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Frei Betto: Brasil corre o risco de passar do Estado de Direito para o Estado da direita

De Emanuel Colombari, no UOL: PT só se lembrou dos movimentos sociais na hora de apagar incêndios, diz Frei Betto Frei Betto foi um dos primeiros nomes de destaque dos governos do PT. Escolhido para coordenar a Mobilização Social do programa Fome Zero, um dos pilares sociais do partido desde 2003, o escritor ocupou o […]

12 comentários
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De Emanuel Colombari, no UOL:

PT só se lembrou dos movimentos sociais na hora de apagar incêndios, diz Frei Betto

Frei Betto foi um dos primeiros nomes de destaque dos governos do PT. Escolhido para coordenar a Mobilização Social do programa Fome Zero, um dos pilares sociais do partido desde 2003, o escritor ocupou o cargo de assessor especial do ex-presidente Lula entre 2003 e 2004.

O religioso, porém, durou pouco no governo. Já em 2004, insatisfeito com as alianças feitas entre partido e mercado financeiro, afastou-se. Desde então, tornou-se um crítico das Presidências de Lula e Dilma, cobrando uma maior pauta social nos governos petistas.

Em entrevista por e-mail ao UOL, Frei Betto diz que o PT precisa “fazer uma séria autocrítica” e “tentar recuperar seus três capitais simbólicos perdidos”: a classe trabalhadora, a ética e as reformas estruturais.

Para Frei Betto, é fundamental que as manifestações populares que eclodem pelo Brasil desde 2013 apresentem também propostas. Segundo ele, o volume de críticas sem uma contrapartida política pode criar um perigoso vácuo de poder.

“Sem proposta alternativa ao que está aí, fundada em programa consistente de reformas estruturais, o Brasil não tem futuro, exceto o risco de passar do Estado de Direito para o ‘Estado da direita'”, avalia.

Mesmo diante das críticas que faz ao segundo governo de Dilma Rousseff, Frei Betto é contrário à renúncia da presidente ou à proposta de novas eleições – para ele, “se [o PT] aceitar antecipar novas eleições estará, de fato, renunciando”.

“Qualquer interrupção do mandato da presidente é golpe branco, como já ocorreu em Honduras e Paraguai. E, se o governo não completar seu mandato até 2018, abriremos um precedente que favorecerá, em mandatos futuros, permanente instabilidade política”, afirmou.

UOL – O ex-presidente Lula pode assumir a vaga de ministro-chefe da Casa Civil do governo Dilma. Como o senhor vê este fato? Acha que ele funciona como uma espécie de “salvador da pátria”, podendo reverter o quadro pró-impeachment?
Frei Betto – Não penso que Lula foi chamado em função da possibilidade de impeachment. O governo Dilma está sem rumo e Lula, devido ao êxito de seus dois mandatos, foi convocado para tentar salvá-lo. Por outro lado, como tem muita habilidade política e de negociação – o que falta a Dilma – sem dúvida ele já contribui para evitar o impeachment. Ainda que não lhe permitam virar ministro, ele passa a ser, de fato, o primeiro-ministro…

Diante das opções cogitadas pela oposição ao governo Dilma, como impeachment, renúncia e novas eleições, o que o senhor avalia como o mais provável? Qual o impacto disso na situação política do Brasil até 2018?
Entre as vozes das ruas e as das urnas, fico com as últimas. Embora crítico do governo Dilma, sobretudo pelo excessivo ônus do ajuste fiscal sobre o segmento mais pobre da população, julgo que qualquer interrupção do mandato da presidente é golpe branco, como já ocorreu em Honduras [com Manuel Zelaya, em 2009] e Paraguai [Fernando Lugo, em 2012]. E, se o governo não completar seu mandato até 2018, abriremos um precedente que favorecerá, em mandatos futuros, permanente instabilidade política.

O senador Aécio Neves considerou “utópica” essa ideia de novas eleições. Dilma chegou a dizer que precisaria primeiro convencer o Congresso. O senhor acha a proposta factível?
Dilma diz e repete que não renuncia. Ora, se aceitar antecipar novas eleições estará, de fato, renunciando. E isso significará um reconhecimento público, por parte do PT, de que ele fracassou na condução deste país. O governo tem ainda dois anos e oito meses pela frente. Se o PT fizesse autocrítica e redefinisse os rumos do governo, implementando reformas estruturais que sempre prometeu e nunca realizou, o mandato da Dilma e a credibilidade do partido ainda teriam esperança de recuperação.

O senador Cristovam Buarque defende que seria bom para o PT voltar a ser oposição. O senhor também acredita nesta avaliação?

Desde que Caim matou Abel, ninguém quer largar o osso do poder. Vide o PMDB: consegue a proeza de manter um pé no governo e o outro na oposição… Assim, tenta garantir o presente e o futuro. O PT só voltará à oposição se assim exigirem as urnas.

A imagem do PT com o eleitorado sofreu um considerável desgaste diante dos escândalos mais recentes. O senhor imagina a possibilidade de uma recuperação do partido?
Às vezes tenho a impressão de que a ficha do estrago até agora não caiu para o PT. Seus dirigentes presos, são culpados ou inocentes na opinião do partido? A política econômica do governo é de Dilma ou do partido? Como sugerem Tarso Genro e Olívio Dutra, o PT precisa, urgentemente, fazer uma séria autocrítica. E tentar recuperar seus três capitais simbólicos perdidos: ser o partido de organização da classe trabalhadora, ser o partido da ética e ser o partido das reformas estruturais do Brasil. Fora disso, o PT estará condenado a integrar a geleia geral da estrutura partidária brasileira.

O PMDB apoiou oficialmente o governo federal por 13 anos, antes de anunciar seu rompimento neste ano. Como o senhor vê o futuro do partido?
O PMDB é o único partido com futuro garantido nessa institucionalidade política viciada por fisiologismo, nepotismo e corrupção. Se ficar, o bicho toma posse; se correr, assume o poder… Enquanto não houver uma séria reforma política, o PMDB será o grande fiel da balança desse circo chamado Congresso Nacional brasileiro.

A esperada ‘guinada à esquerda’ do PT ainda é alcançável? Ainda é possível uma conciliação do partido com uma pauta mais ligada a movimentos sociais?
Julgo que é muito difícil. Ao longo de 13 anos de governo, o PT só se lembrou dos movimentos sociais – que lhe deram origem – na hora de apagar incêndios. Não valorizou os movimentos sociais como valorizou os empresários; pouquíssimo fez em defesa da reforma agrária, dos povos indígenas e dos quilombolas; mantém uma carga tributária altamente prejudicial ao consumidor pobre; constrói Belo Monte e outras hidrelétricas sem respeitar as populações locais, sobretudo indígenas e ribeirinhos; aprovou um Código Florestal vergonhoso para um país que fala em preservação ambiental etc. Enfim, o PT no governo agarrou o violino com a esquerda e tocou com a direita… Embora eu considere os dois primeiros mandatos de Lula e o primeiro de Dilma os melhores de nossa história republicana.

Diante de um processo de impeachment e tantos escândalos de corrupção, qual o caminho para a esquerda brasileira se viabilizar numa próxima eleição?
Que esquerda? Cadê o trabalho de base, a formação de novos militantes, o projeto histórico? Milhões de brasileiros, desde 2013, ocupam as ruas para fazer protestos, e não para trazer propostas! Sem proposta alternativa ao que está aí, fundada em programa consistente de reformas estruturais, o Brasil não tem futuro, exceto o risco de passar do Estado de Direito para o Estado da direita.

Se Dilma conseguir evitar o impeachment, como governar com uma base tão fragilizada?
Vejo apenas uma saída: fazer o que fez Evo Morales na Bolívia, que hoje conta com o apoio do Congresso, da população e do mercado; apoiar-se em seus pilares de origem, os movimentos sociais. Fora disso, temo que queira recompor sua base política à base da receita tradicional do “toma lá, dá cá” – e não faltarão deputados federais e senadores que, no dia seguinte à reprovação da proposta de impeachment, estarão na fila do beija-mão na porta do Planalto.

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Miguel do Rosário

Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.

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Comentários

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Judy

06/06/2017 - 21h42

AFAICT you’ve coreevd all the bases with this answer!

Bruno Cortese

11/04/2016 - 18h08

Impeachment tá na Constituição. É Lei. Prevaricação, formação de quadrilha, tráfico de influência, fraude a licitação, são todos crimes tipificados pelas nossas leis. E, para o religioso, lembro do ‘Não roubarás’.

Cleber Altivo

11/04/2016 - 08h26

Frei Betto talvez não entenda que a política se faz, infelizmente, com coalizões de interesses complexos que devem ser sintetizados para se conseguir a governabilidade. Foi essa coalizão partidária que permitiu o Lula governar mas sem nunca conquistar o poder. Tem que se fazer a reforma política para que a força que conquistar o poder possa implementar seus ideais.

Danilo

10/04/2016 - 23h39

Corre o risco?? Mas já é!! Sempre foi!! Da plutocracia oligárquica, da direita cleptocrática, que assalta o Estado e o povo. Nossos aristocráticos capitalistas medievais passaram a se opor à prosperidade da classe trabalhadora e menos favorecida. Se deixar, até a escravidão volta. Elite ignara, vil, anacrônica.

Sev Rodrigues

10/04/2016 - 23h21

Se deixarmos esta Golpe passar, o Brasil sera visto como um eterno pais periferico e sera saqueado pelos piratas, empresas de fachada que virao aqui explorar, e levar nossas riquezas embora. Pois no controle do Pais ficara uma direita entreguista, rentista com os orgaos de investigacoes e controle do estado todos aparelhados. Esta gente se lixa pela nossa Soberania. Seremos desmoralizados internacionalmente. Dom Pedro bradou Independencia ou Morte. Nos devemos bradar, Democracia ou Morte. Se tirarem Dilma, eleita, e colocarem la estes pilantras, nao teremos nada a perder, senao parar o Brasil de vez. Nao vamos aceitar estes bandidos tirar uma Presidente que nao cometeu crime algum. Eles sao bandidos, nem este relatorio falso de impitim, criado as pressas, deveriamos deixar ir pra frente, todo este circo comandado por um reu do supremo. Que legitimidade tem isso? Nao poddemos aceitar. E o STF ate agora nada? Tenho certeza que se o Cunha for retirado, os mais de 200 de seus seguidores a achacadores ficarao sem rumo. NAO VAI TER GOLPE.

Antonio Passos

10/04/2016 - 23h05

É muito bonito fazer certas críticas, mas eu gostaria de lembrar que Renan, Cunha, Sarney, Aécio, Bolsonaro, Feliciano, enfim TODA a quadrilha que está no congresso também foi ELEITA PELO POVO !
Como governar fazendo beicinho para eles ?
Vai lá e mostra como se faz. Ah, então tem que fazer uma reforma política. Vai lá e mostra como se faz o congresso fazer uma reforma que vai tirá-los do poder.
Só uma constituinte exclusiva pode resolver isto, o resto é, como se diz, o luar de Paquetá.
Mas quando Dilma falou nisso levou porrada de TODO MUNDO. Ninguém apoiou.

    LUIZ MATTOS

    10/04/2016 - 23h06

    LULA a queria em 2003

LUIZ MATTOS

10/04/2016 - 22h56

Beto ultimamente vem prestando um grande serviço a direita falando mal do PT,vale lembrar que Beto apoiou as cagadas de junho de 2013 onde toda essa insanidade começou.

    Geysa Helena Dantas Guimarães

    11/04/2016 - 10h27

    Religioso oriundo da aristocracia mineira, tão astuto que, sabedor de que Lula queria um negro para o STF, indicou Joaquim Barbosa – apadrinhado da família Azeredo da Silveira, alta tucanada.

Geysa Helena Dantas Guimarães

10/04/2016 - 21h34

Ele fala sobre tudo mas não explica por que indicou a Lula o JB ou Cavalo de Troia, ao STF.

    LUIZ MATTOS

    10/04/2016 - 23h05

    Temos mais um texto para brochar a militância.

      Sev Rodrigues

      10/04/2016 - 23h25

      Do mesmo jeito que a esquerda bateu prematuramente em Dilma ja em Janeiro e Fevereiro de 2015, o momento e’ de nao se cometer o mesmo erro. E’ de se unir em prol da Democracia. Depois que estes bandidos acabarem com esta municao de impitim, vamos juntos governar o Brasil, a esquerda unida. Que aqueles de esquerda que discordem do PT, espere Junho de 2018 para sair do governo e seguir seus candidatos. Mas agora, temos que estar juntos ou a direita coloca esta mafia de volta, e nossa soberanis ira para o buraco.


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