democracia”
A direita vai querer enfrentar as ruas?
por Emir Sader, na Rede Brasil Atual
Se o Congresso fosse minimamente o espelho da opinião das pessoas, o impeachment estaria derrotado já na comissão. Mas, como se viu nas discussões, não é assim que a coisa funciona em um Congresso eleito pelo poder do dinheiro e povoado de lobbies que os representam, em lugar de representar a cidadania e ser o espelho da sociedade.
O consenso nas ruas mudou radicalmente, das palavras de ordem contra Dilma, pelo “não vai ter golpe”, refletindo as maiores mobilizações populares que o país viveu, desde a campanha das diretas.
Resta saber que efeito terá a força das ruas diante da impermeabilidade deste Congresso.
Podemos dizer que a direita está derrotada moralmente. Perdeu o discurso, seus representantes não falam mais; perdeu capacidade de mobilização, seus líderes estão abertamente comprometidos com corrupção. Mas isso acontecia na campanha das Diretas que, apesar do imenso apoio popular e do discurso irrefutável, não conseguiu 2/3 de votos o Congresso e foi derrotada politicamente.
Não basta derrotar moralmente a direita, é preciso traduzir essa vitória moral em vitória politica.
A derrota da direita pode vir pela sua incapacidade de obter os 2/3 de votos pelo impeachment na Câmara. Será a derrota política que pode abrir caminho à reconstrução de um modelo de desenvolvimento econômico com distribuição de renda. Ela será seguida pela formação de um novo governo, pela derrota dos partidos de direita e da mídia golpista e, provavelmente, também, pelo fim da carreira politica de Eduardo Cunha.
Mas, como se comportará a direita nos próximos dias? Fará de tudo para tentar impedir sua derrota no plenário da Câmara, pela ação conjunta de Eduardo Cunha, Moro, Janot, Gilmar, de todos os que têm agido politicamente a favor do golpe.
Se chegar a ter os 2/3 de votos no plenário, vai se atrever a direita a seguir adiante e enfrentar não apenas a voz, mas também a ira das ruas? Se atreverá a aplicar o nefasto programa do PMDB, que é uma antologia do que de mais conservador existe hoje no Brasil?
A direita, nos seus vários segmentos, se jogou com tudo pelo golpe, tanto os partidos, como a mídia. Caso seja derrotada, tentará não se dar por vencida. Eduardo Cunha, enquanto sobreviva, tentará apresentar outras propostas de impeachment. A mídia apostará nos processos no TSE. Enquanto isso, tratarão de manter o clima de pessimismo e de ingovernabilidade, tentando atingir a figura do Lula, coordenador do novo governo.
O certo é que, depois desta crise, o Brasil não será igual. Ou se somará à Argentina na restauração neoliberal ou terá que desbloquear as travas para retomar e aprofundar o projeto iniciado em 2003 e avançar no modelo de desenvolvimento econômico com distribuição de renda. Alternativas que hoje se resumem em: golpe ou vitória da democracia.