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Lava Jato tenta salvar o golpe

No Blog do Rovai: A delação da Andrade Gutierrez é menos crível do que a fábula do Papai Noel A construtora Andrade Gutierrez fez acordo de delação premiada com os investigadores da Lavajato e relatou que houve repasse de recursos legais para a campanha de Dilma que teriam referência em comissionamento de obras. Não se […]

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No Blog do Rovai:

A delação da Andrade Gutierrez é menos crível do que a fábula do Papai Noel

A construtora Andrade Gutierrez fez acordo de delação premiada com os investigadores da Lavajato e relatou que houve repasse de recursos legais para a campanha de Dilma que teriam referência em comissionamento de obras.

Não se vai entrar aqui no mérito de se isso é verdade ou mentira.

Até porque parece evidente que essas grandes empreiteiras não doam milhões aos partidos apenas porque são republicanas e querem o fortalecimento da democracia.

Mas se tem algo que todo o mundo político e econômico sabe é que a Andrade Gutierrez sempre foi a construtura mais próxima do PSDB, em especial do senador mineiro Aécio Neves.

E até por isso ela foi a maior doadora da campanha de Aécio à presidência da República em 2014. Segundo dados do TSE, fez 322 doações para o tucano, somando mais de R$ 20 milhões.

Doou mais para Aécio do que para Dilma.

Quando Aécio era governador, a Andrade ganhou a gestão da Cemig, que lhe foi entregue a partir de um acordo de acionistas.

A Andrade Gutierrez também participou da construção da Cidade Administrativa de Minas Gerais, uma obra além de questionável repleta de escândalos.

Mas eis que a Andrade Gutierrez assina uma delação e só incrimina a campanha de Dilma Rousseff.

Ou seja, não fez um acordo de delação premiada, mas de delação seletiva.

E esse jogo de cartas marcadas já havia vazado para a imprensa há mais de um ano. Todo jornalista que vem acompanhando a Lavajato com alguma seriedade sabe que essa estratégia de delatar apenas um lado da disputa já havia sido debatida com várias empreiteiras desde que Ricardo Pessoa, da UTC, fez o primeiro acordo.

Os sócios da Andrade Gutierrez defendiam isso quase que abertamente com dois argumentos:

  1. Precisamos pensar no futuro e se a gente acabar com todos os partidos políticos agora teremos muita dificuldade de reabilitar as empresas.
  2. Aécio Neves tem um compromisso conosco de, em assumindo a presidência, reativar o setor e garantir que essas construtoras possam superar as dificuldades.

Esse discurso da Andrade Gutierrez num primeiro momento era visto com ressalvas porque advogados das empreiteiras tinham receio de que a Lavajato não aceitasse delações seletivas. Mas com o passar do tempo se percebeu que esse não seria um problema.

Outro fator que inibia acordos de outros grupos neste sentido é que eles tinham receio de que com Aécio só a Andrade Gutierrez se salvasse de fato.

O fato é que a Andrade Gutierrez é a grande construtora do coração e, pelo que se pode conferir pelas doações de 2014, também do bolso de Aécio.

E mesmo assim, sua delação contra Dilma é oferecida por toda mídia como uma verdade suprema. Sem questionamentos e sem reparos.

A Andrade Gutierrez não precisa ter vergonha do que faz, porque seu esquema era bandido e continua sendo. Ela só está “olhando pra frente”.

Os veículos de comunicação que, sem questionamento, divulgam essa versão também já deixaram de lado qualquer pingo de senso ético.

Mas no judiciário, na imprensa e na sociedade há gente melhor do que isso.

E por isso esse caso da Andrade Gutierrez precisa ser tratado como exemplo para discutir toda a Lavajato.

Se a Andrade pode fazer uma delação dessas, quanto se pode levar à sério todo o resto que já foi delatado?

Porque essa história de que ela só deu recursos ilegais para a campanha de Dilma é tão crível quanto a de que o Papai Noel é quem entrega todos os presentes do mundo na madrugada de 24 de dezembro.

Dá até para acreditar que o Papai Noel existe, mas não se pode achar que ele tem tempo de distribuir todos os presentes numa noite só.

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Miguel do Rosário

Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.

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